Minha dor..

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Versão da Victoria

Estou sentada no escritório que há em minha casa, abraçada a boneca simples que havia dado a minha pequena Maria no último aniversário que ela passou ao meu lado, mas um ano estava eu aqui abraçada a boneca enquanto lembro que poderia estar lhe dando uma festa pelo seu aniversário.. o sumiço de Maria, me arrancou todas as forças que ainda havia em mim após tudo que precisei enfrentar desde que Bernarda descobriu que estava grávida de seu filho, após me humilhar e me bater, me expulsou de sua casa e fiquei dias nas ruas e andando por longas distâncias para encontrar um emprego para ter onde morar e poder cuidar da filha que eu esperava, a que seria a luz da minha vida, encontrei emprego com o Senhor Padilha, e foi um dos meus piores erros quando percebi suas verdadeiras intenções, quando ele me violentou sem se importar com o fato de que eu estava grávida, eu o implorei tanto e nada foi suficiente. Quando eu estava voltando para casa com Maria naquele dia, já era muito tarde e um carro em alta velocidade iria em direção a Maria e a mim, para lhe proteger me joguei em frente o carro e depois só lembro de acordar em um quarto do hospital quando Antonieta me disse que não encontraram Maria, a minha filha, aonde eu estava, meu mundo desabou e lembro que fiquei meses voltando naquela mesma rua para procurá-la com a esperança de encontrar a minha tão amada filha que foi arrancada de mim após aquele maldito acidente.
Após mais de vinte anos, aqui estou eu sentada chorando lembrando da minha filha mais um dia, a qual eu procurei em todos os lugares por todos esses anos e nunca a encontrei, a dor tem crescido cada dia mais e as vezes eu me pergunto se algo possa ter acontecido a ela, quando Fernanda sofreu o acidente que quase a matou pensei que estava perdendo minha outra filha, eu não suportaria perder minha pequena e rebelde Fernanda, que hoje já esta casada. Fico sempre imaginando como teria sido acompanhar todo crescimento da minha Maria, ver ela ir para seu primeiro dia de aula, a aconselhar na sua adolescência e saber qual seria a profissão escolhida por ela, gostaria de ter acompanhado toda a sua vida, será que ela já se casou? Desenhei vários vestidos imaginando vê-la vestida com eles em seu casamento, desenhei vestidos gestantes imaginando ver ela e Fernanda vestida neles quando se tornarem mães mas infelizmente mais um ano, ela não está aqui comigo, do meu lado.
Resolvo me levantar, vou até a adega do escritório e peguei um vinho servindo na taça e logo voltei a sentar na poltrona que estava antes, a grande dor que havia em mim, só poderia ser aliviada daquela forma já que estou a dias piorando cada dia mais, meu marido é o único que sabe de como eu verdadeiramente estou, as demais pessoas ao meu redor inclusive meus filhos apenas sabem de toda a história do sumiço de Maria, estou a semanas tendo sonos turbulentos e sempre acordo assustada chorando onde sou amparada por meu marido Heriberto, há anos sonho com o momento de poder ter a minha filha aqui comigo, poder me explicar e reconquistar o amor que é dela de direito, poder dar a ela tudo que eu não podia quando ela viveu comigo pela minha condição de vida, morava em apenas um cômodo pequeno com um banheiro e as vezes não havia o que comer em casa, Antonieta era minha única família e juntas sempre buscávamos dar conta de tudo e cuidar de Maria, Antonieta era e é minha melhor amiga a conheci no orfanato onde cresci e até hoje nossa amizade é a mesma, ela é a madrinha de minha filha Maria e era bastante apegada a ela, o que a fez e a faz sofrer junto comigo todos esses anos desde do maldito acidente que nos separou.
Vejo meu marido entrar no escritório e observar o modo como eu estava, exausta e com o rosto inchado por ter chorado há alguns instantes antes dele chegar, ele foi até onde eu estava pegou a taça da minha mão a colocando na mesa ao lado e me pegou no colo me fazendo me aconchegar a ele e poder chorar, ele me levou pra nosso quarto e se sentou na cama comigo ainda em seu colo e ficamos longos minutos ou talvez horas da mesma forma, enquanto ele acariciava meu cabelo sabia que ele estava sofrendo junto comigo, o conhecia o suficiente para saber que tudo isso mexia tanto com ele por ter perdido sua família em um acidente antes de nos conhecermos, tínhamos quase a mesma dor e só ele sabia quem eu era de verdade, todas as minhas dores, inseguranças e medos, ele sabia que por anos havia me prendido a uma personalidade que não era minha, a de mulher fria, soberba e orgulhosa para não demonstrar todas as minhas fragilidades e a fraqueza que eu carregava junto a mim, ele foi o único que me conheceu de dentro para fora e a verdadeira Victoria e não apenas a "rainha da moda" aquela mulher forte e determinada que eu demonstrava ser a todos a minha volta.
Heriberto enxugou minhas lágrimas e beijou minha testa demonstrando que estaria ali pra tudo e para qualquer momento que viesse chegar, ele sorriu e aquele lindo sorriso trouxe a luz que eu precisava naquele momento. Logo ele acariciou meu rosto e me olhou.
- Está melhor, meu amor? - ele disse carinhoso.
- Sim, amor. Você sempre trás consigo a calma que eu necessito. - eu disse ainda abraçada a ele.
- Quer que eu prepare um banho para você? Para que você possa relaxar. - ele disse me olhando.
- Quero sim. - eu sorri e me levantei do seu colo indo para o closed que havia em nosso quarto escolher um pijama para dormir, iria vestir após o banho, e fui em direção ao banheiro onde encontrei meu marido preparando a banheira para que eu pudesse tomar meu banho, fui até onde ele estava - Amor, vamos tomar banho comigo? - disse sorrindo carinhosamente.
- Claro que sim. - Heriberto a respondeu e logo se despiram e entraram na banheira. - Porque estava naquele estado quando cheguei amor? - disse Heriberto preocupado.
- Hoje seria o aniversário de 25 anos de Maria.. e mais um ano, ela não está aqui comigo. - eu disse ainda triste.
- Meu amor, eu prometo que vamos encontrá-la e você vai ter a chance de se explicar a ela e tudo irá se resolver. - disse heriberto a sua esposa.
- Vamos encontrá-la. - eu disse tentando ainda ter esperanças de conseguir ter a minha tão amada filha de volta.
Fiquei alguns longos minutos ali com meu marido, conversamos e ele trouxe a calma que eu precisava naquele momento tão angustiante, logo saímos e após nos vestimos com nossos pijamas nos deitamos, ele me trouxe para deitar em seu peito e ficou acariciando meu cabelo até que eu adormeci ao seu lado, abraçada a ele após sussurrar a ele o quanto o amava

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