[1.7] o que se foi

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                                🚬

Não consegui o ver pela última vez no aeroporto, como nos filmes clichês, virar pra trás e o ver olhando também. No dia em que ele foi embora, eu estava numa sala de aula começando as aulas extras para as recuperações.

A professora falava e falava, Jiwoo falava e falava, mas eu continuava preso no nada. Era como se por um momento, eu não tivesse mais sentindo. Jimin estava no Japão, ele não estaria no nosso quarto quando eu precisasse apenas dos seus braços. Sua voz não diria as coisas indecentes quando eu precisasse rir um pouco.

E honestamente, qual era o sentido de acender um baseado agora?

Jimin estava longe, mas eu diariamente tinha que lembrar que a vida não parava, mesmo quando tudo dentro de mim estivesse pausado.

E era um saco, porque tudo dentro de mim chamava por ele e por algo que não sabia denominar, ao mesmo tempo que existiam represálias.

Foi numa das madrugadas em que eu estava deitado no chão com o celular ao meu lado, tocando alguma merda que não tinha mais graça, que eu decidi ignorar exatamente tudo e fazer o que eu tinha que fazer no automático. Negando a mim mesmo que estava esperando uma ligação dele.

Aconteceu apenas duas vezes, quando ele chegou e quando teve que avisar que talvez demorasse mesmo para ligar. Ainda assim tinha sempre mensagens de bom dia, boa tarde e boa noite. Além das diversas fotos que ele me mandava. Eu retribuia, mandando foto dos livros que sempre estavam na minha cara.

Foram somente oito dias, que eu odiei no começo, mas quando chegou no final eu descobri que poderia piorar.

Mudar de ambiente e terminar um ciclo era algo comum e normal para algumas pessoas, a maioria talvez. Entretanto, para mim, não era tão fácil. Enquanto empacotava minhas coisas do quarto, que não eram tantas, eu mascava um chiclete fervorosamente, sentindo a mandíbula doendo. As mãos tremendo e o frio na barriga eram assustadores, mesmo assim eu sorri quando Jiwoo entrou perguntando se eu estava pronto.

Não estava, nem para sair dali tanto quanto para ter que lidar com uma nova vida.

Ao chegar no loft que Jimin havia gentilmente me emprestado, eu sentei no chão, abracei minhas pernas e chorei, sentindo minha melhor amiga solidão fazer companhia. O lugar estava com cheiro de produto de limpeza e eu senti falta do aroma característico do dormitório.

Ao menos tirei as coisa da caixa, apenas subi as escadas e me joguei na cama. Foi uma vergonha passar quase três dias jogado nela, ignorando quem quer que ligasse ou mandasse mensagem. Mas no quarto dia eu tive que fazer o sacrifício, porque Jimin havia enchido minha caixa de mensagem me xingando e eu não podia ficar sem retrucar a demonstração de amor.

Evitei espelhos e superfícies que pudessem refletir minha imagem, não queria me ver, porque sabia que seria só mais uma coisa para me fazer querer voltar para a merda da cama. Consegui arrumar as roupas e marcar um horário com Jiwoo para conversar sobre o bar, enquanto fazia um almoço bem careta.

Na televisão passava algum episódio de um desenho colorido e sem sentido que eu gostava de assistir quando pequeno, as vozes com piadas toscas soavam por toda casa, tirando de mim risadas rasas,  ainda assim honestas.

Não demorou para que o miojo ficasse pronto, me fazendo suspirar e deixar de lado o enjoo que subiu, pegando a panela com o pano e seguindo até o sofá. A primeira garfada já estava no meu paladar, quando a campanhia tocou, era alta e estridente, o que fez eu me assustar e quase derramar todo o macarrão em meu colo.

Quase xinguei, mas prendi os palavrões e trinquei o maxilar. Descendo a raiva pela goela junto com o alimento cancerígeno, levantei e marchei até a porta. Demorei pra abrir, ainda estava me acostumando a aquela fechadura estranha, mas quando consegui, desejei que a chave tivesse quebrado dentro e eu só conseguisse sair uma semana depois.

Erva, love e você | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora