4- Threads and scissors.

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- Eu estou um caco. - Digo á Mason.

- Estou percebendo, mas não entendo.

- Nem eu, cara. Não achei que ela brava de verdade comigo seria um problema, entende? Tipo, okay, nós não somos amigos mas, tivemos nossos momentos.

- Tipo? Sempre te ouvi falar mal pra cacete dela. Sempre.

- Teve alguns... Por exemplo o dia que ela conheceu a minha vó. Foi antes do ensino médio, e é até por isso que ela quer o meu piano.

- Até eu quero aquele piano. Deve custar milhares.

{...}
Flashback
2009 - Oitavo ano.

- Esse piano era meu, sabia Sina? - Minha vó a diz.

- Sério dona Grace?

- É, querida... Ele é de quando eu tinha apenas trinta anos de idade e tocava profissionalmente em eventos e festas. É lindo, não?

- É maravilhoso! - Ela sorri levemente. - Consegue mostrar alguma coisa?

- Oh... Estou enferrujada, Sininho.

- Por favor, Grace... Eu aposto que vai sair maravilhoso.

- Certo, certo... Só um pouquinho.

Enquanto vovó Grace perfeitamente deslizava os dedos pelo enorme piano, Sina parecia fascinada. Parecia ouvir o som que os anjos faziam, e isso era algo que por um segundo, compartilhávamos.

Nossos olhos se encontram por breves segundos, que me permitem sentir sua calmaria.

{...}

- Oh, bom... - Mason coça sua nuca. - Se vê ela como sua amiga, porque sempre fez de tudo para a foder?

- Porque foi assim que o nosso relacionamento cresceu. Eu achava que o pai dela ia se jogar na minha mãe e ela, que a minha mãe ia se jogar no pai dela. Mesmo depois que percebemos que não era assim, todo o ódio e insegurança já era grande demais para se desfazer com duas crianças orgulhosas, então só prosseguimos.

- Vou fingir que entendi.

- Eu juro que faz sentido. Até porque ela também já fez muita coisa pra me foder.

Do nada, Mason para abruptamente ao meu lado, e puxa meu braço.

- O que é?!

- Dessa vez não só ela vai te foder. - Ele aponta para Cam vindo na minha direção.

Esse porra nem estava na escola á dois minutos atrás e agora quer me vir com essa historinha de me pegar na saída?! Ah, por favor...

Nenhuma palavra foi dita antes que seu punho tentasse atingir minha bochecha direita. Eu desvio, e volto com um soco em seu estômago, o qual não parece ter sido forte o suficiente para o irritar ou machucar de mais.

- Merda... - Digo para mim mesmo.

Ele me atinge no rosto devido á minha distração. A sensação nem se compara a da Sina, que eu já achava absurdo. Isso foi muito pior, muito mais dolorido.
De um jeito estranho, a adrenalina se espalha pelos meus braços, misturada com raiva e determinação. Que porra de idiota.

Enquanto ele se gabava para a roda de pessoas que havia se formado a nossa volta, eu lentamente levanto meu braço direito, reunindo todas as forças que tinha para apenas um golpe. Imaginando sua felicidade indo embora, avanço rapidamente sobre seu queixo, sentindo dor até mesmo em meus dedos.

Podia ver uma silhueta conhecida entrar no meio da roda antes que ele caísse no chão e desmaiasse.

- Que porra é essa, Urrea?!

- Seu namorado descontrolado veio tirar satisfação comigo!

- Ele não é mais meu namorado graças a você, seu maníaco!

- Não faça tanto drama em cima de um jogador qualquer que não é nada além de um esquenta-banco inútil!

- Como se você fosse qualquer coisa melhor!

- Pergunte pra quem já passou na minha cama.

- Pode ter um pau mágico, mas absolutamente nada vai te dar um cérebro funcional.

- Está dizendo que tenho um pau mágico? - Sorrio sarcástico.

- Por Deus, Noah porque simplesmente não some assim como seu pai?!

A roda toda silencia de uma vez, assim como eu.

Algo que só Sina sabe. A única coisa que sempre vai me assombrar.

- Como é? - Minha garganta seca, e a voz sai baixa até de mais.

- E-eu não quis dizer isso... Merda, eu-

- Você está certa Sina, você merece a porra de um esquenta-banco que só quer te foder. Isso já é até de mais pra você.

Viro as costas e esbarro em diversos ombros até estar longe de tudo.

- Noah! - Sina grita enquanto tentava como louca me alcançar.

Sua voz me enoja, me motivando a correr ainda mais rápido, até que não a ouvisse mais. A única coisa que havia me esquecido era do fato dela ser uma atleta.
Seu corpo se põe em frente ao meu abruptamente, me obrigando a parar.

- Noah, me escuta por favor... Eu sinto muito, não pensei antes de falar.

- Sim, você pensou! Pode apontar o dedo na minha cara e dizer que eu sempre fui o monstro entre nós dois mas ambos sabemos que você é muito pior! Quando se vem á você e os seus interesses, você faz qualquer coisa, nem que isso foda ou prejudique os outros!

Seus olhos encharcados me mostram exatamente o que eu estava sentindo por ela agora. Isso é recíproco. Sempre foi.

- Você é uma vadia com um coração frio e um passado muito pior que o meu, Sina Deinert. Não ache que um pedido de desculpas vá me fazer acreditar que você tem qualquer tipo de sentimento. - Eu completo.

- Já cometi erros piores. Sabe quais?

Reviro os olhos fortemente, enquanto ela se aproxima com o rímel borrado e o rosto vermelho.

- Achar que isso algum dia iria funcionar. Você ou eu ganha, o vencedor pega o prêmio e acabou. Bom, eu detesto te dizer isso mas, estamos presos, sempre estivemos. Sabemos que a aposta é um jeito de manter a nossa convivência menos tediosa, e sabemos que esse ódio não era real mesmo até ontem. Mas agora que eu te desprezo, Noah, saiba que é pra valer. Saiba que eu vou fazer o que for preciso e o que não for pra te foder.

- Oh eu não diria isso, Sina. Você se esqueceu? Eu tenho suas fotos. - Sussurro. - Então eu que digo, linda, eu vou fazer de tudo pra te foder. Você está na beira do abismo e eu estou te segurando com um fio e uma tesoura.

Bato em seu ombro antes de voltar a andar para casa enquanto ascendo um cigarro, finalmente sabendo que Sina Deinert tem motivos reais para ser ferrada em minhas mãos, e isso nunca foi tão satisfatório.

happy ending | noartWhere stories live. Discover now