ʟᴇᴛ ᴍᴇ sʟᴇᴇᴘ

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⚠️ Alerta de gatilho: abuso de medicação / suicídio.

- Deixe-me Dormir.

"Hey, Jenny, eu tomei a metade do seu frasco de remédios para ajudar a dormir", não, muito sarcástico.
"Eu sou um viciado em comprimidos calmantes", não, muito direto.
"Eu estava com problemas para dormir e testei um, funcionou e acho que agora não vou mais voltar a dormir sem", não tão ruim. 

À dias eu treinava como chegar em Jenny e contar sobre as pílulas, mas nada me parecia convincente, eu repetia as frases a todo instante, uma vez cheguei a abrir a boca e pronunciar "Jenny", mas foi o mais próximo que cheguei, depois desisti e disse qualquer coisa.

"Eu quero conversar com você", foi o bordão escolhido por ela, porque se passaram duas semanas – a qual eu não arrisquei tocar em sua bolsa para não diminuir o número de pílulas restantes, eventualmente, estava a duas semanas sem ter um sono decente. Ela tomou a iniciativa, e eu a agradeci por isso.

– Tudo bem? – perguntei. 

Eu estava sentado na cama, revendo uma matéria a qual eu reescrevi nove vezes e não estavam ficando do jeito que queria, ela se sentou ao meu lado.

– Sim… – seu olhar desceu para o frasco em suas mãos, aquele frasco, – Harry…

Soltei um suspiro, senti uma tremedeira passar por baixo de meus ossos.

– Escuta, Jenny… – dei ênfase, queria que ela me interrompesse e falasse algo bonito, mas não fez, então me obriguei a continuar. – Me desculpa eu ia te contar sei que não deveria ter tomado sem sua permissão ainda mais um remédio eu não consegui dormir alguns dias atrás e então tomei e agora não posso dormir sem.

Disparei, sem vírgulas, você percebeu? E Jenny não fez questão de me calar, eu estava nervoso, primeira vez que mentir me fez me sentir mal de verdade.

– Alguns dias atrás? – Ela abriu o frasco, me olhou.

– Talvez uma semana.

Ela não disse nada, se levantou e guardou na mesma bolsa que só se moveu porque ela limpou a penteadeira algum dia desses.

– Jenny…

– Tá tudo bem. – voltou a se sentar ao meu lado – Só me prometa que irá ao médico, e que não vai mais mexer nas minhas coisas sem permissão. 

– Esta bem. – pousou sua mão no meu maxilar fazendo carinho, ela parecia perdida ao me fitar tão fundo, alguém batendo a porta lá embaixo a trouxe de volta.

– Foi sem querer! – gritou Noah.

Ultimamente ele e Jenny estavam em uma briga onde ele estava descuidado demasiadamente batendo todas as portas e ela ralhava alegando que um dia quebraria as mesmas.

– Eu ainda mato esse garoto. – e sorriu.

×××

Eu fui no médico no dia seguinte, à tarde, expliquei que nenhum chá ajudava nem outro remédio calmante, e que eu precisava daquele, igual de Jenny, mas ele rebateu, falando que a receita era forte e estava causando um certo vício em mim, essas exatas palavras, me senti ofendido, mas não havia muito o que eu pudesse fazer.

– Pensei que te daria uma receita igual, eu consultava com ele. – comentou Jenny ao analisar o novo frasco, ela mesma tirou o lacre e me entregou uma pílula. – Mas se ele receitou, é porque vai ajudar do mesmo jeito.

– Assim espero. – suspirei e engoli a pílula com auxílio de uma copo de água.

A porta, a areia, a casa e Ela.

ElaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang