As lembranças vão na mala para recordar

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O passeio foi promissor, ainda havia muito para se ver é verdade, mas, o dia já estava acabando e Melanie aparentava estar cansada; O caminho de volta foi ao som da sua voz me descrevendo o que era o Natalia's Club Hotel, não era uma boate como o Moondance, mas sim um club de tiros, onde muitas pessoas costumavam ir praticar, inclusive para os que vinham de outras cidades que podiam ainda se hospedar lá, Melanie me disse que Mylena e Ana Clarice nossas colegas de quarto do orfanato agora trabalhavam lá como recepcionistas, eu fiquei feliz e ansiosa por uma ocasião em que pudesse reve-las, a conversa estava animada que quando me dei conta já estávamos na praça principal onde se situava a alfaiataria e muitos outros comércios.

As luzes da loja estavam acesas e um carro grande, espaçoso e na cor preta estava estacionado bem na frente, minha adorada amiga disse empolgada que seu chefe havia chegado, então com as pernas cambaleando sem saber o que seria de mim a segui para dentro. Adentramos e agora com mais calma eu olhava ao meu redor, no balcão uma caixa registradora modesta, na vitrine manequins desnudos esperando talvez os novos modelos da estação, e em ambos os lados da loja haviam bancos para os clientes se sentarem e em umas das paredes um lindo religião antigo feito de madeira e com lindos ponteiros dourados.

Enquanto eu me distrai olhando ao meu redor não percebi que Melania havia ido aos fundos e estava retornando com alguém. Quando surgiram pela porta ela estava acompanhada por um senhor que aparentava ter uns 50 anos, pouco dos seus cabelos laterais já grisalhos, muito bem vestido e com feições entristecidas que me eram familiares.

- ( E agora o que seria de mim? Que explicações eu poderia dar se ele me perguntasse algo?)

* O senhor sorriu gentilmente para mim*

- Olá Eloise, me chamo Fernando e você é bem vinda para ficar por quanto tempo quiser e precisar!

- (Espera. Eu sou o que? Mas...)

- Melanie me contou sobre sua situação e que você chegou aqui sem trazer bagagem alguma, então pegue o que precisar no estoque, tenho vários modelitos que podem te servir e Melanie te ajudará a se acomodar, Nos veremos pela manhã senhoritas tenham uma boa noite!

Ele foi muito gentil e generoso sem nem ao menos me conhecer e eu fiquei parada no meio da loja sem entender o que havia acontecido.

* Passei novamente os olhos na direção do relógio que marcava 19:00 horas*

Melanie fez um gesto em minha direção e a segui até os fundos. Fiquei maravilhada ao entrar no estoque, lindas peças muito bem confeccionadas, de cores diversas e vários tamanhos; Não demorei muito para escolher um modelito para a noite uma bela camisola rendada com um tom perolado deslumbrante, e graças a insistência da Melanie escolhi um look para o dia seguinte, um vestido preto com um cinto dourado como acessório.

Agora com as roupas já separadas eu dava uma volta em torno do lugar para conhecer melhor o trabalho do meu benfeitor.

- ( Não é possível!)

Com espanto analisando as peças bem de perto e quase sem fôlego de ver com quanta maestria era feita cada costura de cada peça, não pude deixar de reparar as estiquetas com escritas prateadas que se pareciam muito com as dos trajes do Vladimir e do Raphael.

- (Será que poderia haver semelhante coincidência!?)

Recordei que em certa ocasião Beliath tentou fazer com que Vladmir usasse trajes da nossa época, como foi engraçado ver a teimosia do nosso aristocrata de não sair do quarto usando jeans, naquele momento Beliath tentou argumentar, disse que custava muito trabalho para ele ter que ir até outra cidade para encomendar roupas de um alfaiate. Me questionei se o alfaiate a quem ele se referiu no momento poderia ser esse gentil senhor, enfim, era improvável descobrir essa resposta agora que eu estava longe da mansão. O dia havia sido longo tomei um banho quente e fui me deitar.

A medida que os dias iam passando, conheci melhor a cidade e seus habitantes. Fernando meu benfeitor insistiu para que eu aceitasse sua ajuda e mesmo sem jeito não tive outra escolha a não ser aceitar, ele me disponibilizou uma quantia em dinheiro para comprar coisas para mim, ele me daria as roupas como parte da ajuda, os calçados e cosméticos seriam comprados com o dinheiro que ele fez questão de me dar. Em uma das minhas compras parei em uma loja de perfumes importados a preço popular, lá uma atendente muito atenciosa trouxe um pequeno frasco que continha uma essência floral maravilhosa, era o mesmo perfume que Beliath havia deixado no meu banheiro na noite do baile para que eu pudesse escolher dentre tantas fragrâncias qual usar.

- ( Será que era aqui que ele vinha comprar o que precisava?)

Ao terminar as compras voltei para a loja onde Melanie me esperava para dizer que Fernando queria me ver em seu escritório. Apressei o passo para subir as escadas o corredor do primeiro andar era grande com cerca de 5 salas de prova para os clientes que vinham de diversos lugares encomendar suas roupas, e em cada sala funcionários da loja e jovens aprendizes atentos a cada detalhe do ofício, e ao fim do corredor ao lado do próximo lance de escadas que levava aos quartos estava o escritório.

*Bati timidamente na porta e entrei*

Apesar de ser o dono do lugar, Fernando era um homem simples, no escritório sua mesa de trabalho com alguns papéis, uma luminária ao lado e ao fundo uma prateleira cheia de arquivos, do outro lado da sala sob um tapete estava uma pequena poltrona e sentado nela estava Fernando, com uma xícara na mão e olhando fixamente para um quadro que estava pendurado.

Curiosamente essa expressão em seu olhar eu já havia visto, era a mesma expressão que eu contemplava no Raphael, me recordei de surpreender por diversas vezes esse hábito que meu amigo tinha de se sentar no pequeno salão contemplando uma obra que lá havia; Raphael era cego é verdade, mas, ele tocava o quadro antes de se sentar e depois em seus devaneios imaginava a pintura, em algumas conversas ele me pedia para descrever o que via no quadro e me contava como ele e sua doce amada passavam horas admirando obras como aquela.

Eu olhei atentamente a obra que Fernando admirava, a obra estava datada como sendo do ano de 1510, essa relíquia era uma obra perfeita, as pinceladas a maneira como foi composta me lembrava o jeito do Raphael de pintar, jeito que pude apreciar quando um dia ele me convidou para pintar e vi diante de mim o quadro de uma bela flor que ele compôs através de minha orientação. Sim esse poderia ser um de seus quadros que eram feitos sob encomenda por famílias importantes da época, isso explicaria como tamanha arte foi parar ali; Na obra uma linda colina, ao fundo uma modesta casa com um riacho passando calmo ao fundo, sim era magnífico praticamente sentir a obra sem ao menos toca-la, e o céu era um azul tão profundo como o azul dos olhos do Ethan.

- (Affs, ETHAN.)

Nós não nos dávamos bem é verdade, não sei o que fez com que ele viesse a minha mante, mas, o fato é que eu buscava no dia a dia em cada detalhe lembranças para recordar de cada um deles.

Eu havia saído da mansão,mas, as lembranças vieram acompanhadas na mala da saudade no caminho até aqui.

O que eu não imaginava, é que naquele escritório com a mente distante, eu não era a única a sofrer com saudade.

Family Lovers- O recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora