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As poucas semanas que antecediam o grande baile de formatura eram recheadas pelas mais diversas emoções dos jovens. Desespero. Medo. Ansiedade. Animação. Excitação. Era palpável o nível de hormônios exalando por entre os corredores de Hogwarts. A N.I.E.M. e o baile eram os únicos assuntos que circulavam entre as conversas paralelas.

Luna arrastava-se pelo corredor. Havia ouvido um monólogo inteiro de Ava sobre como ela não poderia ter saído sem leva-la e sobre como a amiga se orgulhava por ter, finalmente, enfrentado seu irmão e sua trupe sangue-purista.

- Eu disse, Lu! Eu ergui meu dedo e enfiei dentro da cara daquele patife, disse que ele nunca, nunquinha te faria mal. Nem à Romina. Ele disse que a melhor coisa que poderia acontecer com a Romina era... Oi, meninos.

Luna estagnou no momento em que seus olhos escuros pousaram sobre os ombros caídos de Lupin.

Ele estava pelo menos cinco quilos mais magros, as olheiras estavam mais evidentes e parecia ter sido pisoteado por cavalos.

Ela não consiga vê-lo ou falar com ele desde que retornara para seu quarto. Ele não a procurara. Não a olhara. Não a mandara cartas. Não queria saber notícias dela.

Ele se importava?

Luna despertou de sua auto piedade quando Ava apertou seu ombro.

- Vamos entrar? A aula vai começar e precisamos de um O, sim?

Luna deve ter ouvido cerca de sete palavras durante toda a aula.

Teste; magia; expectativas; saber; estudar; Remus; Lupin.

- É sério, Luna. Para! – Ava a cutucara novamente.

Apenas as duas amigas faziam juntas a eletiva de Runas. Eram as únicas das amigas que não sabiam ao certo que rumo tomariam após o término das aulas e Runas parecia uma matéria razoável. Assim também pensavam Peter e Remus.

- Você tá encarando ele há tempo demais.

- Eu... ele...

- Eu sei, Lu... Tenta entender o lado dele também, tá? Não é fácil.

- Você...

- Eu sei, eu sei, o lance da lua cheia... Só... vai com calma. Você não foi a única que se machucou aquela noite.

Luna respirou fundo. Daria tudo para voltar as coisas como eram antes. Daria tudo para curar a licantropia de Remus. Daria tudo para estar com sua família.

Quando o professor deu a aula por terminada. Remus se apressou em sair da sala. Embrulhou o pergaminho e amontoou com os livros debaixo do braço. A saída estava a dois passos de distância quando ele sentiu os dedos finos ao redor de seu bíceps.

Não. Não. Não. Por favor. Não.

- R-Remmy?

Ele não se virou. Não conseguia controlar sua respiração e temia se debulhar em lágrimas no meio de toda a classe.

- Podemos conversar? – Luna insistiu.

Não.

Não podemos conversar porque eu quase matei Romina. Porque eu quase matei você. Porque perdi o controle que sequer tivera alguma vez. Porque feri todos que se importavam comigo. Porque sou um monstro e o mínimo que devo fazer é sumir de sua vida e da de todos.

- O-outra hora, pode ser? – ele moveu a cabeça na direção de Luna, mas não a olhou. Ele sabia que ela ainda tinha um corte no supercilio e que com certeza viraria uma cicatriz dali um tempo.

Ela estaria para sempre marcada. Ele a feriu. Para sempre.

- Claro. Eu... Eu espero. – Luna afrouxou o aperto de sua mão à medida que seu coração se apertava e seus pulsos gelavam.

Ao cruzar o corredor da sala comunal, Remus mudou sua rota em direção ao banheiro dos monitores, lugar onde sequer era bem vindo mais, visto que abrira mão do cargo de monitor e agora James detinha o posto.

Os outros três marotos estavam preocupados com o amigo. Ele não se alimentava direito. Não sorria. Não dormia direito. Não se divertia. Passava horas com a cara enfiada nos livros, o que seria considerado normal, não fossem que as horas eram geralmente exacerbadas e extrapolavam qualquer limite de estudo-saudável.

Lupin jogou suas coisas no canto e se agachou em baixo da pia. Chorou copiosamente pelo que pareceram alguns minutos, mas podia ver o sol começar a se por quando sua vista voltou a ser útil. Sentia seus pulsos doerem e as unhas machucaram as palmas de suas mãos à medida que apertava mais ainda o punho. Mordeu o braço para tentar abafar um soluço. Deu tapas no chão. Despenteou os cabelos e desejou ter morrido aquela noite. Assim como na anterior. E na anterior antes daquela.

Culpou Dumbledore por seu atraso. Culpou os marotos por não conseguirem segurá-lo. Culpou a lua. Culpou seu pai. Culpou a si mesmo por não ter tido sucesso ao tentar findar sua mísera existência. Culpou Romina por ser humana demais. Culpou Luna por ter roubado seu coração e o tornar um jovem tão egoísta a ponto de ignorar suas limitações e entregar-se ao amor.

A palavra amor reverberou em sua mente à medida que mais lagrimas desciam por sua face. Ele fungou e fitou os canos ao seu redor. Amaldiçoou aquele sentimento. Amizade deveria bastar. Seu segredo deveria ter se mantido. Se os marotos não fossem tão enxeridos...

Que mísera existência.

Quem ele pensava que era para se dar o luxo de amar? Patético. Remus John Lupin era patético.

Nunca constituiria uma família. Nunca seria amado como um homem pelo simples fato da alta probabilidade de ferir qualquer mulher que ousasse se aventurar a se aproximar. Nunca teria Luna. Nunca acordaria ao seu lado numa manha de domingo e veria seu sorriso preguiçoso e seu cabelo desalinhado. Nunca a tomaria em seus braços e amaria de corpo e alma. Nunca teriam filhos.

Nunca teria filhos.

Nunca repassaria seu DNA podre à crianças inocentes.

Se imaginou adulto. Visitando a casa de James com seis crianças correndo e gritando. Com Sirius abraçando a cintura de alguma namorada nova. Com Peter casado com alguma mulher baixinha, talvez Romina, e bebendo cerveja enquanto ria de alguma piada que algum dos inúmeros filhos de James teriam o contado.

E se viu sozinho.

No canto da sala. Alheio. Deprimido. Ferido.

Ele apoiou as costas na parede suja e mofada atrás de si e deixou os braços caírem ao lado do corpo. Não tinha mais forças. Não queria mais lutar. Não havia saída.

Continuou na mesma posição por horas. A mente divagando. Quase caindo no limbo.

Quando suas lagrimas secaram e ele teve forças para se erguer, já era hora do jantar. Ele tinha um plano traçado em mente: estudaria até seus olhos secarem, tentaria ir bem nos testes finais, agradeceria seus amigos por todo apoio, se desculparia com todos e se afastaria o máximo que conseguisse de Luna Santiago e de seu imenso sorriso.



 Pessoal, esse foi um capitulo delicado e espero que vocês estejam bem. Entendo que muitas vezes nós passamos por situações que não sabemos lidar. As vezes o fardo parece pesado demais e desistir é sempre mais atraente, né?!

Queria pedir, como vocês me deram incentivo e forças pra continuar escrevendo essa história, para que não desistam também.

Independente de suas limitações, pesos e bagagem. Continuem e nadar.

Contem comigo, se quiserem conversar, estou sempre a disposição, mas não sou profissional, então, por favor (!!!) não tenham medo nem receio de procurar ajuda. 

O Centro de Valorização da Vida é disponível 24 horas por telefone, é só discar 188

Cuidem de si. Se amem!

Você é mais forte do que pensa e vai ser mais feliz do que imagina. 

Estamo juntas <3

Ran Before The Storm - Remus LupinWhere stories live. Discover now