Capítulo 47

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Aproveitando esse dia de folga para concluir os capítulos.
Espero que gostem! 🖤

Cecília

Duas semanas haviam se passado sem grandes acontecimentos, Theodor tinha proibido minhas visitas, nós nos vimos apenas duas vezes e foram quando ele estava caminhando com ajuda de moletas no pátio, ele me olhava com uma indiferença e machucava como o inferno. Eu tinha tentado uma conversa e tinha sido um caos, mas pelo menos ele não tinha me ameaçado com uma arma.

Hernandes me mantinha informada e eu sabia que ele estava se recuperando muito bem, a pancada no seu crânio tinha atingido o hipocampo responsável por armazenar lembranças recentes, se é que se pode chamar o tempo que passamos juntos de lembranças recentes.

Eu estava tentando me manter ocupada ajudando Diana e sua equipe na cozinha, minhas mãos coçando para pintar algum quadro, mas sabia que nada de bonito iria sair, eu possivelmente iria pintar Theodor com toda a frustração que estava sentindo.

Diana estava me olhando com aqueles olhos carinhosos e cheios de compaixão, eu estava balançando o bebê conforto sobre a mesa, minha menina estava crescendo rápido e seus traços ganhando marcações mais distintas, ela estava ficando ainda mais parecida com Theodor e eu sentia a pontada de ciúmes besta e irracional de mãe.

— ele só precisa de tempo filha, tenha paciência e não se desespere, também não desista de vocês.

Assenti apenas, eu tinha vontade de chorar toda vez que tocava no nome dele, era difícil falar porque eu sempre ficava com aquele bolo estúpido na garganta, eu não queria chorar, não mais.

— vou ficar no pátio, preciso respirar um pouco, essa casa não tem uma janela, me admira muito o pátio não ser coberto, uma falha na segurança máxima do seu chefe - meu comentário saiu mais ácido do que eu pretendia.

Ela sorriu e tocou a bochecha de Camélia com a dobra do dedo.

— vá minha filha, quer que eu fique com ela?

Neguei com um movimento de cabeça.

O pátio estava mais calmo, o número de homens havia duplicado e todos estavam fazendo alguma coisa, eu sabia que tinha uma academia no subsolo, o refeitório ficava no galpão ao lado da cozinha, era um lugar estranho e cinza de concreto e aço. Tudo parecia muito limpo e novo.

Sentei em um banco perto da porta de vigilância. Retirei Camélia do bebê conforto e ela logo se agitou para mamar.

— você sabe, acabei de te dar leite, como você ainda tem espaço para mais?

Ela fez o que sempre fazia, absolutamente nada. Respirei fundo sorrindo para aquela esfomeada. Segurei sua mãozinha e trouxe aos lábios, eu amava aquele cheirinho, era um campo limpo e imaculado, mesmo sendo filha de quem era, minha menina era um anjo em meio ao caos.

Retirei meus olhos dela e tudo ficou em suspenso, Theodor estava a uma distância razoável de cinco metros, estava apoiado em uma moleta apenas, isso era bom, ele estava se recuperando rápido.
Ele vestia suas roupas pretas, eu queria dizer que ele parecia frágil, mas não era isso que ele aparentava, pelo contrário, seu rosto marcado por cicatrizes, seu cabelo maior e desgrenhado o tornava ainda mais perigoso, ele também tinha aquele olhar entediado destinado a nós, seus olhos pousaram em Camélia ou no meu seio quase exposto, eu não poderia dizer.

Ele se aproximou, eu não recuei ou desviei meu olhar, eu não iria sentir medo dele, não poderia cair naquela pressão ou então eu iria desmoronar de vez.

— vi a nossa certidão de casamento, nossas fotos e Hernandes me contou alguns dos pontos altos do nosso relacionamento.

Sua voz era carregada de descrença, aquilo doeu, mas não era nada comparado ao olhar entediado.

Aprisionando PássarosWhere stories live. Discover now