Sexto Capítulo: Geometria Espacial

244 41 1
                                    

Publicado: 28/01/2017

Ao pensar numa criança pode-se dizer que não se compara em nada com um adulto, o que veio em alguma época da história milenar da sociedade a caracterizar essas crianças como seres humanos dotados de vontade própria.

Uma vontade própria que me rendeu noites insones, menos de vinte quatro horas depois de José Pedro ter viajado.

Balancei Luan que soluçava, chorava e gritava com todas as forças pelo pai. E justamente quando pareceu que aceitou a saída estratégica do meu irmão, houve outra crise de choro pela mãe. E repetindo palavras de conforto me senti uma verdadeira fraude.

 O desespero se apoderava de mim e só desejava poder chorar com Luan, o que segundo alguns livros de Psicologia Infantil traria mais insegurança.

Não adiantou promessas ou a troca de braços entre mim e Rodolfo, de tal maneira que repensei se teria feito a escolha certa. Aos três anos e Luan se encontrava numa realidade que não trazia estabilidade.

Eu era capaz de localizar os pontos infinitos e adimensionais que começavam a girar minha vida de ponta cabeça. Uma criança sob a nossa responsabilidade e não haveria um horário para a devolver aos pais.

— Oh, meu príncipe, não chora mais — praticamente implorei.

Como seria quando levássemos a história da adoção adiante e nos fosse entregue uma criança estranha, alheia a nossa real intenção, precocemente abandonada pelos pais.

Eu seria alguém confiável para dar aconchego e segurança?

Rodolfo sentou ao meu lado no sofá, um dos braços ao meu redor, encostando minha cabeça em seu peito. Havia se passado setenta e oito minutos que Luan adormecera.

— Me sinto exausta e culpada.

— A exaustão eu entendi, mas a culpa deve ser direcionada a outras pessoas.

— Ele vai nos odiar?

Rodolfo demorou a responder.

— Pense da seguinte forma: Luan tinha uma casa, uma mãe e uma rotina. Do nada ficou sob os cuidados de alguém que não o queria, mesmo escondendo, e agora precisa se costumar a outros dois estranhos — eu quis refutar que era uma pessoa conhecida, mas que valor existia em visitas ocasionais? — Leva tempo para o estresse desaparecer.

Ergui a cabeça para o fitar.

— Onde aprendeu tudo isso?

— Você ficaria surpresa com os processos que chegam. Eu nunca gostei de Direito de Família, sempre uma pessoa sai machucada, e geralmente são os filhos.

— Quando tivermos um, vamos evitar. Isso é cruel, Rodolfo.

Meu esposo acariciou meu braço:

— Em algum momento irá notar que não existe perfeição.

Eu estalei a língua. 

Olhando os brinquedos espalhados numa explosão de comprimentos, áreas e volumes. Por mais que houvesse dificuldades e o meu lado egoísta estivesse satisfeito com a experiência de ter uma criança em casa, eu gostaria de ter certeza que Luan ocuparia um lugar fixo na vida de José Pedro.

— Como pretende cuidar dele?

A indagação de Rodolfo me fez engolir em seco.

— Posso procurar uma creche particular e só dou aulas a noite uma vez na semana. O mês de junho é o mais agitado, mas consigo equilibrar tudo nas próximas semanas e Ana termina o curso na metade de agosto — seriam treze semanas, com certeza nada sairia do controle, minha agenda não era tão bagunçada — Acho que posso o levar nas aulas de reforço no sábado.

Em Uma MatemáticaWhere stories live. Discover now