COMO SOBREVIVE A IMPRENSA NA UCRÂNIA EM GUERRA

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LuÍs XIV rei da França e Navarra durante 72 anos (1643/1715), aquele que ficou mais tempo no trono em toda história da humanidade (a rainha Elizabeth II tem 70 anos no poder), apelidado de "O Grande" e "Rei Sol" se considerava um predestinado por Deus. Teve duas esposas e várias amantes e com uma delas, a marquesa de Montespan - Françoise-Athénais de Rochechouart de Mortemart - concebeu 7 filhos. Em virilidade, Dom Pedro I, se parecia com ele.

Natural, portanto, que em reinado tão longo e megalomaníaco - o rei transformou a grande área da cavalariça de seu pai LuÍs XIII, nos arredores de Paris, construindo o palácio mais luxuoso da Europa - Versalhes - com sua sala de espelhos que representava a imagem de grandeza do rei e impressionava os visitantes e as mulheres, mudando a Corte para lá - houvesse muitas intrigas, envenenamentos, traições e assim por diante. Ademais, o rei vivia em permanente guerra com a Holanda e cobrava a cada dia mais impostos dos seus súditos.

Surgiram, então, as primeiras revoltas populares em Paris, que era a cidade mais importante da França, abandonada pelo rei que morava em Versalhes com a Corte, porém, permanecia como um lugar pulsante, mundano, onde alguns integrantes da monarquia nunca deixaram de frequentar seus lupanares, suas rodas de jogo, vinhos e mulheres. O povo parisiense era espoliado - comerciantes, industriais, artesãos, etc - porque além do luxo de Versalhes que consumia muito dinheiro havia as guerras.

De vez em quando o rei ia a Paris para mostrar-se benevolente com a população, um pai, um Deus que curava enfermos, um protetor. E, numa anunciada dessas visitas, revoltosos espalharam pela cidade panfletos conclamando para um protesto contra o rei. O panfleto era o veículo de comunicação dessa época mais importante e eficiente, pois, além de ser lançado embaixo das portas poderiam ser colados em paredes e portões. Tinham, portanto, boa visibilidade entre as pessoas que circulavam nas ruas e feiras livres.

Os agentes secretos do rei entraram em campo e investigaram o aceno à rebelião visando garantir a segurança do monarca e descobriram quem eram os autores dos panfletos e onde eles eram impressos. Primeiro pegaram o dono da gráfica e seus funcionários e os espancaram, o proprietário do estabelecimento até a morte. E, em seguida, 'empastelaram' a gráfica. A segunda etapa era prender os revoltosos. E prenderam e/ou mataram todos, embora alguns mosqueteiros do rei tenham morrido na refrega.

O importante, no contexto do nosso livro "A Cadeira e o Algorítimo" - a convivência das novas tecnologias com as velhas - é destacar o que significa 'empastelamento'. Trata-se um termo técnico muito usado pela mídia que se traduz em destruir, misturar. Uma gráfica na época de Luís XIV usava tipos de madeira e/ou chumbo, máquinas e calandras de ferro, marretas, alicates, prensas, componedores e grades de ferro o que permitia organizar uma chapa que seria impressa. Então, toda essa estrutura era empastelada (quebrada).

Isso não aconteceu somente na França, mas, em vários países da Europa e da Ásia e chegou aos jornais de vários continentes e também no Brasil. A lista de 'empastelamentos' no Brasil é grande e começou com o jornal carioca "Corsário" que atacava o Império e seus governantes no final de 1881. O Chefe de Polícia da então Capital do Império, Rio de Janeiro, Trigo de Loureiro, mandou 'empastelar' o jornal. Posteriormente, com a insistência do "Corsário" em circular, o redator Apulcro de Castro é assassinado por militares comandados por Antônio Moreira César diante da própria Secretaria de Polícia, onde fora pedir proteção.

Na lista de 'empastelamentos' constam, entre outros, "O Paiz" (Rio), "Gazeta de Santos", "Folha do Amazonas", "Diário de Pernambuco", "Diário Carioca", "A Imprensa", "A Bahia", "Folha da Manhã", "A República", "O Momento" (Salvador Bahia) este por ser órgão de imprensa do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi várias vezes empastelado pela polícia estadual durante os anos de sua existência (1945-1957). Seu primeiro 'empastelamento' se deu em 1945 durante o governo de Otávio Mangabeira que, apesar de democrata, cedia assim aos ditames do governo federal do presidente Dutra. Seu diretor era João Falcão, depois, fundador do Jornal da Bahia.

A Cadeira e o Algoritmo -  A Convivência Entre as Velhas e Novas TecnologiasWhere stories live. Discover now