Capítulo 4

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Mais um capítulo, boa leitura!

Cecília

Sete dias, eu estava presa naquele quarto por sete dias.
Minhas pálpebras estavam inchadas de tanto chorar.
Meu pulso, cabeça, tudo doía e eu temia perder toda a melanina do corpo de tantos banhos que eu tomava. Não era por outra coisa, senão tédio.
Nada acontecia, eu apenas ficava ali, com medo do que viria a seguir, mas nada acontecia, o que de certa forma era até melhor.
A vista da janela consistia em um pátio vazio. Os muros altos não permitiam ver nada além do céu, lembro-me que o caminho até sua casa era uma subida, eu acreditava que estávamos em uma colina perto da praia, lembro do trajeto ficar em paralelo às dunas.
Pelo menos eu tinha a vista do céu que me proporcionava um momento de esquecimento da minha situação. Algumas gaivotas voavam por alí, uma vez eu vi uma ave branca de bico longo, eu não poderia dizer qual a sua espécie, mas de uma forma estranha me senti conectada a ela, mais uma constatação de que eu estava ficando débil em meu confinamento.
A pobre ave foi embora e de certo deve ter percebido que era perigoso ficar naquelas redondezas. Ave esperta, ave sortuda.

Eu temia ficar louca sem ter o que fazer, eu já tinha decorado cada pequeno detalhe daquele quarto.

Vez ou outra eu me pegava testando a maçaneta do quarto, a esperança era a última a morrer e eu ainda tinha esperanças de sair daquele lugar.

No nono dia de confinamento eu me vi desesperada por algum acontecimento. Bati na porta a espera de algo, o quê? Eu não sabia.

" Me tirem daqui!"

" Alguém por favor me tira daqui!"

Eu gritava e quando menos percebi estava descontrolada, totalmente movida pela raiva, desespero, eu estava histérica.

" Eu preciso sair daqui, alguém por favor!"

Então eu achei que seria inteligente bater na grade de ferro, talvez alguém estivesse passando pelas redondezas e pudesse me ouvir. A idéia me pareceu tão óbvia e eu me chinguei mentalmente por não ter pensado nisso antes.

Peguei o abajur e retirei a lâmpada. Eu bati com o alumínio do abajur na grade e comecei a gritar por socorro, eu estava na minha quinta batida quando ouvi a porta do quarto abrir com impacto. Lá estava ele, me apressei em bater mais e a gritar com o máximo da minha voz, logo eu estava sendo tirada do chão, sua mão veio ao encontro da minha boca, mas dessa vez eu estava no meu limite, eu o mordi com força e me debati em seus braços. Ele me jogou na cama.

- porra, se controla!

- socorro, alguém me ajuda!

Ele tapou minha boca com a mão que eu tinha mordido. Eu esperneei, chutei e em um determinado momento consegui encontrar forças para apertar sua ferida, ele afrouxou seu aperto e eu me apressei em levantar. Eu estava tão surpresa, não demorei olhando sua expressão, eu apenas me afastei indo para o outro lado da cama, eu corri em direção a porta, Deus, meu coração parecia que ia explodir.

Ouvi o som de uma arma sendo engatilhada, mesmo assim, corri seguindo para o corredor, fui surpreendida por um homem apontando uma arma para mim, eu parei, todos os meus instintos diziam para me manter parada, para desistir, mas eu não queria continuar naquela loucura. Olhei para trás vi meu captor apontando sua arma para mim, era uma luta desigual, eu estava derrotada, mais uma vez.

- venha aqui.

Me virei. Ele estava sem expressão.
Caminhei em sua direção, me muni de toda coragem, totalmente influenciada pela adrenalina que ainda estava tomando conta do meu corpo. Estava a um passo de distância.

- pode sair Hernandes.

Ouvi os passos do homem e logo éramos apenas nós dois no corredor. Eu queria tirar a arma de sua mão, eu teria coragem de disparar contra seu peito? Olhei para seu ombro, o sangue manchava sua camisa cinza. Deus, em que eu havia me tornado. Eu o mataria se tivesse a chance?

Aprisionando PássarosWhere stories live. Discover now