Capítulo XII

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Aurora


A neve cai em Montenaro sem nenhuma pressa e as lembranças de brincadeiras nessa época do ano me trazem um leve sentimento de nostalgia e liberdade e sorrio ao pegar um floco em minhas mãos. Eu estou no jardim sentada na grama pronta para ler a Bíblia antes que o meu dia cheio de compromissos enfadonhos comece.

- Te peguei no flagra,princesa! - Sarah me assusta com sua chegada mais que alarmante - O que está fazendo aqui essa hora?

- Estava tentando fugir de você. - Disse num tom brincalhão e ela nega com a cabeça - Como descobriu meu esconderijo?

- Esconderijo? - Ela desdenha gargalhando - Aurora nós brincávamos aqui quando éramos crianças,esqueceu?

- Não...- Falo nostálgica ao lembrar que naqueles tempos Bárbara ainda era viva e ela brincava conosco enchendo mais ainda nossos dias de alegria.

Parecendo estar lendo meus pensamentos,Sarah pega alguns flocos de neve nas mãos e sorri pra mim dizendo:

- Quando a neve caía e a gente ficava maravilhada com o branco que ela deixava na paisagem a mamãe sempre dizia pra mim que quando temos Jesus e o sangue Dele nos purifica nós podemos nos tornar alvos como a neve,eu achava isso incrível!

- Que lindo amiga,e porque você não acha mais incrível?

- Não sei...- Sarah olha pra mim com os olhos marejados e continua - Depois que a mamãe morreu eu achei que Ele teria se afastado de mim e por isso não O busquei mais...

- Não Sarah,não. - Chego mais perto dela e seguro em suas mãos - Ele ainda está aqui,sua mãe se foi mas Deus ainda está aqui,sempre estará!

- Como pode falar isso com tanta convicção,Aurora?Como? - Ela pergunta com a voz trêmula e sei que há um vazio ali dentro daquele coraçãozinho assim como havia no meu e no coração de muitas pessoas.

- Porque quando eu me dispus a buscá-lo com todo o meu ser e a ouvir Sua voz de verdade pude compreender muitas coisas e a principal delas é que Jesus estará conosco até a consumação dos séculos,entende?É pra sempre amiga!

Nós duas ficamos em silêncio só observando a neve cair e a paz daquela manhã invadir nossos seres.

- "...Alvo mais que a neve,alvo mais que a neve se nesse sangue lavado mais alvo que a neve serei..." - Minha amiga cantarola a música que sua mãe cantava pra que acordássemos nos dias que tinha neve e hoje entendemos o significado dessa letra tão linda!

🦋🦋🦋

- Eu ainda não acredito que você recusou o pedido de casamento do príncipe Bernardo,não acredito! - Mamãe repete seu lamento pela milésima vez e respiro fundo pedindo ao Senhor uma dose a mais de paciência. Sarah olha pra mim com um largo sorriso no rosto,provavelmente rindo da minha situação.

- Mãe eu já expliquei os meus motivos,eu não quero me casar com alguém assim só por conveniência. Eu prometi tomar uma decisão até a data prevista para a coroação,não se preocupe!

- Mas é claro que eu me preocupo,Aurora! - Ela esbraveja e me olha firme - Você sabe que na posição em que se encontra o seu povo e seu reino devem estar em primeiro lugar!

- E estão Majestade,eu garanto. - Sarah entra na conversa com o intuito de me ajudar,creio eu - Conhecendo a Aurora como eu conheço sei que ela está pensando no melhor para a nação,confie nela! 

Olho para minha amiga com um sorriso cúmplice e agradeço com um simples gesto a intervenção a meu favor.

- Tudo bem,eu irei confiar. - Mamãe levanta-se de onde estava e se coloca a minha frente - Mas se até a coroação você não se resolver terá que casar com Bernardo,querendo ou não!

Ela sai da sala nos deixando à sós e agradeço à Deus por essa conversa ter tido um final esperado. Depois do meu baile de aniversário e do meu pedido de casamento inesperado tive uma longa conversa com os meus pais e os pais de Bernardo para explicar que não queria me casar dessa maneira tão forçada e mesmo sabendo que na realeza os matrimônios são assim pedi a eles um tempo para entender de fato tudo que está acontecendo comigo e assim foi,todos me entenderam mas deixaram bem claro que eu só tenho até o dia da coroação pra me decidir.

Livre dos meus compromissos da manhã decido ir até a Biblioteca e enquanto ando pelo corredor passo pelo Gabinete Real do meu pai e ouço vozes vindas de lá então paro e resolvo escutar - não que isso seja algo que eu faça sempre.

- O melhor seria executá-los,Majestade. - É a voz de Beltazar,com certeza - Essas pessoas precisam aprender a respeitar nossos deuses e deusas e nada melhor do que mostrar ao povo de Montenaro o que acontece com os atrevidos!

- Assim a nação temeria qualquer tipo de desrespeito e enfim teremos o controle da situação...- Meu pai concorda e fico abismada com tamanha falta de amor pelo nosso povo - Esses cristãos precisam aprender quem manda nesse reino de verdade!

- Então vamos,todos estão esperando a sentença do Rei. - Ao perceber que os dois irão sair corro dali com o intuito de me esconder e entro na primeira porta que encontro me deparando com Bernardo tocando piano na sala de música do Palácio.

- Aurora? - Ele indaga com as sobrancelhas arqueadas e sorrio fraco - O que faz aqui,o que houve?

- Eu..eu..bem.. - Ele vê que não consigo dizer nada e levanta de onde está e vem até mim segurando minha mão me acalmando.

- Calma,respira e me diz,o que aconteceu?

- Nada,eu preciso resolver algo muito importante! - Saio correndo dali deixando ele me questionando do que se trata e  porquê tanta presa mas não dá tempo de dar explicações.

Corro desesperadamente até o salão onde acredito que meu pai e Beltazar foram e ao chegar a porta está aberta e meu pai está de frente pra mais de uma dezena de pessoas com as mãos amarradas e com semblantes tristes e preocupados. Se o que eu ouvi de fato for verdade elas irão morrer da forma mais injusta possível.

Fidelidade Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz