~o inevitável erro~

59 18 0
                                    

Agora que penso, tudo seria mais simples se tivéssemos saído mesmo antes de ter ganho alguma coisa.  

Foi uma experiência inesquecível, sem dúvida, mas ainda me debato se no sentido positivo ou negativo. E as minhas hipóteses caem sobre o lado negativo, que são surpreendentemente iguais aos dos meus queridos companheiros de viagem. 

Como tínhamos cinco mil dólares a mais no nosso orçamento, decidimos fazer o óbvio, e gastar um pouco para que pudéssemos aproveitar essa oportunidade para ter alguma liberdade financeira. 

"Temos de comemorar! Podemos pedir algumas bebidas, vamos para a sala de espetáculos!" Algumas bebidas...

No balcão, estavam a fazer uma noite de free drink, ou seja, podíamos levar quantas bebidas quiséssemos desde que estivéssemos a gastar o dinheiro em qualquer outra coisa. Por outras palavras, apenas uma maneira de pagar pelas bebidas, mas não pagando. Também uma bela forma de beber o teu peso em líquidos tóxicos em menos de uma hora. 

Ray e Harry estavam constantemente a recorrer ao bar, para ir buscar mais bebidas, enquanto eu desperdiçava os meus ricos cinco mil dólares naquelas roletas em que sai jackpot um milhão, depois de teres gasto cinco biliões. 

Mil euros, que mal fará se continuar?

Dois mil? Ainda sobram três, qual é o drama?

Três mil dólares? É melhor parar, mas só mais um joguinho. 

Como assim quatro mil!? 

Deparo-me com apenas mil dólares em fichas, e recorro ao meu bom senso para cessar o jogo. Não ganhei nada, claramente, mas estava com tanta esperança que me deixei levar. Soei imenso com este jogo desesperante, por vezes. Preciso de uma bebida. 

Por falar nisso, onde estarão os rapazes, que andavam sempre num rodopio entre o bar e as máquinas?

Percebi mais tarde, que cansaram-se de andar de um lado para o outro, e por isso reuniram as suas prioridades naquele local demoníaco. No momento, por qualquer razão que desconheço, talvez pela euforia do jogo e o facto de ter de pará-lo, não me ocorreu essa hipótese. 

Decidi então, dar uma volta pelo casino, não só para os procurar, mas para ver o que ainda não tinha visto. 

Entrei numa sala, onde vários homens se encontravam reunidos, com os seus fatos e gravatas muito bem aproados, com um ar de negócios mal disfarçados com diversão arrogante. Estavam todos a jogar em várias mesas, o que presumi ser poker, permitam-me dizer pela pouca experiência que tenho. Senti as minhas bochechas arrosarem, como se eu não pudesse estar ali, como se aquilo fosse uma reunião secreta que eu não poderia interromper. No entanto, os seus fatos e o meu vestido longo combinavam tão bem, que não consegui mover os pés a não ser para a frente. 

Para além disso, ninguém estava a ligar ao facto de uma mulher, ter acabado de entrar na sala. Mais uma razão para não me preocupar. 

Ao movimentar-me pelo meio das mesas, sinto vários olhares serem-me dirigidos, mas acho normal, sendo eu a única mulher naquele sítio. Não deixando, claro, de me assustar um pouco, mesmo assim.

Avisto uma pequena porta ao fundo da sala, e uma pequena curiosidade se instala dentro de mim. O que estaria por detrás daquela porta?

Escusado será dizer que, também eu bebi algumas bebidas, portanto a partir deste momento darei total responsabilidade de tudo o que fiz, a essas bebidas. 

A porta parecia estar trancada, mas depois de mais umas poucas insistências, consegui abri-la. A porta fez um barulho estridente, mas ninguém reparou na rapariga que poderia estar, eventualmente, a cometer um crime. 

Travellers |h.s|Where stories live. Discover now