𝐘𝟓: Grimmauld Place

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Até o início do verão de 1995, eu não sabia da existência do Largo Grimmauld N° 12.

O lugar ficava escondido entre os números onze e treze de um conjunto de casas feias, escuras e iguais; protegido por milhares de feitiços de primeira categoria para que a propriedade ficasse longe dos olhares curiosos dos trouxas.

Andando pelos corredores mal iluminados da casa, era possível perceber que o seu interior era tão escuro e abafado quanto quando vista de fora; e eu me atreveria a dizer que a suntuosa residência da família Black era de um aspecto hostil ao extremo.

As paredes eram forradas com tapeçarias e papéis de texturas exóticas e caras demais para que um indivíduo comum pudesse pagar, e era assim que a minha avó paterna costumava lidar com tudo o que fizesse parte da sua vida. Para ela, dinheiro e poder deveriam andar entrelaçados sob quaisquer circunstâncias; e, se aquela era a nobre residência dos Black, então cada cômodo que fizesse parte dela deveria ser minimamente apresentável.

No geral, a casa seria linda se não houvesse uma grande pintura de Walburga Black presa à parede por um feitiço autocolante muito forte. Havia uma cortina escura e comprida que pendia do teto e bloqueava a visão do quadro, mas qualquer barulho um pouquinho mais alto do que o normal fazia com que a mulher despertasse de seu "sono" (quadros não dormem realmente) e que começasse a gritar insultos absurdos e inimagináveis contra quem quer que estivesse passando por ali.

De resto, a mobília seguia os padrões arquitetônicos do século XVIII: móveis talhados em madeira, lustres e enfeites de cristal, e uma mistura perfeita dos tons escuros de verde e prata da bandeira da Sonserina. Havia, ainda, um piano de cauda muito parecido com o que papai mandara instalar na sala de estar da nossa casa em Godric's Hollow. As teclas estavam meio empoeiradas quando eu cheguei, mas Remus afirmou que não havia nada que uma boa limpeza não pudesse resolver.

Antigamente, no período que antecedeu a Primeira Guerra Bruxa, o Largo Grimmauld era apenas a Mui Antiga e Nobre Casa dos Black. Depois, quando a mãe do meu pai já havia morrido e a minha família herdara a propriedade para usá-la como bem entendesse, foi anunciado que aquela seria a mais nova sede da Ordem da Fênix — uma sociedade secreta anti-Voldemort, fundada na época em que os meus pais ainda frequentavam a escola.

Quando papai anunciou que não voltaríamos para casa naquele verão e que eu não deveria contar a ninguém sobre o que estava acontecendo conosco, senti-me profundamente irritada. Como ele esperava que eu sobrevivesse a uma temporada inteira trancada naquele lugar sabendo que os meus amigos buscavam notícias?

Assim que passamos pela porta da frente e entramos na casa, fui surpreendida pela presença de pelo menos uma dúzia de pessoas. Aparentemente, elas já estavam de saída. Papai me conduziu até a cozinha e me instruiu de forma que eu sentasse diante da lareira escura que havia ali. Até mesmo os azulejos da propriedade eram talhados em mármore enegrecido.

Ainda na noite da nossa chegada, Dumbledore apareceu com Minerva McGonagall e Kingsley Shacklebolt. Os bruxos trajavam capas de viagem simples que aparentavam ter sido passadas à ferro quente havia pouco tempo e tinham expressões muito sérias estampadas no rosto.

Dumbledore nos desejou uma boa noite e sentou-se ao meu lado na extremidade direita da extensa mesa de madeira. Minerva e Kingsley permaneceram em pé.

— Suponho que a senhorita já saiba o porquê de estarmos aqui — começou ele.

— Estou ciente, sim — afirmei. — De uma pequena parte, pelo menos. 

— Ótimo — disse Dumbledore. — É justamente sobre isso que precisamos conversar.

Alternei o olhar entre ele e as pessoas que estavam ali. Papai tinha as mãos cruzadas sobre a mesa, Minerva e Kingsley observavam o diretor atentamente, como se absorvessem cada palavra que saía da sua boca, e Remus preparava uma xícara de chá quente para cada um de nós. Ao que parecia, ele chegara havia pouco tempo.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterWhere stories live. Discover now