O COPO NA VIDA DO HOMEM E O CALICE USADO POR JESUS CRISTO

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   Recentemente fui a show de um artista sertanejo famoso e centenas de jovens e maduros e maduras da classe média estavam usando um copo térmico ostentação para cerveja que custa entre R$110,00 a R$250,00 a unidade. Há de todos os tipos e os mais vendidos são o Stanley e o Coleman com tampa. Alguns vips recebem-nos nos camarotes com a marca das cervejarias impressas. Eu, bebedor de cerveja à moda antiga, uso o copo americano da Nadir Figueiredo que custa entre R$1,19 e R$1,99 na Freitas ou na Ferreira Costa.

  Temos, então, dois exemplos bem simples de copos que utilizam novas e antigas tecnologias. E trago esses exemplos inicias para abordar o tema copo - originário de vaso do paleolítico - para ambientar o 28º capitulo do nosso livro "A Cadeira e o Algoritmo - a convivência entre as novas e as velhas tecnologias" - abordando um dos objetos mais antigos usados pelos 'sapiens', não se sabe exatamente quando a prática de usar um vaso para beber água - líquido natural do planeta terra e essencial para a vida do homem - tenha começado.

É provável que os contemporâneos de Lucy na Etiópia, há 3.200.000 de anos, considerada a primeira "homidiea" ainda bebessem a água como os animais usando a boca diretamente nas lâminas d'águas dos rios, lagos, lagoas, nascentes, poços e outros. O certo é que o homem, sem o uso da água, não sobreviveria, ainda mais no Continente Africano onde tudo teria começado. Ainda existe, na Tanzânia, uma tribo chamada hadza - única no mundo de coletoras-caçadoras - que habitam a região Norte há 40 mil anos, vivendo de frutas, tubérculos e da carne de 30 mamíferos diferentes.

Há registros do paleolítico - período que vai de 2.300.000 até 15 mil anos atrás - quando o 'sapiens' deixa de ser coletor-caçador e se organiza em comunidades agrícolas, da existência de inúmeros tipos de vasos - em pedra e cerâmica - usados para fins de alimentação - a guarda de alimentos, grãos, em especial, e água.

Não há uma data certa de quando a prática do uso do vaso - caneca, copo, etc - tenha chegado à mesa de forma mais organizada. O registro mais famoso da humanidade é o da santa ceia da qual teria participado Jesus Cristo e seus apóstolos quando JC usou um vaso de pedra - ágata - para colocar vinho e houve uma confraternização coletiva cada um dando uma bicada ou gole. Embora esse vaso fosse um caneco sem abas, a igreja católica emoldurou-o com uma base de metal e abas tornando-o um cálice, que se encontra uma capela na catedral basílica da cidade de Valencia, na Espanha.

  A história do copo, portanto, é tão antiga quando a existência do homem e vamos acompanhar como se deu essa evolução ao longo dos séculos. Importante observar que, independente dos avanços na fabricação dos copos - pedra, metais, vidro, fibras sintéticas, etc - os formatos são muito parecidos e a finalidade é a mesma: ingerir um líquido pela boca. Isso, portanto, não se modificou ao longo dos milênios.
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  Lucy o fóssil 'Australopithecus Afarensis' de 3,2 milhões de anos, descoberto em 1974 pelo professor Donald Johanson, um americano antropólogo e curador do museu de Cleveland de História Natural e pelo estudante Tom Gray em Hadar, no deserto de Afar, na Etiópia, é considerada um dos primeiros 'sapiens' da Terra.

  Donald Johanson e Tom Gray comemoraram a descoberta no seu acampamento ao som da música dos Beatles "Lucy in the Sky with Diamonds". Foi por esta razão que o fóssil ficou conhecido com o nome Lucy. O nome mais recente é Dinknesh, que significa "Tu és maravilhosa!" em amárico, língua semítica do tronco afro-asiáticas oficial na Etiópia.

É provável que naquela época os 'sapeins' ainda bebessem água dos rios e lagoas diretamente com a boca n'água. Não há uma data em que tenham usados objetos em pedra e/ou cerâmica para essa finalidade. Estima-se que, no Paleolítico - período da Pré-História que se estendeu, aproximadamente, de 2,5 milhões de anos atrás até 12 mil anos   os grupos viviam de maneira nômade. Mas, há registros de vasos catalogadas como dessa época.

  Na Idade da Pedra divide-se em Período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (do surgimento da humanidade até 8000 a.C.); Período Neolítico ou Idade da Pedra Polida (de 8000 a.C. até 5000 a.C.);

A Revolução Neolítica marca a transição da vida de caça e coleta nômade para o sedentarismo agrícola - comunidades agrícolas organizadas. O 'sapiens' se estabeleceu em determinadas áreas criando bodes, cães, galinhas, etc, e cultivando trigo. Houve, então, a necessidade de cercar alguns sítios para evitar ataques de animais. Posteriormente, para se defender de outros grupos de 'sapiens'.

  Os primeiros objetos em cerâmica foram moldados à mão entre 6.500 e 3.000 a.C.. Com a invenção da roda de oleiro (ainda hoje usada em algumas comunidades como na era neolítica) a fabricação de vasos cresceu. Adicionou-se (não se sabe quando) uma alça ao processo de produção criando a caneca. Um exemplo desse tipo de artefato foi encontrado na Grécia datado de 4000–5000 a.C. Quem for a Maragogipinho, na Bahia, ainda pode ver a fabricação de vasos à moda do neolítico nas olarias de fundo de quintal.

  O mais famoso objeto no formato de copo ou caneca teria sido usado por Jesus Cristo na Santa Ceia e a igreja católica considera que essa peça em ágata (pedra com variadas cores) também chamada de "O Santo Graal" está guardada numa capela da catedral de Valencia, Espanha. Conheço esse objeto que foi ornado com uma base e alças de metal (ouro) para dar a simbologia de um cálice. João Paulo II, papa, esteve em Valencia orando em frente a esse cálice - do latim calix ou do grego kylix.

  As primeiras canecas de barro tinham paredes grossas e não se encaixavam bem nas bocas. As paredes foram ficando mais finas com o desenvolvimento de técnicas de usinagem. Depois, surgiram as canecas de metal produzidas em bronze, prata, ouro e até mesmo chumbo.

A invenção da porcelana data de 600 d.C. na China e surgiram as canecas de paredes finas adequadas para líquidos frios e quentes, que são apreciadas até o século XXI. A porcelana chinesa é uma das mais valorizadas no planeta até hoje.

O arquiteto inglês Robert Adam foi quem sugeriu ao ceramista Josiah Wedgwood colocar alças nas tigelas e copos. Foi então criada a primeira xícara, em 1750. Wedgwood fundou uma fábrica em 1759 e até hoje a marca é referência na fabricação de peças de porcelana.
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O VIDRO: Conta-se que foi descoberto por acaso a partir de fogueiras nas praias. Navegadores perceberam que a areia e o calcário (conchas) se combinaram através da ação da alta temperatura. Há registros de sua utilização desde 7.000 a.C. por sírios, fenícios e babilônios.

  As principais matérias-primas para produção de vidro são areia (sílica), feldspato, calcário, carbonato de sódio, carvão, sulfato de sódio e hematita. A origem do copo de vidro se deu juntamente com a descoberta da técnica do vidro soprado, pelos sírios.

As taças de vidro teriam sido inventadas no século IX na Andaluzia por Abu l-Hasan 'Ali Ibn Nafi', durante o período da invasão moura na Península Ibérica. Ele substituiu os copos de metal pelas taças de vidro transparente a fim de realçar a cor do vinho

COPO AMERICANO: O popular "copo americano" completou 75 anos neste 2022 – mas engana-se quem pensa que o objeto surgiu nos Estados Unidos. Na verdade, trata-se de uma criação brasileira, que em 2010 atingiu a marca de 6 milhões de unidades vendidas.

  O copo foi desenhado por Nadir Figueiredo na cidade de São Paulo. Seu design foi idealizado pensando em um produto difícil de ser quebrado, fácil de segurar e que fosse barato. A ideia deu certo e, com certeza, não há no país uma padaria, bar ou restaurante que não use esse tipo de utensílio.

  A capacidade oficial é de 190 mililitros, mas a Nadir Figueiredo já produz outros tamanhos do ícone. No site da empresa, além do tradicional, encontramos copos americanos de 40 mililitros, de 300 e até de 450 mililitros. O copo americano é considerado também um símbolo do design nacional. Em 2009, foi exposto no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, entre outros setenta produtos que representavam o estilo de vida dos brasileiros. A fábrica fica em Suzano, SP.

  O nome "americano" fazia alusão ao maquinário usado para produzir as primeiras unidades, importado dos Estados Unidos. Hoje, as máquinas são brasileiras, e estima-se que já foram produzidos mais de 6 bilhões de copos americano

Nos anos 90 este ícone foi eleito o melhor copo para se tomar cerveja do Brasil. O copo se tornou parte integrante do dia a dia dos brasileiros que passou a ser utilizado como padrão de medida para receitas, bolos, soro caseiro e até medida de sabão em pó.

  AS TAÇAS: O estilo de taça que conhecemos hoje teve origem na Grécia, quando os deuses do Olimpo estavam à procura do recipiente de maior beleza para degustar a sua bebida divina. Segundo a mitologia, Apolo escolheu a forma dos seios da mulher mais bela para a criação desse recipiente.

Os místicos e alquimistas associavam a taça ao elemento feminino e à água, à fecundidade da Mãe, uma simbologia que ficou ligada à taça, por exemplo, nas cartas de Tarot e mais tarde no naipe de copas das cartas de jogar.

Qual a taça ideal para tomar vinho?

"Profissionalmente, utiliza-se a taça do tipo ISO para provar o vinho. Mas, caso ela não esteja disponível, o ideal é optar por uma taça com bojo redondo e paredes para dentro que evitem a fácil dissipação dos aromas. O bojo redondo é necessário para que não haja demasiada turbulência ao girar a taça.

Uma das taças mais famosas é a Bordeaux: Ela é feita para abrigar vinhos tintos que possuem maior concentração de tanino. O tanino é uma substância presente na casca da uva que dá a sensação de secura no vinho.29 de abr. de 2020

É indiferente que elas tenham ou não pé, já que o sabor da água não altera com a temperatura. Mas, normalmente, a diferença mais notável entre taça de vinho e de água é o maior tamanho dessas em comparação às de vinho no geral.

COPO DE UISQUE: Chama-se 'On The Rocks' e é um copo de boca e bojo largos, porém baixo e sem haste. Ele é utilizado para servir bebidas que precisam de muito gelo (como o whisky) ou drinks com frutas e outros ingredientes (como as caipirinhas).

  A curvatura e o formato do copo estão entre os fatores mais importantes acerca da escolha de um bom copo para whisky. Uma peça com a boca mais estreita irá permitir uma melhor apreciação do aroma do malte. Isso porque essa característica de design permite que o aroma chegue ao nariz sem se dispersar pelo ambiente.
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  No geral, há uma série interminável de designs sobre copos, taças, canecas e outros alimentados pelas novas tecnologias e descrições detalhadas de taças para vinhos de todos os tipos. Não vamos entrar nesses detalhes porque o texto ficaria extenso demais.

  Há uma farta literatura sobre esses assuntos. O importante é destacar, em linhas gerais, a relevância do copo para o homem, um dos objetos mais antigos de sua existência e que já mudou de formas e estilos os mais variados, porém, segue o mesmo princípio do paleolítico usado para beber água.
 
  Água, terra e fogo são os três elementos gerais da vida. Quando se mistura a terra com o fogo obtem-se o vidro. Daí vem o copo em que se bebe a água.

A Cadeira e o Algoritmo -  A Convivência Entre as Velhas e Novas TecnologiasWhere stories live. Discover now