Capitulo 27

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Pov Percy

    Bob e eu seguíamos para o coração do Tártaro. Só agora pude analizar meu corpo com precisão.

    Definitivamente, é estranho ser um cadáver. Tanto fisicamente quanto psicologicamente.

    Estar meio morto está começando a me afligir; e se eu não conseguir voltar ao normal? Como vou viver assim?

    Ainda vou estar vivo para voltar ao meu mundo pelas Portas da Morte?

    Cada vez mais próximo do meu objetivo final, mais nojento o lugar fica.

    Sob meus pés, o chão reluz em um roxo nojento, com veias pulsando. E a minha frente, um exército de monstros se estendia. Desde arai aladas, ate espíritos malignos esvoaçantes. Milhares de vilões, talvez dezenas de milhares, todos aguardando irrequietos e espremidos uns contra os outros.

    Bob me conduziu na direção dos monstros mais próximos. Não tentei me esconder, não adiantaria de nada. Como uma figura prateada de três metros de altura, Bob não é bom em passar despercebido.

    A uns trinta metros mais próximos das Portas, Bob se virou para mim.

    -Fique quieto e atrás de mim. Eles não vão notar você.

    -Tomara - murmurei de volta.

    Talvez eu morra hoje. Os deuses as vezes dão recompensas aos mortos, quando sentem pena ou solidariedade, certo? Não acho que desejaria me tornar uma alga como boa ação de meu pai, como Zeus fez com Thalia ao transforma-la em pinheiro. Mas assim, quem sabe eu teria mais chances de ter minha vida feliz com Annabeth? Um futuro assim me parece improvável nesse momento.

    Não, não. Não sou eu quem vai morrer hoje, se tentarem me atacar.

    Mas quem sabe eu não me revolto contra os deuses? Fazer o que Luke tentou fazer, mas do jeito certo e realmente benéfico para os semideuses?

    Eu preciso falar com Bob sobre o assunto Japeto . Mas cada vez que penso sobre, fica mais difícil de começar a falar. Não acho que aqui, no Tártaro, seja um bom lugar para discutir isso.

    Talvez devesse esperar sairmos daqui para conversarmos. Ou talvez essa espera cause meu fim - ou um Bob mais chateado que não aceite minhas desculpas, o que é bem pior.

    Mas assim como fica difícil falar sobre, minha consciência também pesa. Não é justo que Bob me ajude e eu não seja nem sincero com ele. Que tipo de amigo leal sou eu?

    Nunca pensei que pensaria isso, mas invejo um gato-esqueleto. 

    Bob Pequeno acordou de seu cochilo, ronronou um pouco, quase provocando um terremoto, e arqueou as costas, tornando-se esquelético por um segundo e voltando ao normal logo em seguida. Pelo menos ele não precisa se preocupar.

    Com alguns segundos, ja havíamos chegado. Agora não ha mais volta. O que, aliás, não me assusta. Morrendo ou não, o que me importa é poder dar a chance dos semideuses lutando la em cima de viver.

    Nos enfiamos na multidão. Não é a primeira vez que via um grande grupo de monstros. Ja lutei com um durante a Batalha de Manhattan. Mas aqui temos duas pequenas diferenças.

    1- Também havia um grande grupo de semideuses.

    2- Durante a Batalha, eu lutava pelo e no meu lar. Aqui eu sou o invasor.

    A poucos metros, um grupo de empousai devorava a carcaça de um grifo enquanto os companheiros do animal morto voavam ao redor. Um nascido da terra de seis braços e um ogro lestrigão se atacavam com pedras.

    E mais alguns metros depois, uma figura com roupas de vaqueiro chicoteava cavalos que exalavam fogo. O sujeito usa um chapéu de caubói por cima dos cabelos oleosos, jeans gg e botas de couro pretas. De lado, podia passar por humano - e ate tive um milésimo de segundo de esperança -, até que se virou e pude ver a parte superior de seu corpo.

    Aquele é o mesmo cara que havia tentado me matar a dois anos atrás no Texas: Geríon.

    Aparentemente, o rancheiro maligno quer um novo rebanho.

     Minhas costelas começaram a doer onde as arai haviam acertado a maldição que Geríon lançou a beira da morte na floresta. Minha vontade era matar o vaqueiro de três troncos e berrar: muito obrigado, Tex!

    Infelizmente, não posso.

    Quantos outros velhos inimigos estão nessa multidão? Ver Geríon me fez me dar conta de que cada um de meus triunfos, tinha sido apenas uma vitória temporária. Por mais forte ou sortudo que eu fosse, um dia seria derrotado. Sou apenas um mortal. Com sorte, ficarei velho. Mas então, me tornarei fraco e lento, e morrerei. Mas esses monstros... eles são eternos. Sempre voltam. Talvez demore meses ou anos, talvez séculos. Mas sempre renascem.

    Pensar nisso me fez sentir tão desamparado quanto as almas no Cócito. E daí que sou um herói? E dai que realizaria feitos corajosos? O mal sempre estará presente. Eu sou apenas um estorvo para esses seres imortais. Eles só precisam esperar. Um dia, meus filhos ou filhas podem ter que enfrentar todos eles novamente, os mesmos que um dia tentaram me matar.

     Filhos e filhas.

    O pensamento me atingiu em cheio. O desespero se foi tão rápido como quando surgiu. Pensei em Annabeth. Seus olhos cinzas, os cabelos louros, o rosto abatido e coberto de fuligem. Linda como sempre.

    Tudo bem. Talvez os monstros sempre voltem. Mas os semideuses também. O Acampamento Meio-Sangue já sobreviveu por muitas gerações, assim como o Jupiter. Mesmo separados, os dois sobreviveram. Agora, caso se unam, ficarão ainda mais fortes.

    Ainda ha esperanças. Eu consegui chegar até aqui, as Portas da Morte quase ao meu alcance.

    Filhos e filhas. Mini-Annabeths e mini-eus. Essas palavras existem? Uma ideia ridícula. Um pensamento maravilhoso. Bem aqui, no Tártaro.

    Mas então, uma voz profunda e retumbante, em algum lugar mais à frente, brada:

    -Jápeto!

    Me ferrei.

    Obrigado, monstro idiota qualquer.

Dark PercyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora