Capítulo 1

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Julie

Coloquei as duas malas e a minha bolsa no banco do carona da minha caminhonete, uma gmc 2001 que havia ganhado de presente dos meus pais quando fiz dezoito anos, sentia falta deles, naquele momento eu teria para aonde ir se eles ainda estivessem ali, deixei os meus pensamentos de lado e entrei no carro, iria para Filmord, eu nem se quer conhecia a cidade, — ela ficava alguns minutos antes de Sacramento — mas supus que seria um lugar onde Paul não me encontraria, ainda cedo saquei uma quantia em dinheiro para pagar o lugar onde iria ficar — passei a semana inteira fazendo pesquisas e encontrei uma garota que procurava uma colega de quarto e como a quantia em dinheiro que tinha disponível era pequena, eu me adiantei em ligar para ela e confirmar que ainda no início daquela semana estaria em Filmord — enchi o tanque do carro com o cartão dele, bom... tudo que eu tinha havia sido comprado com o dinheiro dele e a única coisa que eu tinha que não era dele era a minha caminhonete.

Durante uma parte do caminho até lá, chorei e cogitei voltar, porque apesar de tudo o que ele havia feito, eu ainda o amava e ainda queria estar ali com ele, mas sabia que não era seguro ficar, eu precisava ir.

Foi uma viagem de mais ou menos 3 horas.

Entrei em Filmord, uma cidade um tanto largada e nem um pouco convidativa, foquei em seguir o GPS até a casa de Ana, já passava das quatro da manhã, tudo estava deserto e a rua na qual o meu GPS me levou era assustadora, escura e cheirava mal, fechei os vidros e controlei a minha respiração tentando me manter calma, e então avistei o ponto de chegada no final dela, a garota de cabelos curtos e estatura baixa estava parada em frente a um prédio com apenas uma luz amarela na frente que não iluminava nada, ela abraçava os próprios braços, desci do carro e ela caminhou até mim, tentei enxergar o seu rosto, mas não consegui.

— Julie, né? — Perguntou assim que chegou perto de mim.

— Isso. — Percebi que um sorriso apareceu em seu rosto.

— Sou Ana, vou te ajudar. — Ela puxou uma das malas e eu a outra.

A pequena recepção do prédio era suja e atrás do balcão tinha um segurança dormindo, o que me deixou indignada, para que um segurança se ele não estará disponível para nos proteger? Pensei.

Já conseguia ver os cabelos negros e curtos de Ana e a sua roupa verde cana, bem chamativa, quando entramos no apartamento enxerguei seu pequeno rosto cheio de piercings.

— Seja bem-vinda! — Ela abriu um sorriso divertido e bastante convidativo, fiz o mesmo, mas o sorriso dela murchou e o seu rosto se encheu de preocupação.

— Minha nossa, o que aconteceu? — Fiquei sem entender, mas a minha ficha logo caiu. — Vou buscar gelo, venha! — Ela correu em direção a cozinha, a única coisa que separava a pequena sala da cozinha era um balcão.

Peguei em minha bolsa um espelho e me assustei com estado em que o meu rosto estava, passei os meus dedos em cima do roxo em meus olhos, sentindo o lugar dolorido e as memórias da noite anterior voltaram sem que eu conseguisse para-las.

— Coloque aí! — Saí dos meus pensamentos sombrios ao ouvir a voz preocupada dela.

Informei a ela que precisava descansar, apesar da curiosidade estampada em seu rosto, ela assentiu e me guiou até meu quarto, onde tinha uma cama de solteiro e uma cômoda, coloquei as malas dentro do quarto e fui me deitar. Não foi o melhor sono, a janela do quarto tinha uma cortina de tecido fino e a luz me incomodou muito, saí do quarto e encontrei um bilhete, Ana tinha ido comprar algumas coisas, aproveitei para tomar um banho um tanto demorado e passei maquiagem no meu rosto cobrindo o roxeado.

Na sala, abri meu notebook e ia começar a procurar vagas de emprego quando o meu celular tocou, era ele, deixei que tocasse e coloquei no silencioso, mas mesmo assim fiquei encarando o celular durante as dez ligações seguidas, depois pareceu desistir e então Vivian, minha melhor amiga, passou a me ligar.

Atendi.

— Você é louca? — Ela perguntou aos berros.

— Porque não me avisou que iria embora? Paul está doido atrás de você!

— Desculpa, eu preciso de um tempo.

— Onde você está? — Pensei em contar, mas tive medo de que ela contasse a ele.

— Estou bem, preciso ficar sozinha agora.

— Que droga, Julie, não confia em mim? — Meu coração apertou, odiava esconder as coisas da minha melhor amiga.

— O problema não é você, é ele.

— Eu te avisei tantas vezes, Ju...

— Eu sei, a minha mãe também fez isso. — A interrompi antes que começasse o mesmo discurso de sempre.

— Me mantenha informada sempre, por favor.

— Farei isso. — A porta abriu revelando Ana e desta vez uma roupa de brilho que, eu particularmente usaria apenas em uma festa a noite, ela entrou com um monte de sacolas nas mãos.

— Agora preciso ir, beijo. — Desliguei o celular.

— Está bem? — Assenti.

— Estou procurando vagas de emprego, não conhece algum lugar que não precise de experiência?

— Trabalho em um bar, eles estão contratando garçonete, manda um e-mail para lá.

Não era em um bar que eu queria trabalhar, mas eu não tinha opção e muito menos experiência para querer algo melhor, então enviei o currículo.

— Eu não quero me meter na sua vida, mas eu preciso perguntar! — Estávamos comendo hambúrguer e assistindo a um filme entediante na televisão. — Quem fez aquilo no seu rosto? — É claro que eu já esperava sua pergunta, mas não estava esperando naquele momento e não achei uma mentira que fosse real o suficiente.

— O meu namorado. — Balancei a cabeça e me corrigi. — ex-namorado.

Naquele momento minha ficha caiu, eu havia deixado ele, eu tinha saído na madrugada, sem deixar se quer um recado, deixado para trás o homem que acreditava amar, jogado bêbado na cama e um closet totalmente vazio para começar uma nova vida em um lugar desconhecido, me senti uma covarde por sair sem nem me despedir, antes que eu pudesse entrar em pânico, Ana me abraçou.

— Sinto muito. — Eu não esperava aquilo, mas retribui. — Tudo bem, já passou. — Sorri fraco e ela fez o mesmo.

No final da tarde ela apareceu com um short bem curto preto e uma camisa da mesma cor, com a frase Salt bar na cor laranja.

— Seria cômico se não fosse trágico né? — Eu assenti e ela riu. — Não é o pior lugar do mundo para se trabalhar.

— Se você diz...

Passei o resto da noite sozinha e recebi a ligação de Jack Salt, o dono do bar, teria uma entrevista no dia seguinte pela manhã, o que me deixou extremamente ansiosa.

Estava bem cansada e apesar das preocupações eu dormi feito um bebê naquela noite.

***

Jack Salt, um homem bonito que quando abria a boca se transformava em algo nojento de imagem horrenda, além de não ter sido nada profissional, sem ética alguma, ele não me olhou nos olhos nem uma vez se quer, apenas para meu corpo, me senti exposta, mas eu precisava tanto de um emprego com urgência que ignorei, com muito esforço mantive um sorriso simpático no rosto até o final da entrevista e ao sair da sala depois de ser guiada por ele até a porta, ainda podia sentir o seu olhar sobre mim.

Ana se demonstrou muito feliz com o fato de que, eu estaria trabalhando com ela, tentei parecer feliz, mas eu não estava, inclusive passei o dia inteiro pensado se aquela decisão havia sido sensata, pensei diversas vezes em voltar e acabar com aquela loucura.

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Um Amor Em Meio Ao CaosWhere stories live. Discover now