Capítulo 5

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Boa leitura!

Cecília

Já era fim de tarde, minha bexiga estava reclamando para ser esvaziada. Eu não me sentia nada confiante em levantar e caminhar até o banheiro. Uma hora eu tinha que ir, eventualmente.
Sem conseguir aguentar mais eu me apoiei no braço que não estava com o soro, retirei o lençol que estava me cobrindo, eu não tinha parado para analisar, mas eu estava limpa e vestia um dos meus blusões, todo o meu sangue gelou em pensar que aquele demônio me despiu e provavelmente me banhou. Eu queria vomitar, sentia a ânsia e não pude conter o desespero. Eu queria chorar, queria quebrar coisas, mas mal tinha forças para me levantar.

Com muito custo consegui me por de pé, retirei a bolsa de soro que estava presa sobre a cabeceira da cama. Um passo de cada vez, eu sentia a fraqueza das minhas pernas, mas consegui chegar ao banheiro. Segurei o plástico do soro com os dentes e consegui aliviar a pressão na bexiga.

Eu só estava terminando de lavar as mãos quando ouvi a porta do quarto abrir e fechar. Queria ficar alí dentro do banheiro até que aquele infeliz fosse embora, mas eu queria a cama, precisava dela.

Abri a porta e lá estava ele, como era possível existir uma pessoa tão cruél, tão cheia de merda para pensar que poderiam tomar a vida das outras pessoas, brincar com a vida delas. Eu o fitei como nunca havia feito, estava caminhando a passos lentos até a cama, ele estava parado junto a janela. Ele sustentou meu olhar, queria dizer que consegui encontrar qualquer resquício de humanidade naqueles olhos negros, mas não consegui ver nada além de indiferença. Ou deveria dizer, maldade mascarada com indiferença.

- foi você quem me despiu?

- sim, eu precisava te limpar.

Fechei os olhos, vergonha, nojo, eram esses os sentimentos mais fortes que eu sentia em pensar que ele tinha me tocado.

- não havia nada de sexual no meu ato, tenho sangue de muitas mortes em minhas mãos, mas eu nunca abusei sexualmente de ninguém.

O pior é que eu acreditava nele, mas havia todo o abuso mental que era a mesma merda.

- eu não entendo - me detive pensando na melhor forma de falar com ele, eu o odiava mais que a compreensão, mas não queria voltar para aquele lugar, nunca mais.

Ele ficou em silêncio, esperando eu continuar.

- o que você quer de mim?

Perguntei por fim. Eu já tinha chegado até a cama e já tinha conseguido me deitar.

Ele se manteve calado por alguns segundos. Seu olhar não deixou o meu em nenhum momento, era aterrorizante, mas me forcei a manter o contato visual.

- eu só estava intrigado com a sua falta de senso de autopreservação, então fiquei um pouco mais intrigado com a sua coragem, o fogo que há dentro de você, gosto disso.

- eu ainda não entendo.

Ele se afastou da parede, veio se aproximando da cama com seus passos firmes.

- eu conquistei tudo, não existe nada que esteja fora do meu alcance - ele parou perto, estava difícil sustentar seu olhar, foi ele quem desviou os olhos para um ponto abaixo dos meus, senti ânsia em pensar que ele poderia estar olhando para meus lábios - você é interessante, eu nunca fico entediado com você, até mesmo agora, sei que me odeia de uma forma aterradora, mas continua aí, sustentando seu olhar sobre mim, tentando entender a situação, lutando. Confesso, você me surpreendeu, eu subestimei sua força, você é realmente uma mulher interessante...

- o que isso quer dizer? Você me acha interessante e então o que? Vai me prender aqui até ficar entediado e vai me matar? Vai me manter aqui pra sempre e me torturar até que eu não aguente mais?

Aprisionando PássarosOnde histórias criam vida. Descubra agora