iii. vazio

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como um sussurro em meus tímpanos, ele se alastra por cada centímetro do meu corpo de modo quase imperceptível, desmembrando minhas barreiras e causando caos tão silenciosamente que, apenas quando tudo foi consumido por ele, é que sou capaz de notar sua presença tão vazia.

pensamentos, sentimentos e tudo o que tem a capacidade de me transformar em um pouco mais humana simplesmente levantam voo e partem para o mais distante de mim. meu peito se torna vazio, meus olhos são tomados pelo vazio e eu me torno tão, tão, tão vazia.

vazia de um modo tão incômodo que me seca a garganta e cada respiração que escorre do meu corpo se torna uma nota errada de uma melodia. de repente sou capaz de notar tudo ao meu redor, as coisas mais tolas e as mais imperceptíveis que sequer fazem diferença no meu cotidiano. e, ainda assim, toda essa percepção não significa nada porque não sinto nada.

não me animo ao ler mais uma página do meu livro favorito, não me contenho de alegria ao ouvir uma música que amo ou pulso de felicidade quando meus lábios provam algo que me encanta. nada tem graça, sentido ou cor. a vivacidade de tudo simplesmente se perde e eu me sinto como o vazio.

e eu, como uma tola, busco desenfreadamente por aquele sentimento, ao menos uma mínima faísca, de sentir algo. pois o vazio é tão inóspito, tão inquietante que senti-lo me quebra por dentro e me faz questionar se eu estou tão quebrada ao ponto de não ser capaz de sentir.

mas eu quero sentir algo, nem que seja a dor mais profunda que a alma humana possa suportar, apenas pelo desejo de me sentir viva outra vez.

enflorias.

minha alma se despeOnde histórias criam vida. Descubra agora