~o que ouviste~

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Ray leva-nos a um pequeno café e senta-se na esplanada. Está um belo dia, um pouco caloroso é verdade, mas consegue-se estar bem cá fora. O ambiente do café parece agradável e sorrio automaticamente.

Olho para Ray e reparo que a sua pintura facial já não está lá. Deve ter lavado hoje de madrugada. Queria ter visto a sua reação ao olhar-se ao espelho. Deve ter sido épico!

"De que te estás a rir?" Pergunta Ray, curiosamente, com um pequeno sorriso.

"Reparei que a tua cara está... diferente." Rio baixinho, ouvindo Harry rir-se ao meu lado.

"Ah isso." Ele tenta parecer sério e zangado, mas falha miseravelmente. O pior é que eu o conheço e sei que vai haver vingança. O seu pequeno sorriso vocês-nem-queiram-ver-o-que-vem-por-aí aparece e sei que ele pensou a mesma coisa que eu.

"Eu não fiz nada, estava a conduzir." Disse rapidamente. Eu já fui vítima das vinganças de Raymond ao longo dos meus vinte e cinco anos, e sei perfeitamente que não é coisa para brincadeiras. Lembro-me como se fosse ontem, quando encontrei uma dúzia de arranhas que ele colocou na minha cama. Quando senti uma a subir pelo meu pescoço, saltei imediatamente da cama, provavelmente matando metade delas. Eu tinha apenas sete anos. Fiquei traumatizada para a vida toda.

Ray olha para mim continuando com o seu nada simpático sorriso, e apenas concordou com a cabeça, mas eu sei que ele me inclui nessa sua vingança. Merda.

A empregada aproxima-se da nossa mesa e apressa-se a dizer o que tem no menu de pequeno-almoço. Digo que quero um café quente e umas panquecas e os rapazes seguem-me. Ela desaparece da nossa vista.

"Espero que aqui não aparece nenhum rapaz desesperado para vir connosco na viagem." Ray goza e eu rio-me com ele, no entanto rezando para que as suas palavras sejam ouvidas.

Quando olho para Harry, este está divertido, mas disfarça com um riso irónico. "Sim, pois. Esse rapaz desesperado no qual vocês estão a falar, ainda vai dar uma volta de 360º na vossa vida."Ele respira confiante.

Eu interiorizo o seu comentário, que embora tenha sido na brincadeira, eu aceitei como um facto parcialmente verdadeiro. Sim, este rapaz já conseguiu mudar a minha vida, a minha perspectiva sobre outras pessoas pelo menos, que podem estar a sentir o mesmo que eu, e por isso eu sei que tal como eu e Harry, existem outras pessoas que não estão satisfeitas com as suas vidas. Ele não dei uma volta de 360º na minha vida, mas talvez uns 90º.

Porém, o seu comentário foi avidamente contra argumentado por Ray, que afirma que é ele que vai mudar a vida de Harry uns 720º, ou seja, duas voltas completas, o que parece confundi-lo. Eu, no entanto, estou um pouco dispersa dessa conversa e olho para o lugar ao meu redor.

A esplanada começava a encher e quando olho para dentro do café, o mesmo encontra-se lotado. Este deve ser um lugar muito popular por aqui. Não é de admirar com o tipo de paisagem que tem à sua frente.

A paisagem aborda um lindo retrato da natureza. Bem em frente ao café, existe um parque cheio de árvores diversificadas; cores, formas, tamanhos diferentes. Era uma vista predominante de verdes variados e sinto-me tão bem a olhar. Fico ainda mais contente quando me apercebo que o próximo lugar que vamos visitar vai ser tão ou mais bonito como este.

Os nossos pedidos já se encontram na mesa e então nós comemos. Harry encontra-se alegre, mesmo depois daquilo que lhe disse ainda à pouco, no entanto ele só fala com Ray. É verdade que eu não estou muito participativa nas suas conversas, mas ele não olha para mim. Será que é alguma coisa assim tão grave?

Não quero pensar mais nisso, então concentro-me na conversa sobre o facto do golfe ser um desporto muito difícil, mas que não é tão apreciado como o futebol.

Travellers |h.s|Where stories live. Discover now