Capítulo 2

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Me encarei no espelho, analisei o uniforme ridículo e desconfortante, retoquei a maquiagem no meu rosto e cheguei à conclusão de que estava pronta.

No bar conheci Clarissa, ela não era muito de falar, Ana me explicou como funcionava as coisas e em pouco tempo o bar começou a encher.

Me saí melhor do que eu esperava, bom... até certo momento.

O bar estava cada vez mais cheio, várias pessoas já estavam bêbadas e passeando de um lado para o outro no estabelecimento, tentei me manter de pé quando tombaram em mim, mas eu não consegui equilibrar a mim e a bandeja em minhas mãos, por fim a bandeja foi ao chão e eu só não fui também graças a um homem que me segurou.

— Você está bem? — Ele perguntou quando voltei a tomar minha postura e só então vi sua imagem.

Tive a impressão de já tê-lo visto, ele tinha pele bronzeada, olhos castanhos claros e intensos e naquele momento transmitia uma expressão preocupada em seu rosto, era bastante atraente.

— Estou bem, obrigada. — Seu rosto suavizou e ficamos por uma pequena fração de segundos nos olhando.

Então uma loira alta, magra e com um batom vermelho exagerado nos lábios apareceu ao seu lado enlaçando o seu braço no dele, ele a olhou de forma rápida e ela me olhou com desprezo e disse:

— Vamos, já fez a boa ação do dia. — Engoli a seco o seu comentário, o homem não disse nada, voltou a me olhar, enquanto ela o arrastou em direção a saída do bar.

O resto da noite seguiu sendo movimentada, me mantive em alerta para que o episódio não se repetisse.

Em casa contei a Ana o que havia acontecido, ela me confortou dizendo que era normal e que logo eu entraria no ritmo e faria tudo no automático.

Esperava que fosse logo!

***

Uma semana se passou, havia me familiarizado mais com as coisas no bar, me mantinha focada a cada movimento lá dentro para não errar e isso fazia com que eu o esquecesse.

Paul deu uma trégua nas ligações, sentia falta dele e vivia esperando suas ligações, me perguntava o que tinha acontecido para ele não ter ligado mais, já não dormia direito.

Na manhã de uma quarta o meu celular tinha diversas ligações e algumas mensagens dele, algo que ele odiava fazer, mandar mensagens, mas ele mandou:

Volta para casa, sinto sua falta.

Eu prometo, mudar.

Vamos recomeçar, me liga!

Eu senti uma onda vibrante percorrer o meu corpo, li e reli as mensagens, larguei o celular no quarto, troquei de roupa e saí, simplesmente passei a correr pelas ruas daquela cidade desconhecida, diversas lembranças vieram à tona, da minha mãe, do meu pai, de quando eu era feliz!

Não me atentei aos lugares no qual havia passado e havia perdido a conta do quanto tinha corrido, era algo que eu fazia quando era mais nova, corria, mas já estava sem ar, não estava mais em forma e então senti o meu corpo ficar fraco e a respiração ofegante, aos poucos diminui os passos, acabei ficando tonta a com a visão turva, mas não parei de andar e acabei me esbarrando em alguém.

— Aí! — Falamos ao mesmo tempo.

Pisquei algumas vezes e só então conseguir enxergar o homem que estava a minha frente, o mesmo que havia me segurado no meu tombo no bar.

— Você vive caindo aos meus pés. — Ele tinha um sorriso debochado no rosto, poderia ter respondido a sua piada sem graça, mas ainda estava me recuperando. — Você está bem? — Ele repousou a mão sobre o meu ombro.

— Vou ficar. — Estava encarando o chão, ele permaneceu me encarando enquanto eu controlava minha respiração.

— Só para você saber eu não tenho fetiche em quedas, então não precisa cair toda vez que me ver. — Olhei para ele que ainda carregava o sorriso, eu cheguei a pensar que aquilo havia sido coisa da minha imaginação, mas nem a minha imaginação conseguiria ser tão idiota.

— Com certeza você não é comediante, suas piadinhas são péssimas. — Ele riu e tirou a mão que ainda estava em meu ombro e passou nos seus fios negros, o que foi bastante atraente, mas permaneci séria.

— Não, não sou.

— Preciso ir. — Dei meia volta.

— Calma. — Ele passou na minha frente. — Nem nos apresentamos.

— E qual a necessidade de fazermos isso? — Ele pareceu surpreso com a minha pergunta, mas prosseguiu.

— Bom, já nos esbarramos duas vezes, talvez seja o destino, não acha? — Gargalhei.

— Não, eu não acho, eu realmente preciso ir. — Tentei contorna-lo, mas ele impediu minha passagem, me deixando um pouco irritada. — Poderia me deixar passar? — Minha voz saiu mais fina do que o normal, acontecia sempre que estava irritada e era algo que eu odiava.

— Eu quero saber apenas o seu nome. — Estava falando sério, mas eu não tinha porquê me apresentar para ele.

— Péssimo dia para você então. — Ele piscou algumas vezes, deixando claro que a minha resposta havia afetado.

Aproveitei e o contornei de maneira rápida deixando-o parado no meio da calçada.

***

Vivian me orientou a não cair na cilada de Paul, que ele não tinha jeito e que sabíamos disso, mas, na verdade, eu acreditava que as pessoas poderiam mudar, se elas quisessem, mas evitei entrar em uma discussão com ela, até porque eu precisava trabalhar.

Eu ri por pensar nisso "Preciso trabalhar! " Repeti em minha mente enquanto me arrumava, era algo que eu não precisava, nunca precisei, sempre tinha o que queria e agora estava ali precisando suar para ter algo, por escolha minha.

Ana tagarelou de casa até o bar, sobre um tal de Tyler com quem ela estava conversando e que sairia com ele em sua folga, eu queria ter cabeça para ficar empolgada como ela estava, mas eu só pensava em quando eu conseguiria viver minha vida sem ter que pensar em Paul a cada passo que eu desse, pensar se ele aprovaria o meu trabalho, o apartamento ou até mesmo com quem eu estava morando.

Sufoquei meus pensamentos e passei a focar em acertar os pedidos nas mesas certas pelo resto da noite.

Terminei de servir um casal no balcão quando meus olhos caíram sobre o homem que me encarava com o mesmo sorriso debochado de mais cedo.

Suspirei e o ignorei por um tempo, ele pareceu perceber o quanto estava me incomodando ser observada, pois ele continuou lá, no mesmo lugar sem pedir nada e quando eu pensei que ele havia ido embora o peguei outra vez me olhando, dessa vez atrás de mim, eu levei um baita susto.

— Foi mal, não era minha intenção te assustar. — Riu e eu suspirei.

— Dá para dizer o que você quer?

— Você sabe o que eu quero. — Revirei os olhos.

— Você não tinha uma namorada? Não acha que ela iria odiar isso aqui? — Apontei para nós dois.

— Não tenho namorada. — Falou como se fosse óbvio. — De onde você tirou isso?

— Eu a vi aqui no bar com você. — Riu e passou as mãos nos cabelos como havia feito mais cedo.

— Ela não é minha namorada — Dei de ombros.

— Olha, eu estou trabalhando, você quer alguma coisa ou vai ficar aí me irritando?

— Porque é tão difícil saber o seu nome?

— Para que quer saber o meu nome? — Ele revirou os olhos e parece ter pensado em algo brilhante.

— Eu não posso saber o nome da garçonete que trabalha no bar do meu pai? 

Um Amor Em Meio Ao Caosحيث تعيش القصص. اكتشف الآن