Family Lovers- O recomeço

O Benfeitor

Não havia se passado muito tempo desde que entrei no escritório, após me recompor de um momento de nostalgias Fernando notou minha presença. Haviam lágrimas em seu olhar e enquanto as enxugava me pediu para pegar uma cadeira que estava em um canto e me sentar próxima dele, eu não imaginava a razão de tanto mistério, até aquele momento ele tinha sido muito gentil sem me questionar em nada e pouco conversamos além de assuntos triviais.

* Eu puxei a cadeira e me sentei de forma que podia olhar para Fernando e o quadro na parede*

Ele iniciou o diálogo pedindo que eu respirasse tranquilamente, é verdade que naquele momento minha expressão de preocupação devia estar nítida, mas o tom calmo de sua voz me tranquilizou.

- Eloise minha cara, sei que você se pergunta muitas coisas sobre minha atitude em acolhe-lha aqui.

* Fiz um gesto com a cabeça e deixei que ele continuasse*

Em uma longa conversa Fernando me contou sobre sua vida até aquele momento, e em cada palavra dele a dor da perda era presente; Ele me contou que havia se casado muito cedo, ele e sua esposa sonhavam em juntos construir uma família e por causa de uma rara doença ela tinha dificuldades para gerar filhos, mas isso não o impediu de ama-la a cada dia.

- (Oh céus! Como eu gostaria de dizer que sabia o que ele sentia, dizer que também senti o que era amar até o fim, mas não quis interromper.)

Fernando continuo dizendo que a alfaiataria era uma pequena parte de um sonho muito maior que ele conquistou com sua amada, eles haviam começado com uma pequena tecelagem onde fabricaram por muito tempos belos tecidos, o sonho se espandiu ao inaugurarem a alfaiataria que carregava o nome em homenagem a sua amada esposa Ivana.

Seus olhos brilhavam ao relembrar sua esposa, ele relembrava com fervor o momento em que inaugurou a loja, foi nesse instante que sua amada sorridente lhe revelou que estava grávida e que finalmente eles teriam um filho para completar sua alegria.

* As lágrimas rolavam em meu rosto sem que eu as pudesse conter*

- E o que houve depois senhor Fernando?

- Com a notícia da gravidez querida Eloise, minha esposa passou a trabalhar por curtos períodos de tempo, ela administrava a tecelagem e eu cuidava da loja, e foi nesse momento que implantamos um tipo de estágio para aprendizes, que trabalhavam nos ajudando com os pedidos e clientes e aprendendo o ofício com satisfação.

Fernando me disse que a ideia foi um sucesso, muitos de seus aprendizes evoluíram e foram em busca de seu próprio crescimento, estilistas que fizeram moda em Milão, Tecelões que confeccionaram os mais belos tecidos para a realeza da Inglaterra, muitos começaram seu sonho ali naquele lugar. Mas, o sorriso de Fernando logo sumiu, ele recordou como os problemas de saúde da sua esposa logo trouxeram angústias desmedidas; Incapaz de trabalhar com a gestação já avançada Ivana passava grande parte do dia em casa, Fernando com o trabalho acumulado tendo que administrar os negócios sem ter parentes próximos para ajudá-lo, ficava difícil manter tudo sob controle. Com a chegada do novo herdeiro o esforço tinha valido a pena, Fernando estava orgulhoso, porém, Ivana estava fraca.

- Ela faleceu após dar a luz? ( Eu sei que não devia nas eu tive que perguntar)

- Não. Apesar da doença minha linda esposa lutou contra todas as espectativas medicinais, e teve a oportunidade de acompanhar boa parte do crescimento do nosso menino.

Com um longo tratamento porém longe do trabalho, Ivana viu seu filho crescer até os 12 anos de idade e depois já sem forças faleceu enquanto seu único herdeiro segurava sua mão.

- Eu não pude estar com ela, o trabalho era muito e se acumulava fácil, eu passei a ficar longos períodos entre a loja e a tecelagem, essa rotina se tornou até vantajosa na ocasião, eu não aguentava mais ver minha amada definhar em seu leito sem poder amenizar seu sofrimento. Quando cheguei em casa meu filho estava aos prantos junto a governanta da casa, um garoto, um menino de apenas 12  anos havia sido mais homem do que eu e ficou ao lado dela até o fim.