Prólogo

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Ser adulta...

São 04:45 da madrugada na capital, as ruas mais movimentadas de Goiânia exibem jovens saindo das casas noturnas ou bares, as risadas altas e vários carros extravagantes. São pouquíssimas as linhas de ônibus já em circulação.

No último ponto da rua 87 uma mulher jovem suspira, mantendo as mãos dentro do moletom enquanto espera o ônibus parar. Ela sorri para o motorista e mostra seu passe antes de passar pela catraca, apenas outras duas pessoas ocupam lugares no meio de transporte, mas a mulher de cabelos curtos e castanhos não demora para observar os demais ocupantes, assim como ignora o vibrar do celular no bolso da calça.

Sentada no último banco do ônibus, os pensamentos da jovem mulher se voltam para o homem negro de olhos azuis que havia deixado em casa há mais de doze horas. Thamara nunca havia imaginado que um casamento pudesse ser como uma explosão devastadora ou tão bem elaborada como programa de computador com logaritmos complicados, em que os cálculos surpreendessem.

Não, ela jamais esperou que Rodolfo mudasse sua visão sobre o futuro, já que o propósito para os anos subsequente seguissem a lógica... Três anos depois e assim sucessivamente, como uma progressão geométrica e que esse espaço de tempo, classificado como razão, devesse apresentar resultados concretos e positivos.

É óbvio que uma ideia nem sempre correspondesse ao resultado. Um exemplo fácil é tentar diminuir trinta e sete de noventa. O resultado na calculadora será negativo, ressaltando o uso dessa ferramenta, pois são raras pessoas que se atrevem ao bom uso do papel e caneta.

Imagina sobre os números decimais!

Mas, quando a jovem mineira conheceu Rodolfo era simplesmente caloura e que não foi arrebatada por um amor à primeira vista, menos ainda na segunda e sucessivamente... Ela tinha sido movida pela curiosidade e o tédio de uma chuvinha de março.

Era domingo e ela buscava demonstrar animação para correr. O único dia e horário que não ficava estressada com o trânsito, as buzinas, os pedestres que insistam em atravessar fora da faixa. Além das ruas pequenas que diversas vezes não a levaram a lugar algum, ou do motoqueiro que passava pela calçada, todos de olhos no semáforo.

O Bosque dos Buritis era seu refúgio naquele tempo universitário, Thamara acomodava em um banco e passava a analisar as pessoas que iam e vinham. Rodolfo chamou logo sua atenção,  não por sua beleza, e sim pelo sarcasmo e orgulho que imanavam dele. O homem gostava de ser o centro das atenções, ser cobiçado, todavia, ela se divertiu no primeiro olhar ao imaginar que aquela segurança fosse fantasiosa.

Hoje entendia que a segurança era verdadeira, assim como todos seus defeitos. Como uma sequência de dominós caindo, Rodolfo a encontrou semanas depois e embora alguns pensem não foi manipulação, ele simplesmente corria numa direção oposta e então aconteceu de seu belo par de olhos azuis se dispusessem em Thamara, como algo privilegiado. Ele sorriu e arqueou a sobrancelha, uma pergunta deixada no ar,  ela não correspondeu.

Logo surgiu uma primeira conversa inspirada numa água de coco. Ele gentilmente resolveu que iria pagar como presente, contudo, Thamara não via o motivo e educadamente recusou. Iniciaram uma pequena discussão e Rodolfo acusou-a de estúpida.

Talvez fosse o primeiro sinal para se afastar, mas um pensamento irracional fez com que ela desejasse sua companhia. Embora irritada com sua insistência, já que não enxergava nada em comum, Rodolfo discordava.

Ela o beijou primeiro e após semanas contou para Carolina sobre o goiano perseverante. O namoro e noivado somaram doze meses. O pai da jovem não gostou da notícia, esperava que terminasse primeiro o curso superior, argumentava que era muito jovem. Contudo, aos vinte e um insistia em afirmar que era bastante madura.

Ledo engano!

Segundo a definição de casamento para estranhos: há duas pessoas que dividem a mesma casa, cama e as contas. Ás vezes é uma ótima maneira de conquistar uma situação financeira favorável, principalmente se o pretendente for rico.

Definição para os amigos:

Dois imaturos e regidos um pouco pelos hormônios. As amigas tentaram mostrar que haveria outros sonhos e desejos com o passar do tempo. Mas, na época ela só queria viver seus sentimentos com Rodolfo.

A opinião da família?

Talvez estivessem se precipitando,  Thamara teria que entender que somente amor não era suficiente. Deveria esperar os momentos difíceis e confiar que daria certo.

E a definição de casamento para ela?

Thamara apoiou a cabeça na janela do ônibus, as mãos agora descansavam sobre sua barriga:

— Eu só não queria ser um número ímpar.

Em Uma MatemáticaWhere stories live. Discover now