Capitulo 30

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Pov Percy

Pra quem pensa que pisar no coração de Tártaro é divertido, primeiro lhe aconselho um psiquiatra. E, segundo: não, não é.

O chão arroxeado é escorregadio e pulsa de modo regular. A distância, parece liso, mas de perto é cheio de dobras e elevações que dificultavam cada vez mais o avanço. Emaranhados de artérias e veias servem de apoio para meus pés, mas avançamos devagar.

E, é claro, tem monstros por toda parte.

Bob me proibiu de tentar matar monstros e brilhar. Disse que eu não sou filho de Apolo (Will pode brilhar, então?), e que estava me colocando em perigo. Mas sem soar rude.

Não sei como brilhei, e também não gostei. Minha pele agora está ardendo. Como fiz para parar, não tenho ideia. Mas prometi a Bob que não o faria mais.

Matilhas de cães infernais caçam pela planície, latindo, rosnando e atacando qualquer monstro que baixe a guarda. Arai voam em círculos com suas asas de morcego, e suas silhuetas negras são visíveis contra as nuvens venenosas.

Estava tão atento ao que acontecia a minha volta, que não prestei atenção onde pisava, e tropecei.

Me apoiei em uma artéria, e uma sensação de formigamento subiu por meu braço. A princípio, pensei ter deixado minha própria água escapar ou ter voltado a brilhar, mas não. Eu conheço essa sensação.

-Tem água aqui - disse à Bob - Água de verdade.

Bob deu um grunhido.

-Um dos cinco rios. O sangue dele.

-Sangue dele?

-É. Todos os rios do Mundo Inferior desaguam aqui e correm pelo coração do Tártaro.

Deslizei uma mão por uma teia de vasos capilares. É água do rio Estige que corre sob meus dedos? Lete? E se uma dessas veias estourar quando eu pisar nela? Esse com certeza é o sistema circulatório mais perigoso do universo.

    Bob parecia prestes a falar alguma coisa, mas ao olhar para frente, desistiu.

    Adiante, riscos irregulares rasgavam o ar, como raios, só que completamente negros.

    -As Portas - disse Bob - um grupo grande deve estar passando.

    O gosto de sangue de górgona veio ate minha boca. Mesmo que meus amigos do Argo II consigam encontrar o outro lado das Portas da Morte, como poderiam enfrentar as ondas de monstros que estão passando por elas, especialmente se os gigantes estiverem a espera deles?

    -Todos os monstros passam pela Casa de Hades? - pergunto - de que tamanho é esse lugar?

    Bob da de ombros.

    -Talvez sejam mandados para outro local quando passam. A Casa de Hades fica na terra, não é? Lá é domínio de Gaia. Ela pode enviar seus súditos para onde quiser.

    Se Gaia pode enviar esses monstros para onde quiser, então ela pode envia-los aos acampamentos Meio-Sangue e Jupiter. Tanto quanto pode deixa-los no caminho do Argo II, antes que o navio sequer chegue perto do outro lado das Portas. Mas pode piorar.

    -Então ela pode controlar onde eu vou parar?

    Bob coçou o queixo.

    -Você não é um monstro. Talvez seja diferente com você.

    Ótimo. Tudo o que preciso é de um "talvez".

    Mas agora, pensando no outro lado das Portas... E se eles não chegarem a tempo? Ou se ja estiveram lá, mas eu não estava? Não faço ideia do que pode estar acontecendo com eles agora... nem sei mais quando é agora. Dei uma semana a eles, mas talvez essa semana ja tenha passado, ou ainda falte um dia. Não pude falar com Grover novamente. Aliás, Annabeth ja fez 17 anos?

    A quanto tempo eu estou aqui?

    -Percy? Tudo bem? - perguntou Bob, me fazendo sair dos meus pensamentos. Não percebi que tremia, e espero que ele também não.

    Alguma coisa que pensei pode estar certo. Mas não adianta pensar em "e se?" ou suposições. Eu preciso focar no aqui e no agora... no meu agora.

    Não importa o que aconteça. Eu vou fechar as Portas da Morte.

    Não pelos deuses.

    Mas pelo o mundo.

    E vou lutar com todas as minhas forças, fazer o que for preciso, para que dê certo.

Mesmo que eu não saia daqui.

    -Sim, estou bem.

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Revisado!

Dark PercyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora