33

69 8 7
                                    

2020.12.24

16:37

TEXTO 33

Pela quarta vezes na semana, acordei torcendo para que aquilo ainda fosse mentira, que a qualquer momento acordasse desse terrível pesadelo, mas infelizmente era real. Os médicos me mantiveram sedada esse tempo, ou desacordada, por ainda não conseguir me acostumar e sempre surtar quando vejo onde estou, eles até fizeram uma série de exames psicológicos, chegando a conclusão que eu era agorafóbica, eles me explicaram e passaram vários remédios que necessito tomar, mas nada mudava. Em relação a cirurgia, já estava apresentando melhora, mesmo que não pudesse correr ou me esforçar demais, já conseguia me manter em pé por alguns minutos, sem sentir dor. E enquanto aos outros assuntos, ainda não consigo aceitar e nem mesmo quero falar sobre com ninguém.

Já havia passado do horário, mas nenhum deles apareceu para vigiar o meu quarto, então aproveitei para sair um pouco, com eles aqui não tenho um segundo sozinha, pois, sempre pensam que vou fugir ou algo do tipo, como aconteceu a três dias atrás. Levantei da cama com certa dificuldade e caminhei lentamente até a porta, sentindo o gelado do chão, abrindo-a, olho em volta, não havia ninguém. Passei pelos corredores, ainda sentia o ar faltar em meus pulmões a cada passo que dava, não pelo fato de estar forçando, mas pelo medo que atingia, o que só aumentava quando via alguém.

Depois de tanto tempo presa naquela casa, era a primeira vez que via alguém sem desmaiar, não conseguia me acostumar com esse fato de ver pessoas novas, as vozes em minha cabeça repetiam que elas me levariam de volta para meu "pai", o que só me apavorava ainda mais. Mas, não esperava encontrar com policiais no corredor D, eles conversavam atentamente com uma mulher de cabelos castanhos claros, meu coração disparou ao ouvir:

"Eu tenho certeza, senhores. Era a menina que estão procurando, Kim Yun!", me escondi atrás da parede, minhas pernas fraquejaram e tive que me segurar para não cair, quase não conseguia respirar e podia sentir que estava prestes a desmaiar.

"Eu preciso… sair daqui!", sussurro.

Em um ato de desespero, levanto e começo a caminhar o mais rápido que posso, entro na primeira sala que encontro e fecho a porta, repouso minha testa na porta e respiro fundo, tentando acalmar meus batimentos cardíacos. Quando recobro os sentidos, olho em volta em busca de algo e encontro um casaco, uma blusa azul escura e uma calça jeans, jogados em um armário, agradeci a Deus mentalmente por isso. Após vestir aquelas roupas, saio da sala e volto a caminhar, por mais que sentisse minhas pernas bambas, precisava continuar, era questão de sobrevivência, não queria retornar para aquele lugar.

Como não podia entrar no elevador, tive que descer as escadas, parei diversas vezes e tive que me sentir, minha cabeça doía, assim como o ferimento - que ainda estava cicatrizando -. Além disso, precisava me preocupar com a falta de ar que se fazia presente a cada segundo, aquelas vozes não paravam de sussurrar em minha cabeça, me fazendo chorar algumas vezes, mas precisava continuar, só pude respirar aliviada, quando cheguei no térreo, onde finalmente saí do hospital, mas o pior estava por vir. Assim que coloquei meus pés do lado de fora, todo o barulho me atingiu em cheio, pessoas por todo lado, falatórios, o som dos carros, buzinas, tudo se repetia em minha mente como um loop sem fim, estava desnorteada, sem saber o que fazer, sentia tudo girar e só retomei quando senti uma mão em meu ombro, me assustando.

"Você está bem?", questionou um jovem alto, olhar em seus olhos só me apavorou mais ainda, me afastei e saí correndo, sem olhar para trás.

Não estava mais focada na dor que estava sentindo, apenas em seguir em frente, andando pela cidade que nem mesmo conhecia, com os pés descalços, parecendo uma louca, não me importava, apenas queria sobreviver e voltar para casa. Perdi as contas de quantas ruas já havia passado, nem mesmo sabia que horas era, apenas continuei andando sem rumo, vendo todos me encarando estranho, enquanto tentava me esconder, abaixando ainda mais o capuz do casaco. Mas, suspirei aliviada ao ver a entrada da floresta, um sorriso surgiu em meus lábios e andei ainda mais depressa, tinha certeza de que não havia ninguém naquela rua que entrei, o que foi um alívio.

Angels and Demons •myg•Where stories live. Discover now