𝐘𝟕: Sunflowers

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O enterro de Harry, bem como de Remus e de Sirius e dos outros mortos da guerra, aconteceria no dia seguinte, nos jardins de Hogwarts, que foram restaurados após a onda de carnificina em apenas algumas horas após a última batalha.

Estava nublado, com nuvens pesadas que indicavam chuva. Um espaço fúnebre fora improvisado com os caixões das pessoas que se foram, além de assentos reservados aos familiares e amigos dos mortos. Quando verifiquei o relógio pela última vez, eram dez e quarenta e cinco da manhã; o velório começaria às onze.

As melhores cadeiras foram reservadas para minha família, meus amigos e eu, logo na frente das demais. Fiquei entre minha irmã e Draco, que fora reconhecido como inocente e iniciava o processo de reinserção social, diferentemente de seus pais, que, quando fossem encontrados, iriam para a cadeia. Mamãe e Lene permaneceram ao lado de Maddie, e Ron e Hermione, perto de meu primo.

Todos usavam preto. Escolhi roupas confortáveis, pois tinha planos de ficar com elas pelo restante do dia, chorando no dormitório da Sonserina, que fora designado para abrigar as pessoas que se dispuseram a ajudar na reconstrução de Hogwarts depois de sua ruína. Minha família e eu resolvemos ficar porque Harry, Sirius e Remus iriam querer assim.

Eu usava o casaco que era dele, o que tornava tudo pior porque eu ainda podia sentir o seu cheiro. Hermione disse que seria melhor para mim se eu o tirasse, pois ajudaria no "processo de superação", mas recusei-me terminantemente. Eu nunca superaria Harry, nem os momentos que aproveitara com ele.

Para Hermione, era bem mais fácil falar. Ela me contou, depois que levaram o corpo de Harry para longe de mim, e após me forçar a tomar uma xícara de chá quente para acalmar os nervos, que ela e Ron tinham se beijado, na Câmara Secreta. Aconteceu quando foram buscar pelas presas do basilisco. Era óbvio que os dois estavam nos estágios iniciais de um relacionamento, pelo modo como vinham se tratando desde então, portanto Hermione deixou-se levar pela paixão. Achava que me entendia porque admitira que gostava de nosso amigo, mas era completamente diferente. Ela nunca saberia como era se apaixonar pelo melhor amigo de infância. Não entendia a dor enorme em meu peito. Especialmente porque Harry e eu tínhamos o nosso laço de almas gêmeas, e Ron e Hermione não.

Às onze horas em ponto, o homem responsável por conduzir a cerimônia fúnebre apareceu usando vestes pretas com detalhes em dourado. Ele se dirigiu até o pódio que fora montado na frente de todo mundo e começou a se preparar para dar início aos ritos. A cada instante, o cenário ia ficando mais real e mais horrível, tornando-se impossível de permanecer calma. Meu coração estava a mil por causa da ansiedade.

Percebendo isso, Draco segurou minha mão, apertando-a. Olhei para ele. Uma expressão solidária banhava sua face.

— Vai ficar tudo bem — assegurou. — Pode apertar a minha mão quando quiser se sentir melhor. E se precisar chorar, tudo bem também.

Tentei dar um sorriso de agradecimento, que saiu meio forçado devido à noite em claro. Os acontecimentos do dia anterior ainda estavam vivos demais em minha cabeça.

— Obrigada — falei.

— Você pode contar comigo, S/N.

Assenti.

— Eu sei. Você também pode contar comigo.

Fiquei pensando em como Harry e eu estaríamos naquele exato momento se ele não tivesse morrido. Acho que teríamos participado do funeral e, depois de reconstruir Hogwarts, iríamos para a casa que ele comprara para a gente. Com Sirius e Remus vivos, faríamos um almoço legal para a família, em comemoração à derrota das Artes das Trevas, na guerra, e depois seguiríamos com a vida. Mas não era real, e meus devaneios foram interrompidos pelo cerimonialista.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde as histórias ganham vida. Descobre agora