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      Era quarta feira e Luna se segurava para não dar com um livro na cabeça de Ava. Hoje as três corvinas tiveram um horário livre e chegaram mais cedo na sala de aulas de Defesa contra as artes das trevas. As três se sentaram em um banco encostado na parede próximas à janela. Ava não parava de tagarelar. Dois dias atrás, Amanda havia descoberto que Ava era uma bruxa e a enviara uma carta. Ava desde então não calava a boca por um segundo sequer.

     - Gente! Eu não vou enviar essa carta. – ela amassou o papel em suas mãos. Depois desamassou, rasgou e jogou no lixo.

     - Ava... já é a... sétima carta que você escreve. Ela disse que tá tudo bem em você ser uma bruxa e... ela até quer aprender algumas coisas. – Cristal disse tentando amenizar o desespero da amiga.

     - Mas... Gente!!! E se... e se ela...

     - Ava! – Luna perdeu a paciência. Pegou nos ombros da amiga e a fez olhar diretamente em seus olhos. – Você é perfeita, entendeu? Amanda te ama! Não foi isso que ela disse na última carta? Ela não tá nem aí se você é uma bruxa, agora cala a boca e envia logo essa carta!

     Luna se arrependera da forma grosseira que falara com a amiga imediatamente.

     - Me desculpa, Ava... Eu... me desculpa.

     - Ei! Tá tudo bem... – Ava puxou as mãos de Luna. – Ele ainda não deu notícias, né?

     Era o primeiro mês completo que Tio Guildo não enviava uma carta sequer.

     - Nada... Eu.. eu tô preocupada.

      - A gente tá aqui contigo. Depois da aula a gente escreve mais cartas e mandamos. Vai ver ele só tá fora de casa por causa do trabalho. – Cris acariciou o joelho da amiga que respirou fundo e assentiu. – Ele é músico, né? Deve estar em turnê!

     Luna riu fraco com a imaginação de Cris.

      Alguns minutos depois, os alunos da Grifinória e o professor chegaram à sala.

     - Façam uma fila, por favor!

      O professor não fizera muita cerimônia, apenas colocou um grande baú no chão da sala, próximo de sua mesa.

     - E aí, meninas! - James se aproximou seguido pelos marotos. – Oh... por que estão tão tristonhas? Ah! É porque vocês foram MASSACRADAS! – ele riu e deu um pulinho.

      Grifinória havia vencido Corvinal no primeiro jogo de segunda. Lufa-lufa, perdeu para Sonserina na terça. Agora o próximo jogo, e o final, seria na sexta-feira contra as duas casas vencedoras.

      - Nossa, Potter. Às vezes eu me pergunto... Será mesmo que não vale a pena ir para Askaban por ter te matado? – Ava cruzou os braços.

     - Ah, Vavázinha! Não fique triste. Quer pegar o pomo? – James ergueu o pomo na altura dos olhos de Ava, que retribuiu com um dedo do meio.

*

     Todos estavam em fila. O professor começou a aula.

     - Alguém aqui sabe o que é um bicho papão?

     Remus ergueu o braço. Luna olhou para ele e sorriu. Lembrou-se de quando ele contou que sua mãe e seu pai se conheceram por causa de um bicho papão. Um romance... quase trágico. E não havia nada nesse mundo que Romina gostava mais que romances trágicos. Luna sorriu ao lembrar da reação de Rommy quando Remus as contou.

    - Um bicho-papão é um não-ser que assume a forma do pior medo da pessoa que o vê.

     - E qual o melhor jeito para escapar de um, senhor Lupin?

     - Acho que... – ele não achava, nada. Tinha certeza. Mas bancar o sabichão nunca foi sua intenção. - Estar com mais de uma pessoa, assim ele pode se confundir e não saber que forma tomar, embora ainda tenda a parecer assustador para todos presentes. E... também há alguns feitiços.

     - Dez pontos para a Grifinória. – O professor disse e sorriu orgulhoso para Remus – Aqui dentro temos um coleguinha desses. – ele deu dois tapinhas na tampa do baú - Vamos treinar o feitiço Riddikulus. Repitam.

    - Riddikulus. – Todos disseram em uníssono.

    - Ótimo. Façam uma fila. Pansy, você começa.

     A tampa do baú foi levantada e por instantes, nada saiu de lá. Com um vôo, um grande Agoureiro saltou e pousou a frente de Katerine Pansy.

    - Uma corvina com medo de um passarinho? – Peter caçoou.

     Logo o Agoureiro se transformou em uma galinha, se desequilibrou e caiu, fazendo todos da sala rirem.

    Um a um, os alunos foram expondo e ridicularizando seus medos.

      Ava se posicionou a frente do palhaço que estava caído no chão, ainda ria. Ele logo se transformou em uma mulher, negra e alta, com olhos parecidos com o de Ava. A mulher veio caminhando e quando abriu a boca para falar algo, Ava lançou o feitiço. Fazendo a mulher se transformar em uma dançarina de can-can.

- Era sua... – Luna puxou a amiga pelo pulso antes que a amiga se dirigisse para os fundos da sala.

     - A mulher que me botou no mundo. – Ava riu fraco.

     - Eu sinto muito. – Deu-lhe um sorriso acolhedor e foi respondida com um dar de ombros da amiga...

     Cris já se posicionava a frente de uma imensa cobra. Estava estagnada.

     - Vamos, Cris! É só dizer a palavra. – Luna incentivou.

     Cris disse o feitiço com a voz trêmula. A cobra deu um nó em si mesma.

     Luna foi para frente, rindo e parabenizando a amiga enquanto ela se dirigia para o fim da fila. Luna pode olhar os marotos, todos sorriam. Até que Remus ficou pálido olhando atrás da menina. Luna olhou para frente e viu a besta que matara sua mãe.

     Um lobisomem, forte, com dentes sujos de sangue se aproximava. Luna não conseguia se mexer. Tio Guildo não estava ali.

- Luna! – Ava gritou dos fundos da sala.

- Lulu, vamos... você consegue. – James disse baixinho para a amiga a sua frente.

     Uma lagrima escorreu pela face de Luna. Ela conseguia ouvir o grito de sua mãe. Ela estava ofegante. O braço estava esticado com a varinha apontada para o lobisomem. Mas nenhuma palavra saia. Se lembrou de seu tio com o braço ensanguentado.

     O professor se jogou a frente de Luna com os braços abertos quando o lobisomem fez menção de atacar. Logo o lobisomem se transformou em uma múmia. O Professor disse o feitiço e o a múmia começou a tropeçar em suas próprias bandagens.

     - Para o fim da fila, Santiago.

     Luna caminhou cabisbaixa até as amigas, que a receberam com um abraço coletivo.

      Elas não viram o bicho papão de Lily, que logo correra até o fundo da sala para abraçar Luna também. Sirius se aproximou em silêncio, depois sendo seguido de James, o pesadelo dos dois envolvia a perda dos amigos e, no caso de James, sua família também.

     Luna já estava mais calma. O tempo de aula acabara na vez de Peter, que suspirou aliviado. Ninguém perguntou sobre o pesadelo de ninguém ali. Ninguém sequer trocou mais que uma palavra. Cada um foi em direção a próxima aula que teriam. E dessa vez, a águia e o leão estariam em turmas diferentes.

Ran Before The Storm - Remus LupinWhere stories live. Discover now