~ele sabia~

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"Ugh, eu odeio Mariposa!" reclamo em alto e bom som, para que os parvalhões que estão mesmo atrás de mim possam me ouvir. "Espero que estejam contentes ao ver a minha infelicidade!"

A verdade é que estou cansada de andar a pé por estes caminhos estranhos e que não sei para onde vão. Olho para trás para ver que os rapazes que me acompanham estavam-se a rir, no entanto, tiveram a decência de fingir que nada se passava.

"Dramaqueen." Ouvi Ray falar baixinho para Harry e imediatamente lancei o dedo do meio ao rapaz, sem virar para trás. Os seus risinhos de menina aumentam e eu reviro os olhos às suas infantilidades.

Parece que Ray arranjou um menino para brincar! Reviro os olhos de novo devido ao meu pensamento. Mas o que há de errado com esta gente! Arrg, estou farta de andar, tenho sede!

"Vamos parar aqui com a brincadeira!" Viro-me repentinamente para trás, e eles param mesmo à minha frente. "Para onde vamos, Harry?" Tento com que a minha cara esteja séria o suficiente para ele perceber que estou completamente farta de andar.

"Estamos quase, eu juro!" O seu tom era sério, nada comparado às suas gargalhadas de apenas alguns segundos. Ele olhava diretamente nos meus olhos e eu nos dele, como se de uma batalha se tratasse. Eu queria intimidá-lo, mas ele não se queria deixar intimidar, embora as suas palavras transmitissem outra mensagem.

"Isto não é nada esquisito..." Ray interrompe e eu quebro a nossa sinistra troca de olhares. Olho para o chão e molho os meus lábios, que entretanto tinham ficado secos.

"Vamos embora." Eu digo quase num sussuro, mas eles estão suficientemente perto para ouvir.

"Mia, para. Estamos quase." Ray insiste. Ele parece um pouco constrangido com o meu comportamento, e talvez seja para tal, porque estou muito estranha deste que saí do hotel, mas eu não quero saber. Estou farta de andar, estou confusa, tenho fome, estou confusa, tenho sede e estou confusa, foda-se.

Matenho-me calma, para todos os efeitos, ninguém sabe da minha luta interior. Não sei de quê que estou confusa, apenas estou. A minha cabeça parece um labirinto no qual não consigo sair, mas continuo calma por fora.

Harry aproxima-se uns passos de mim. Não sei quando nos afastamos tanto, não sei se fui eu ou ele. "É só virar a esquina." Ele diz com a voz mais suave que Harry pode fazer. Talvez ele saiba da confusão em que a minha cabeça está, talvez ele também tenha confusão na sua. Ou talvez ele só acertou no tom com que devia falar comigo. Talvez.

Virei na esquina que ele me falou. Branco predominava a minha vista. Era fantástico. Árvores com flores brancas nos seus ramos enterlaçavam-se entre si formando um verdadeiro espetáculo da natureza.

"Eu disse que estavamos quase." Harry sussurrou no meu ouvido e arrepiei-me de repente. Olho diretamente para ele que estava bem ao meu lado com os braços cruzados, admirando a vista sorrindo.

"É lindo." Elogio, olhando para a frente de novo, sorrindo tal como Harry. É verdadeiramente lindo.

"Vai até lá, então." Harry sugere. Aceito a sua sugestão de bom grado e caminho até à delicada paisagem à minha frente.

A árvores não muito altas são protegidas por arbustos espinhosos, mas lindos. O verde das suas folhas é tão vivo, fazendo toda a confusão que habitava na minha cabeça ir embora. Já sei porque estava confusa.

Tenho saudades de casa. Tenho saudades da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos. Tenho saudades da minha família, dos amigos que deixei para trás, em San Mateo. Naquela pequena terra que não me trazia nada, mas que agora tem aquilo que me apoia, que me suporta, que me faz continuar a andar.

Mas esta paisagem bem na minha frente simboliza as coisas que ainda vêm por aí, as mil e uma coisas que ainda vou descobrir por este mundo, tudo o que ainda não vi e que está à minha espera para que eu as veja, finalmente.

Tenho saudades de casa, sim. Mas eu tenho Ray. E talvez, o Harry. Quem sabe. Só Deus sabe o que me espera e eu quero descobrir. Eu sei que quero. Não vou desistir agora, nem nunca.

Mais uma vez, eu sou vítima da minha própria mente que me tenta persuadir a desistir desta viagem, apenas porque é mais simples. Mas, acabou agora. Eu já sei o que quero.

"Hey, Mia." Ouço a voz de Ray e viro-me para eles, vendo Ray fazendo um gesto para irmos embora. Vejo que Harry tem uma câmara na mão - não sei de onde aquilo veio - e caminho em direção a eles. Afastei-me consideravelmente deles enquanto pensava e olhava para este magnífico espetáculo. Sorrio assim que me aproximo deles. Harry já guardou a câmara e encontra-se a sorrir de volta para mim.

"Intenso, huh?" Harry fala.

"Muito." Pauso. "Obrigada." Sussuro para Ray não nos ouvir e acelero o passo assim que tenho a certeza que Harry me ouviu.

Ele sabia.

Travellers |h.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora