A VIDA PELA INTUIÇÃO E RESPEITO A CIÊNCIA

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   Pautei minha vida pelos dois sistemas descritos por Kahneman em "Rápido e Devagar - duas formas de pensar" sem conhecê-las. Tenho 76 anos de idade e só vim saber dessa teoria de Daniel Kahneman, em 2020. Fui pautado pela intuição e nunca me arrisquei em praticar coisas que não estivessem ao meu alcance. Tudo foi devidamente medido sem um planejamento a longo prazo.

   Ninguém consegue planejar a vida. As pessoas podem até planejar a compra de um imóvel, de um veículo, a formação universitária, a ascensão social pelo trabalho e isso dá certo. Ao menos, 80% do que se planeja. Mas, a vida tem o imponderável da doença, de um acidente e da morte.

  Steve Jobs foi o empreendedor revolucionário do século XXI com sua empresa Apple, o iPhone, os aplicativos e os sistemas computadorizados em nuvem e poderia ter feito muito mais. Era uma cabeça pensante intuitiva e seus grandes feitos não nasceram numa universidade e sim em seus labs e oficinas com amigos matemáticos e estudiosos da computação.

  Mas ele teve um câncer de pâncreas e morreu precocemente. Era naturalista e decidiu enfrentar a doença sem a quimioterapia. É provável que morresse de qualquer jeito porque essa doença no pâncreas com quimio ou sem quimio leva o cidadão à morte. O que poderia acontecer seria um prolongamento de sua vida. 

  Mas, a vida é uma coisa particular de cada indivíduo e ele decidiu assim. Então, Jobs planejou o iPhone e sua evolução e conseguiu seu objetivo deixando para os técnicos da Apple desenvolverem novos sistemas. Mas, falhou no planejamento da vida. Na realidade, não falhou coisa alguma. Aconteceu o imponderável que pode acontecer com qualquer pessoa.

  Há uma expressão em moda em que se atribui: "O capitalismo global gera doenças globais". A depressão seria uma dessas doenças já descrita como a doença do século XXI. Mas a depressão acontece também na Espanha que é um país com regime socialista, na China que adotou um regime misto com o capitalismo na economia e o comunismo na política o mesmo acontecendo na Rússia. Então, não se pode generalizar que o capitalismo é o responsável por isso. 

  Diz-se que Bill Gates e George Soros, dois mega capitalistas, fazem mais pela luta a favor da liberdade política e contra as doenças do que quaisquer intervenções estatais.

  Jobs, no meu entendimento, deu uma grande contribuição a democracia brasileira e a liberdade de expressão. As pessoas não percebem isso ou fingem não perceber. As redes sociais não surgiram do nada. Elas foram geradas pelo iPhone pela internet e o Brasil registrou uma greve de caminhoneiro, no governo Michel Temer, sem sindicatos e políticos a partir de lideranças anônimas surgidas na rede e graças ao WhatsApp. Houve uma mobilização da categoria que parou o país.

  Obra de quem? De Jobs, o qual já tinha morrido. Mas Jobs era capitalista, adorava o capitalismo, cresceu com o capitalismo, e hoje seu meio de comunicação é usado pelos socialistas e comunistas. Então, quem deu mais contribuição ao processo de democratização brasileira Jobs ou um político graduado da política nacional? Jobs, claro.

  Esse é o viés da questão que as pessoas precisam entender e não sair criticando o capitalismo e os ricos. Ser rico deve ser ótimo ainda mais quando o rico compartilha sua riqueza. E há várias formas de compartilhamento. A Luiza Trajano é a mulher mais rica do Brasil. Ótimo. Uma trabalhadora incansável e que emprega milhares de pessoas e está sempre inovando agora com a Magalu. Então, ao invés de condenar a Luiza por ser rica devemos elogiá-la.

   Há uma distorção enorme nesse entendimento e os esquerdistas 'caviar' à semelhança  da esquerda proletária (La gauche Prolétarienne) que surgiu no maio de 1968, na França, querem taxar absurdamente os ricos brasileiros achando que isso vai resolver alguma coisa quando só vai piorar. A esquerda brasileira, aliás, em tudo em que ela se mete só faz piorar. Um exemplo são as Universidades federais aparelhadas por partidos e gulosas por verbas que não saem do lugar, não evoluem, não entendem que o mundo mudou. Mas, abriga os seus, na mamata acadêmica que não produz nada de efetivo. 

  Estamos atravessando uma pandemia do coronavirus que teria sido originária numa província da China e se espalhou pelo mundo. Se fosse no século XIX é provável que tivesse ficado restrita na própria China. Mas, no século XXI com o mundo globalizado e aviões cruzando os céus do planeta o virus seguiu nessas asas aéreas. 

  E qual a contribuição que a Universidade brasileira deu no combate ao virus? Os grandes laboratórios capitalistas - da China, inclusive, e também da Rússia - são os responsáveis pelas vacinas. Como condenar o capitalismo numa situação dessas? 

   Na vida prática, nós, os subdesenvolvidos, ficamos a mercê dessa ajuda, pois, não temos tecnologia. Vocês já ouviram falar de uma vacina da Bolívia? De uma vacina produzida em El Salvador? Eu tomei a vacina Coronavac que é uma mistura da China com o Brasil. Ou seja, a China envia os insumos e o Butantan produz a vacina. E por que não temos insumos? Pelo atraso na ciência nacional.

   E, eu, cidadão brasileiro, velho, na iminência de morrer, poderia rejeitar a Coronavac esperando algo melhor? Não. Porque é melhor uma andorinha na mão do que duas voando. E se eu pautei minha vida toda assim segurando a andorinha - já falei num capítulo anterior que tive de aprender latim no ginásio para passar de ano - fui vacinado com um produto que é rejeitado "entre aspas" pela comunidade científica europeia.

  E será que os europeus estão certos nesta condenação? Claro que não. Quando vieram roubar o ouro do Brasil no século XVIII não estavam preocupados com a malária. E quando os espanhóis ocuparam o México e a Grã Colômbia mataram milhões de astecas e toltecas com a varíola e outras doenças dos brancos. Então, pimenta no c dos outros é refresco. Eles não se vacinaram e enfrentam uma terceira onda com muitas mortes.

   Já tomo vacina H1N1 contra a gripe há mais de dez anos e nunca ninguém verificou a efetividade desta vacina em percentuais se era boa ou não. Já contrai algumas gripes (ou resfriados mais leves) mesmo vacinado. Mas, para a vacina contra a Covid criaram esse negócio de efetividade em percentuais para enganar os otários.

   E onde entra as velhas e as novas tecnologias nesse contexto que é objeto do nosso tema neste livro? Na andorinha em mãos. Vacine-se, pois. Quando aconteceu a epidemia da cólera morbus em Salvador (1855/1856) centenas de pessoas morreram porque não havia vacinas. O isolamento era feito indo morrar em lugares distantes do centro da cidade, nas chácaras e nos morros. A cura era feita pelo tempo, pelo ar, pela higienização. Hoje, temos a vacina, mas persistem a higienização (lavar as mãos e usar máscaras e álcool gel) e os novos equipamentos em respiratórios artificiais.

   Vê-se que essa casamento de velhas tecnologias com as novas é antigo - e existe centenas de fotos mostrando o uso de máscaras para conter a gripe espanhola (1918/1919), as mesmas máscaras que estamos usando nos dias atuais para conter a SARS/Covid. Velho e novo eternamente aliados.

A Cadeira e o Algoritmo -  A Convivência Entre as Velhas e Novas TecnologiasWhere stories live. Discover now