Décimo Quinto Capítulo - Ímpar e Par

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publicado: 29 de maio de 2020

Eu não precisava levantar tão cedo, mas após Rodolfo sair para sua corrida matinal eu não consegui ficar sozinha na cama. O silêncio pela casa era diferente a barulheira comum ao dia vinte e cinco de dezembro. Sem conseguir mensurar o que cada uma daquelas pessoas representavam estar aqui.

Fechei o roupão e sai em passos leves, só para abrir a porta de frente para o nosso quarto e suspirar com o cheiro de loção para criança. Um pouco de luminosidade surgia pelas frestas da cortina,  as crianças continuavam deitadas, braços e pernas esparramadas com o rosto descansando nos travesseiros.

Lucas e Catarina dormiam bem tranquilos, com um semblante de quem não estava ansioso, e isso acalentava meu coração. Aproximei primeiro da cama de Catarina e a cobri com a colcha preferida da turma da Mônica.

— Tá na hora de levantar?

Abaixei do lado da cama de Lucas, acariciando seu cabelo:

— Não, querido, pode dormir mais.

Esperei que ele voltasse a dormir e sai para a cozinha. Como sempre Rodolfo tinha deixado a cafeteira cheia.

Meus pensamentos  quase silenciosos quando me acomodei na varanda, eu simplesmente adorava aquele lugar, especialmente agora que nosso quintal estava numa bagunça colorida de brinquedos.

— Você sabia que é possível com a matemática descrever em equações as metas de nossas vidas? — eu perguntei a vovó Maraísa no último Natal, enquanto meus pais rodeavam Lucas e Catarina — Sempre gostei dos cálculos cujos resultados fossem reduzidos ao número um.

— E agora você encontrou seu número um?

Eu atentei as palavras de Maraísa:

— Eu ainda estou com medo de que isso possa significar.

Ela riu, segurando minhas mãos.

— Conforme a gente vai convivendo com uma pessoa, vai ganhando alguns costumes, Thamara.

— Isso quer dizer que meus filhos podem ter os números como razões na vida?

Perguntei em tom de brincadeira, desejando que eles não se preocupassem com um número sendo par ou ímpar.

— Eles terão algo a se prender — Maraísa garantiu — Todos se seguram em alguma crença. Faz parte do processo de amadurecer, e você como mãe terá o papel de auxiliar.

— Acho que posso fazer isso.

— Sim, só não esqueça o seu número par — ela completou apontando para a sala.

Segui seu olhar encontrando Rodolfo entretido em conversas e risadas.

Um algarismo relaciona-se ao símbolo, e Rodolfo era o meu algarismo "1" que adicionei ao  próprio conjunto numérico e incentivei ao uso dos sinais para soma e multiplicação. Em muitos momentos o transformara em uma fração para que a grandeza proporcional correspondesse a minha própria geometria com o volume que eu queria. Em uma análise combinatória para que fosse benéfica a minha medida de tempo.

— Eu tenho muito a que lembrar, vó.

Uma parte de mim, ainda, sentia vergonha por ignorar sua própria geométrica plana, anulando a porcentagem que era puramente dele, absorta em minhas funções, priorizando o seno, cosseno e tangente dos ângulos que eu havia escolhido para a estatística que  desejava.

— Está ficando frio, é melhor entrar — Maraísa se prontificou, recebendo um aceno de mim.

— Eu já te sigo.

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