sᴡɪᴛᴄʜʙʟᴀᴅᴇ, 𝟺𝟸𝟾

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Me surpreendi ao não quebrar aquela porta, tentei girar, empurrar, bati, chutei, gritei, mas nada daquela bendita abrir. Mas não desisti, nem um momento sequer parei de esmurrar o vidro, tinha consciência das horas que se passaram, fiquei com medo de tentar pelo resto da minha vida, mas então, acordei.

O despertador às nove e meia, gritando sem parar, me virei para o outro lado na esperança de alguém desligar, mas ninguém fez, levantei os olhos e Jenny não estava na cama, ou em lugar algum. 

Desliguei o despertador do silêncio era perturbado por xingamentos, desci e as crianças estavam bem quietas tomando seu café enquanto Jenny era ouvida da sala gritando ao telefone, abri a boca para perguntar o que estava acontecendo e Towns me interrompeu.

– Não fala. – e ergueu a xícara até os lábios.

A tarde chegou muito rápido, Jenny estava estressada demais com seja lá o que estava acontecendo, então nem pensei em perturbá-la, os meus sábados consistiam em ajudar Towns e Noah nos deveres da escola, o que me deixava ocupado uma boa parte da tarde, mas hoje parece que o universo está conspirando contra mim. Towns saiu com algumas amigas, e um colega de Noah estava jogando videogame no quarto com ele, o que me restou foi alguns artigos muito inúteis para ler e Jenny correndo para cima e para baixo voltando a gritar no telefone com alguém do trabalho. 

Quando ela finalizou a chamada que se iniciou às dezoito, eram vinte horas, bufou indignada, eu não prestei atenção em nenhum segundo no que gritava então estupidamente perguntei o que havia de errado me virando no encosto do sofá.

– Perdemos um parceiro importante para a empresa. – e sorriu falsamente alegre, o ódio transbordava em seus olhos, me pareceu tão familiar… – Mas que se foda! – gritou e não se importou em ter duas crianças no quarto ao lado da sala. – Eu preciso sair, Anna me convidou mais cedo, se importa de ficar com as crianças?

Em outros verões, ela apenas falava que estava saindo e Deus nos proteja se eu questionava. 

– Zero planos, se divirta. – respondi simplesmente. 

– Eu te amo. – disse se aproximando e deixando um selinho demorado em mim.

Foi um choque muito grande para mim, foi tão sincero, sem medo, e incomum.

Ela subiu as escadas antes mesmo de eu pensar em algo para lhe responder, fiquei atônito olhando para qualquer ponto fixo que achei. Noah e o colega, que eu não lembrava o nome, chegaram na sala chateados. 

– Fome. – anunciou e eu contive uma risada.

Lewis e Towns sempre foram tão independentes, era tão incomum Noah com seus doze anos precisar tanto de mim.

– Então vamos inventar qualquer coisa que não queime a cozinha da sua mãe. 

Decidimos fazer bolo de caneca, tudo correu bem graças ao pacote de instruções, mas por algum motivo o bolo de Noah cresceu mais do que deveria e transbordou da caneca, acabei dando o meu para ele. 

Por mais que minha relação com Jenny era uma porcaria antes, com meus filhos tudo sempre esteve bem, exceto por Towns que era esperta demais e via como o casamento estava arruinado e acabava sempre por ficar ao lado de Jenny, e exceto por Lewis que saiu de casa cedo o suficiente para não ter que escolher um lado.

Talvez eu tenha me exaltado ao falar que tudo sempre esteve bem.

O domingo seguiu-se com eu, Jenny, Towns e Noah jogados no sofá maratonando uma minissérie qualquer. 

Se eu consegui dormir na noite de sábado para domingo? Não. Mas dessa vez não tomei o chá, fechei os olhos e permaneci acordado, a noite inteira, e na noite de domingo não foi diferente.

ElaWhere stories live. Discover now