Minha mãe?

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Após deixar nossos filhos na escola, levei Victoria para casa de modas, e depois iríamos para uma reunião com o detetive Ernesto, que estava cuidando do caso da pequena Maria.
Chegamos na casa de modas, estacionei o carro e abri a porta para minha esposa lhe dando a mão para ajudá-la a sair do carro, fomos juntos até a sua sala, sorri cumprimentando todos que estavam ao nosso redor, Victoria chamou o Pepino e Antonieta, enquanto eles conversavam, eu me sentei em uma das poltronas que ali havia, e respondi algumas mensagens já que há dias não tinha tempo de responder.
Algum tempo depois, saímos da casa de modas e fomos diretamente para a reunião que havíamos marcado com o detetive Ernesto, nos sentamos em sua frente esperando qual seria as informações novas.
- Bom dia, Senhor e Senhora Rios Bernal. - ele disse educadamente.
- Bom dia. - nos respondemos. - Quais as novas informações sobre o caso, detetive? - disse Victoria ansiosa apertando uma de minhas mãos que estava entrelaçada a dela.
- Bom, descobrimos aonde sua filha Maria mora, atualmente ela é conhecida como Maria Desamparada, o nome que as freiras lhe deram ao encontrá-la andando sozinha pelas ruas. Fomos até o orfanato das freiras, ao conversar com elas descobrimos que o antigo orfanato dessas mesmas freiras era distante da cidade e sua filha foi encontrada por uma das freiras enquanto ia para o orfanato aparentemente. Maria desamparada, tem dois filhos e aparentemente é casada com seu filho Max. - ele disse olhando a ficha aonde continham as informações do caso - Aqui tem algumas das fotos que conseguimos com as freiras, elas disseram que a Senhora é uma das maiores ajudas que elas recebem para as crianças que moram nesse pequeno orfanato, mas que jamais soube que a Maria poderia ser sua filha, Maria saiu do orfanato aos 18 anos, aonde foi para uma casa onde ficam até encontrarem uma casa para elas e um emprego, mas trabalhou por um tempo para senhora em sua casa de modas na época que ainda era vivo, seu primeiro esposo, Osvaldo Sandoval. - ele parou de falar quando observou Victoria chorando abraçada a Heriberto - Quer um copo com água, senhora? - Ernesto lhe disse preocupado com seu estado.
- Sim, por favor - Respondi pela Victoria, sabia que seria uma longa trajetória de agora em diante, visto todas as mágoas que Maria tinha com sua esposa. Suspirei preocupado.
- A Maria Desamparada é a minha filha? Esse tempo inteiro ela esteve do meu lado... - disse minha esposa chorando desesperada - Ela não vai me perdoar, Heriberto, ela não vai. - Victoria estava destruída.
- Meu amor, ela vai te perdoar.. vocês logo estarão juntas como mãe e filha. - disse tentando tranquiliza-la.
- Eu estou tão feliz por ter finalmente encontrado minha pequena Maria, porém eu sei do quanto mal eu fiz a ela, Heriberto.. - ela diz chorando.
- Vamos para casa, meu amor? - eu disse vendo seu estado.
- Vamos. - ela disse apenas.
- Muito obrigada Ernesto. - agradeci e saímos indo diretamente para nossa casa.
Ao chegar em casa, ligamos para Max pedindo que viesse pegar nossos filhos e levassem para casa deles, e que trouxesse Maria porque gostaríamos de conversar com ela urgentemente, ele não entendeu muito bem porém concordou. Enquanto isso, levei Victoria para o quarto a colocando na cama e desci pedindo para a babá arrumar uma mochila com as coisas dos nossos pequenos para irem para casa de Max, eles fizeram uma festa pois iriam ver os sobrinhos, estavam bastante animados, brinquei com eles até ver Max e Maria chegando, sorri os cumprimentando, Max levou as crianças e Maria subiu comigo até o quarto de Victoria, onde ela estava de pijama, sem maquiagem e ainda chorava olhando as fotos que o Ernesto havia lhe entregado.

Por Victoria..

- Minha filha - eu disse ao ver minha pequena Maria entregar no quarto ao lado do meu marido.
- Do que está falando, senhora Victoria? - ela disse tentando me entender.
- Maria, tenho que te contar algo e peço que me escute até o final para dar sua resposta sobre. - disse com o coração angustiado, tinha medo da sua reação ao descobrir.
- Sim.. - ela disse não muito certa do que havia dito.
- Se sente aqui na cama, Maria, na minha frente por favor. - eu disse lhe mostrando aonde ela deveria sentar e logo ela afirmou se sentando. - Meu amor, pega aquela caixa para mim, por favor?
- Claro. - Heriberto afirmou e logo foi ao closed pegar a caixa onde eu guardava as poucas coisas que eu tinha de minha filha, logo depois me entregou - Vou deixar vocês conversarem, vou estar no escritório. - ele disse beijando minha testa passando toda a segurança que eu precisava.
- Tá bom. - logo ele saiu fechando a porta, eu suspirei - Maria, antes de tudo quero que saiba que eu nunca seria capaz de abandonar um filho, você sabe que eu tinha uma origem tão humilde quanto a sua, e que também era órfã, ter a minha família era um sonho para mim. Aconteceram coisas terríveis na minha vida, você sabe que eu era empregada na casa de Bernarda na juventude, onde ela me humilhava de todas as formas possíveis, me apaixonei pelo seu filho, um amor totalmente proibido e antes de ir para o seminário, me entreguei inteiramente a ele. Bernarda descobriu a gravidez um tempo depois e jamais lhe disse, me expulsou de sua casa após me bater e mais uma vez me humilhar, passei dias na rua sem ter aonde ir, andando sozinha com uma gravidez e sem um emprego, quando finalmente encontrei foi com o Padilha, aonde fui abusada sexualmente por este homem após seu nascimento, eu juro que implorei de todas as formas que jamais fizesse isso, porém nada o fez parar. - suspirei tentando me acalmar - Morávamos eu e minha pequena Maria em um quarto bastante humilde, era o que eu podia pagar na época, e lembro de sua felicidade em seu aniversário quando lhe dei uma bonequinha de pano, que era bastante simples e novamente o que eu podia lhe dar, houve dias que eu ficava sem comer para lhe dar sua janta, para que não tivesse fome, foram dias bastante tristes e angustiantes Maria, porém eu tinha minha pequena Maria do meu lado e era isso que me dava força de continuar. Até que em um dia, quando voltava do trabalho a noite com você, veio um carro em alta velocidade para te salvar, me joguei na frente e fui atingida quando acordei no hospital, Antonieta me disse que não encontraram minha filha. Maria, passei anos te procurando filha, aqui está todo o processo durante todos esses anos desde que tive condições de contratar um detetive, o detetive que te encontrou foi o Heriberto quem contratou depois de me ver ter mais uma crise de choro em seu aniversário de 25 anos, sem saber aonde você estava, e se um dia lhe veria novamente, passei meses e meses voltando a mesma rua perguntando as pessoas se lhe conheciam, e ali jurei jamais ter compaixão por ninguém porque ninguém teve comigo, e sei que isso foi errado, sei também que te causei dores terríveis, que te provei de ter um emprego digno por muito tempo, que lhe humilhei e até mesmo lhe bati, e você sabe que há muito tempo me arrependi do mal que fiz e pedi perdão pelos meus erros, toda a dor que enfrentei ainda jovem, me tornou em uma mulher soberba, fria e orgulhosa, eu não me orgulho disso Maria, jamais me orgulharia, passei por grandes e terríveis dificuldades na vida para ter o que tenho hoje, me orgulho da minha origem humilde embora tudo tenho sido tão difícil para mim, chorei muito para conquistar tudo que eu sempre quis imaginando um dia te encontrar e lhe dar a vida que não pude de dar nos teus primeiros três anos de vida, antes do maldito acidente lhe arrancar de mim e deixar um terrível vazio em minha alma, nenhuma dificuldade que eu enfrentei me doeu tanto quanto te perder minha filha, me perdoa, eu te amo minha filha mais que tudo... - disse chorando e logo vejo Maria levantar chorando - Eu sou sua mãe, Maria, minha pequena Maria. - observo ela pegar a sua boneca de pano, a mesma que lhe dei no último aniversário que passei ao seu lado.
- Você é minha mãe? Você? - Maria disse chorando - Você que tanto me humilhou, se não fosse pelo Alonso, eu teria passado fome e até que mendigar Senhora, se fosse por você eu não estaria com o Max hoje e não teria a família que sempre quis ter, eu estava grávida quando fui demitida pela senhora, depois a senhora fez todos me demitirem pela sua influência e como eu cuidaria do meu filho? A senhora me tirou tudo, TUDO. A senhora me ama? Que amor é esse? Esquece que descobriu que eu era sua filha, me esqueça, EU TE ODEIO NA MESMA PROPORÇÃO QUE UM DIA LHE ADMIREI, escute bem, NÃO ME PROCUREI NUNCA MAIS. - ela disse me renegando, chorando com ódio, eu pude perceber que perdi minha filha, logo senti uma forte dor em meu peito, e minha pressão cair, logo não vi mais nada.

Por Maria.

Após ouvir tudo que ela me disse, embora esteja um pouco mexida com toda a história, como perdoar a mulher que mais me machucou na vida? Como perdoar quem tanto mal me fez? Deixei meu orgulho falar mais alto, logo vi as lágrimas descerem intensamente, uma dor angustiante em meu coração, tinha minha mãe na minha frente e ela não era quem eu esperava, jamais foi.
Após dizer tudo que tinha vontade, observei Victoria ficar pálida, e logo vi ela desmaiar rapidamente na cama e sai correndo até o escritório gritando o Heriberto que veio correndo e pegou sua esposa no colo a levando ao hospital. Apesar de estar preocupada preferi não ir até lá junto com ele e liguei pro Max avisando que estava indo para casa, fui andando chorando até minha casa, já que era perto de onde Victoria morava, cheguei enxuguei minhas lágrimas e fui brincar com meus filhos e observei meus irmãos, aqueles lindos anjinhos que Victoria e Heriberto havia adotado e amado, me perguntei se havia feito o certo. Fui até Max e disse que sua mãe estava no hospital, havia desmaiado após nossa conversa, lhe disse que depois lhe contaria tudo e que cuidaria das crianças.
Minha mãe, era a Victoria, como meu mundo desabou de um dia pro outro novamente? É tão difícil para mim, perdoar ela novamente porém agora perdoar minha mãe, cresci com tanta mágoa dos meus pais, e eu sabia que Victoria de fato não tinha culpa do que havia acontecido porém não consigo perdoa-la e muito menos ir até no hospital aonde ela esta internada nesse momento.
Fui brincar com as crianças, após um tempo dei banho nos quatro, dei a mamadeira de Ísis e o copinho de Marquinhos, quando eles adormeceram, dei a mamadeira de meus pequenos filhos e logo dormiram também, deixei os quatro na minha cama e fui tomar banho, após cercar toda a cama para não ter riscos de caírem.
Tomei banho pensando em tudo que havia acontecido no meu dia... estava tão ferida e magoada, porque tudo havia que ser dessa forma? Porque ela havia me feito tanto mal? Porque tudo isso tinha que acontecer? Eu queria a perdoar, sempre disse ao Max que teria orgulho de ter uma mãe como a Victoria mesmo depois de tudo que ela havia me feito, Max havia me contado que Victoria havia amado e cuidado dele como se realmente fosse seu filho, ele disse o quanto ela era uma mãe maravilhosa e do quanto sentia orgulho da mãe que tinha, e porque eu não poderia me sentir da mesma forma? Porque eu sinto ódio por tudo isso? Eu precisava me entender, precisava entender tudo que havia acontecido.

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