xiv. tempestade

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a gota d'água pingando no meu teto, a ventania me arrepiando os braços e acalentando meu peito ardente que outrora clamara por piedade e o som que o mesmo faz quando seus traços se desenrolam e se condensam com os meus. tudo no mundo, no universo, sob uma perspectiva inovadora e estranha que só o pós caos pode trazer.

enquanto estive na tempestade, foi inevitável permitir que as suas ondas arrebatadoras me levassem para longe da superfície, da calmaria e de mim. lá, fui a minha versão menos bonita e ainda assim a mais controlada, mantive os pés no chão enquanto era levada de um lado ao outro sem pena alguma.

mas, enfim, o mar revolto acalmou-se e suas águas aos poucos tornaram a traçar linhas delicadas pela areia quentinha. eu pude, por fim, respirar o ar puro e me pus a cair sobre a quentura delicada daqueles grãos abaixo do meu corpo.

foram tantos os olhares estranhos que recebi, o questionamento do porquê só desabar e quebrar depois que a tempestade se foi. quase faltou-me palavras, uma maneira mais ínfima de responder, que no caos eu não era eu, e que no fim dele eu finalmente retornei.

porque a dor daqueles dias me quebrou aos poucos, e cair só naquele instante seria o bastante para eu quebrar e me moldar de novo, sentindo calmamente a plenitude que só o final da destruição causa.

minha alma se despeWhere stories live. Discover now