Publicado: 20/07/2017
José Pedro afastou-se do quarto onde Luan dormia, mantendo o celular emprestado no ouvindo.
— Sua irmã?
O peão deu de ombros. Tinha demorado a acreditar na histeria de Ana ao telefone até ter em mãos o documento. Primeiro ficou surpreso com o conteúdo, depois veio a raiva ao se sentir traído.
Por que razão Rodolfo faria isso?
Ainda revivia a expressão de Thamara, o tempo que levou para absorver cada palavra e o quanto a irmã, provavelmente, estivera enganada sobre o respeito do marido.
Mas, José Pedro reconhecia um leve remorso por culpá-lo.
Abandono?!
Aquela palavra era cruel, e o peão tinha aprendido a lição.
Em sua profissão José Pedro sabia que a responsabilidade dentro do terreno de chão batido não era somente de se manter em cima do touro, e sim agir com dignidade e honestidade ao dominá-lo por oito segundos.
— Acho melhor esquecer a Thamara — ele respondeu para a mãe de seu filho — Nós continuaremos aqui. Você deve voltar para suas aulas.
Ele esperava que Nossa Senhora da Aparecida continuasse o protegendo e desse a coragem para continuar com Luan sob sua responsabilidade.
— Esse curso posso fazer depois, JP — a mineira argumentou — Você não tem tempo para o Luan e com certeza precisa de toda atenção durante aos treinos, fora que sempre fica machucado e estressado.
JP esfregou o rosto, recordava perfeitamente de cada rodeio. Seu corpo trazia cicatrizes e pinos para comprovar, e a orientação de Matraca era pesada. Um sorriso breve amenizou o rosto carrancudo do peão, foram muitas noites tendo Ana como sua enfermeira.
— Larga de complicar, Ana. Agosto está chegando. Eu só estou nos treinos em dois períodos, tenho condição de pagar uma pessoa de confiança.
Ana suspirou, e o peão sabia que dúvidas pairavam.
— Eu não sei. Talvez fosse melhor ele ficar com minha mãe.
— Dá para confiar?
— Eu recebi uma intimação da última vez, JP.
Ele fechou o punho, socando a parede e respirando fundo.
— Vai ser diferente agora.
*****
— Já escovou os dentes?
Luan assentiu, esfregando os olhos com a manga do pijama. Era o quarto dia e o peão começou a se mostrar mais relaxado. No início o menino perguntava por Thamara de hora em hora, numa sequência que para José Pedro seria implicância, só não era o julgamento correto para uma criança de três anos.
— Cadê a tia Tatá?
O peão apertou a tampa do leite, esperando que o filho comesse o pão com mortadela. Atrasados, na verdade José Pedro era o único atrasado, o relógio marcava cinco da manhã. Ele sabia que precisava de cada segundo treinando, sentia o corpo totalmente enferrujado e os nomes dos demais competidores sinalizava a necessidade de movimentos certeiros.
Era a primeira chance em anos, e provavelmente a última, para participar da competição internacional.
— Sua tia está na casa dela.
— Quelo ir lá?
Ele respirou fundo, terminando de guardar as coisas de Luan, ao menos cumprira a palavra ao encontrar uma babá:
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Em Uma Matemática
RomanceCom a matemática é possível descrever em equações as metas, que podem ser reduzidas ao primeiro número conforme uma convivência se prolonga. A palavra família tem um peso diferente: o casamento perfeito de décadas; os filhos em convivência amigável;...