~acho que está apaixonado~

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O que é que acabou de acontecer?

Fico embasbacada a olhar para o papel que Ray tem na mão, na esperança de uma resposta que faça sentido. Nada.

Olho para Ray e este encontra-se a olhar para o papel sem dizer nada.

“O que foi isto?” perguntei pausadamente em voz alta, embora sussurada.

“Não sei.” Pausa e mexe desconfortavelmente no seu cabelo. Lá vem coisa. “Será que podemos reconsiderar a vinda dele conno...”

“Oh, não. Nem penses!! Nós não o conhecemos, Ray. Perdeste a cabeça?” grito sussuradamente, com algum medo que o rapaz esteja atrás de nós a ouvir.

Qual é a ideia de Ray? Matar-me?

“Não. É só que.. Não sei. Simpatizei com ele.” Ele responde, chocando-me.

“Acabaste de o conhecer! Ele pode ser um ladrão, um violador, um assassino!” dramatizo. “Eu não o quero na minha viagem.”

“Nossa viagem.” Rudemente me corrige. Calo-me por alguns segundos pensando no meu egoísmo. “Se ele fosse isso tudo, ele não pedia para ir viajar connosco, ele seguia-nos e depois fazia o que quisesse. Podemos ao menos tentar conhecê-lo.”

Não respondo. Em vez disso, começo a comer o meu hamburguer já um bocado frio. Ray faz o mesmo e ficamos em silêncio o resto do almoço.

“Então, estava tudo do vosso agrado.” A rapariga, que inicialmente veio à nossa mesa, apareceu outra vez.

“Sim.” Ray lança um sorriso fraco. Não está muito bem disposto.

“Hm, desculpe.” Chamo quando esta está a levar a loiça suja para dentro da cozinha. Ela chega à minha beira. “O rapaz que nos serviu...”

“O Harry? Que tem? Ele foi indelicado?” a rapariga parecia preocupada. Bem, pelo menos sei que não mentiu no nome.

“Não, não foi.” Na verdade sim, foi. Ao ouvir a nossa conversa, ao sentar-se na minha mesa e pedir para se juntar à nossa viagem. Mas isso não interessa. “Só que... ele trabalha aqui à muito tempo?” tenho de tentar saber coisas sobre ele. Se Ray está verdadeiramente a considerar tê-lo connosco durante um ano, tenho de o fazer.

Sinto um ponta-pé ao de leve debaixo da mesa e sei que é Ray a tentar fazer com que não seja tão inconveniente, mas nem sequer olho para ele.

“Hm, sim. Dois anos, acho eu. Ele é meu irmão, por isso eu pedi ao chefe para lhe dar emprego.” Esclarece a moça.

“Desculpe o incômodo.” Ray atrapalha a nossa conversa. A rapariga abandona a nossa mesa.

“Eu estava a tentar «conhecê-lo.»” Faço o gesto das aspas.

“Pois, mas não é a perguntar a outras pessoas que o «conheces»!”

“Pelo menos tentei, okay?”

“Isso quer dizer que estás a considerar?” pergunta com um sorriso convencido na cara, como se tivesse acabado de ganhar alguma coisa.

“Não, quer dizer que... não.” Ray risse da minha infantilidade e eu sorrio ao perceber que consegui quebrar o gelo que se tinha formado desde o meu egoísmo de à bocado.

Ouço a voz de Ray no quarto, mas não percebo o que diz.

“O quê?” pergunto de dentro da casa de banho.

Não há resposta. Saio da casa de banho e encontro Ray com o telemóvel ao ouvido.

“Okay então. Está combinado. Até logo.” Ele desliga a chamada e olha para mim. Semicerro os olhos na sua direção. Com quem é que ele estava a falar?

Travellers |h.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora