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Yasmin: dia dezenove de novembro pela manhã

"Ô, meu filho, que Deus te acompanhe." - Minha mãe disse forçando a cabeça de Gabriel pra baixo na intenção de lhe dar um beijo na testa, já que ela é uns vinte centímetros mais baixa que ele.

"Amém, tia." - Ele disse devolvendo o beijo na testa dela e eu me permiti dar um sorrisão vendo.

Dona Nice ainda disse algumas palavras bonitas e bênçãos pra ele antes de soltá-lo e sair pra sala na intenção de deixar apenas eu e Gabriel no quarto. Eu não disse nada, apenas zerei o espaço entre nós dois, fiquei na ponta dos pés e abracei ele com força.

"Boa sorte, meu menino com nome de anjo." - Eu disse fazendo referência à uma narração sobre a libertadores de dois mil e dezenove que eu sou simplesmente apaixonada.

"Obrigado, meu amor." - Sorri fraco como sempre acontecia ao ouvir ele me chamando assim. Talvez eu já esteja tão acostumada com isso que já estou de fato me sentindo o amor dele.

"Eu e a nossa cria vamos estar mandando toda a energia positiva e torcendo por você." - Ele riu fraco no meu ouvido e apertou mais os braços em volta de mim enquanto selava os locais entre a lateral do meu rosto e o topo da minha cabeça.

"Ô mano, assim eu fico me sentindo tão seguro."

Gabriel: dia vinte e seis de novembro à noite

Chamada perdida de Ya às 18:02
Recebendo chamada de Ya 18:03

Atendi a ligação com um sorriso no rosto e vi Yasmin se filmando na frente do espelho e com um sorriso enorme ao dizer - "Oiiii!"

"Oi, meu amor." - Meu amor. Saiu da minha boca sem eu notar mais uma vez.

"Eu fui no ninho hoje pra buscar as credenciais da viagem e essa belezinha aqui." - Ela disse puxando a parte de baixo da blusa branca que a organização do Flamengo confeccionou com os familiares. Mostrou o escudo da parte da frente e depois virou de costas mostrando o número nove abaixo do nome Yasmin.

"Ficou perfeita." - Eu respondi olhando fixamente pra ela inclinada de costas com um short de pijama que deixava metade da polpa da bunda de fora e o meu número nas costas. - "Cadê a barriga?"

Yasmin apoiou o celular em algum lugar antes de prender os fios curtos do jeito que dava, ficando metade do cabelo fora do pequeno rabo de cavalo. - "Ainda zerada." - Ela andou um pouco para trás e ficou na ponta dos pés levantando a blusa e mostrando o abdômen ainda chapado.

"Porra, tô ansioso pra te ver de barrigão." - Eu disse passando a mão no meu cabelo. Yasmin aumentou o sorriso e quando ia responder notei que a porta do quarto dela tinha sido aberta e a voz da mãe dela ecoou baixa e abafada na chamada.

"O pessoal do salão chegou."

"Tia!" - Não demoraram mais que alguns segundos pra ela colocar o rosto na chamada com um sorriso doce.

"Oi, meu filho. Como cê tá? rezando por você há dias."

Yasmin começou a se aproximar e passou o braço pelos ombros da mãe dela, me olhando atentamente pela chamada de vídeo. - "Tô bem tia, tô tranquilo."

"Graças a Deus, filho. Graças a Deus."

"Ô Gab, tenho que ir. Eu e a mamãe ainda vamos fazer cabelo e unha, o pessoal do salão esperando já."

"Tá, vão ficar mais lindas ainda. As uruguaias que se cuidem." - Respondi sorrindo. Tia Nice beijou a câmera e saiu e Yasmin se despediu:

"Beijo, te vejo amanhã."

Sorri e fechei os olhos de leve antes de responder: - "Beijo, te vejo amanhã."

Yasmin: dia vinte e sete de novembro

"Eu acho que vou infartar. Não, eu tenho certeza que vou infartar." - Flávia disse jogando a cabeça pra trás na mesa onde estamos almoçando. Eu concordei com a cabeça vendo Dhiovanna me chamar com a mão e balançar o celular dela. Quando encostei na mesa onde a família de Gabriel está almoçando, ela disparou de uma vez só e rápido:

"Meu irmão tá perguntando se você comeu, se você tomou as vitaminas, se você tá enjoada, com sono ou com dor de cabeça. Eu disse sim, depois disse sim, e depois disse não e não."

Abri um sorriso fraco pra ela: - "Manda ele se preocupar com o jogo que eu e a cria tamo muito bem." - Falei mais algumas coisas com a Lindalva e estava voltando pra minha mesa quando Marília Nery tocou meu braço.

"Oi, eu sou a Marília! Vem aqui e chama a sua amiga pra gente tirar a foto das mulheres dos jogadores." - Abri um sorriso pra ela e chamei Flávia que vinha quase pálida de tão nervosa.

Tiramos várias fotos, conversei com elas mas o nervosismo pré jogo estava deixando qualquer pessoa normal a três passos de um chilique. Voltamos pro hotel, eu tomei um banho e me arrumei de novo dessa vez trocando a blusa branca pela preta que diz Onde estiver, estarei e desci pra irmos. Minha mãe o tempo inteiro estava com um terço em mãos e eu estava acompanhando mentalmente as orações dela. No estádio, as famílias acabaram sentando numa parte junta da arquibancada, mas eu sentei entre minha mãe e a Flávia enquanto a família de Gabriel estava na fileira acima da minha.

Na hora da entrada do time, ele passou pela fileira devagar olhando pra todos os lugares da arquibancada nos procurando. Fiquei de pé e a família dele também, foi quando Gabriel nos enxergou e parou na barreira com um sorriso enorme. Mandei um beijo e entreguei essa partida nas mãos de Deus.

Quando os times já estavam enfileirados, Flávia esfregou o rosto e disse: - "Alguém joga essa taça no Gabriel pelo amor de Deus, pra ele tocar nela!" - Eu ri fraco mas concordei com a cabeça encucada se ele tocou ou não na taça.

Logo no início do jogo tomamos um gol e isso foi o suficiente pra meu almoço querer voltar pela garganta. Passei muitos minutos de jogo aflita, cheguei a chorar no intervalo do primeiro tempo para o segundo, mas de alguma forma no meu coração eu não deixei de confiar nos poderes rubro negros de Gabigol.

Minha mãe estava com o terço nas mãos e eu estava com as minhas mãos em volta da minha barriga assistindo a isso. Há esperança. Tem que haver esperança. De alguma forma, talvez uma segunda reviravolta numa final de libertadores esteja marcada pras nossas vidas.

"Vamos papai, vamos papai... Diz cria, diz pro papai chutar essa bola no gol, diz amor." - Respirei fundo e fechei os olhos. Eu confio em você, Gabriel. Vamos lá. Vamos. Eu confio em você, menino com nome de anjo. Meu menino com nome de anjo. Meu amor com nome de anjo.

De uma forma mágica, poucos minutos depois de eu abrir meus olhos Arrascaeta tocou a bola pra Gabriel que fez o gol. A torcida gritava, todos nós demos um abraço meio embolado durante os pulos de comemoração. No gramado, Gabriel já tinha tirado o manto e corria loucamente pela torcida sendo agarrado pelos jogadores.

Eu sabia que podia confiar em você.

Procuro Alguém - GabigolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora