XVIII - Veneno

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Um tipo de rotina se estabeleceu as semanas seguintes ao meu primeiro jantar em família – não era confortável exatamente, mas havia algo solido em seguir um cronograma tão bem definido

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Um tipo de rotina se estabeleceu as semanas seguintes ao meu primeiro jantar em família – não era confortável exatamente, mas havia algo solido em seguir um cronograma tão bem definido.

Minhas manhãs eram compostas por quatro horas de aulas, com poucas e nenhuma pausa – o novo mundo foi se abrindo para mim com sua história, política, economia e ciência. As três primeiras eram emaranhados de datas e números que faziam minha cabeça doer, mas a última da lista se tornou surpreendentemente a minha favorita. Os pequenos detalhes explicando a diferença gritante entre os dois lados do oceano.

Eu almoçava com Marise, cinco vezes na semana, e ela parecia estar se esforçando para não forçar em mim a visão que tinha de minha mãe ou do que desejava que eu fosse. Por vezes, em nossas conversas curtas em meio as refeições, ela deixou escapar perguntar sobre a Eurásia e meu passado, parecendo se repreender por isso em seguida. Imaginei se ela não tinha medo que eu sentisse saudades demais e partisse na calada da noite, mas falar sobre o passado deixava ele menos pesado em meus ombros, então eu respondia às perguntas com mais detalhes do que ela provavelmente gostaria. Nos demais dias, era com Christopher que eu almoçava – nossas conversas eram mais densas e, na maior parte dos dias, acabava com algum dos dois cerrando os dentes. Nossa forma de ver as coisas nem sempre era compatível, e o que ele chamava de minha "necessidade de questionar tudo" o irritava constantemente, principalmente quando se tratada do conteúdo das minhas aulas de história.

Então vinham as tardes. Nos cinco dias da semana, Andrew tinha o trabalho de cuidar do meu treinamento – eu esperava receber instruções físicas e talvez no uso de espadas, mas me vi encarando diversos tipos de armas monstruosas, algumas de aparência antiga e outras tão modernas que eu sequer entendera após uma tarde inteira com elas. Nos finais de semana, eu tinha as tardes livres, o que em geral era o momento mais entediante da minha semana – Não havia papel para desenhar ou pintar, e fazer isso nas telas era um trabalho que me gerava mais frustração do que conforto. Não haviam livros tão pouco, ao menos não o tipo que se lesse por lazer. Aqueles dois dias na semana eram dedicados, assim, a assistir qualquer coisa interessante que estivesse acontecendo – guardas treinando, crianças brincando, o trabalho na enfermaria, a produção de roupas nos ateliês ou até mesmo as cozinheiras trabalhando na cozinha submersa abaixo do palácio.

O último era o melhor e o pior lugar para se estar – as cozinheiras, humanas como eram, eram uma companhia mais divertida do que os hologramas. Mas ao mesmo tempo, esse fato fazia com que eu sentisse que era uma perturbação entre elas, mesmo que elas fossem excelentes em disfarçar seus olhares desconfiados. Eu tentava ficar ali, quase invisível, ouvindo as fofocas dela sobre a cidade que eu não conhecia muito bem, os criados que eu não conhecia muito bem, e a minha família que eu tão pouco conhecia direito.

Então vinham os longos chás da tarde com Margot, onde em geral Napho dava a graça de sua presença, tomando para si quase toda a atenção de minha avó paterna. Por fim, o banho e então o jantar em família. Seraphinna foi afastada de mim na noite seguinte ao acidente e, provavelmente achando isso ofensivo – afinal, ela era quem havia saído ferida – ela não jantará conosco pelas próximas duas semanas, alegando se unir aos próprios pais e a irmã nos aposentos dos mesmos.

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