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Yasmin: dias depois, quinze de novembro de dois mil e vinte e três; quarta feira a noite.

"Vamo entrar ali pra parte coberta, que jajá vai cair o maior temporal." - Fabinho disse, olhando pro céu nublado e começando a pegar os copos e as coisas da mesa pra levar pra área de churrasco coberta.

"Gabriel, é melhor você ir levar a gente logo. Vai chover." - Eu disse, olhando pro jogador que fingia não me escutar e continuava cortando a carne de churrasco e oferecendo pra Sarah.

"O Gabriel bebeu, melhor vocês ficarem por aqui." - Lindalva respondeu, também bebendo da cerveja dela. - "Tem nem pra quê saírem, gente."

Começaram a cair os pingos de chuva, e Gabriel só se levantou pra não deixar Sarah se molhar. - "Deixa a chuva passar, Yasmin." - Suspirei, já sabia que ia ser enrolada.

Ajudei a colocarem as coisas pra dentro, e da parte coberta o churrasco continuou e foi olhando pra minha mãe toda feliz cantando com a Lindalva que eu me senti em paz. Em casa. A vida toda tínhamos sido só nós duas, os feriados como a proclamação da República de hoje eram apenas dias quaisquer que passávamos trancadas em casa. A gente não tinha isso: feriados em família, assando carne e ouvindo música e brigando por coisas idiotas. E vendo ela sorrindo assim, era bom saber que finalmente a gente tinha. Que tinha um lugar onde se não fossemos, sempre iriam sentir nossa falta. Era a primeira vez que eu tinha essa sensação de pertencimento.

"Ô Fabinho, no que deu a batida do teu carro?" - Gabriel veio da sala perguntando, enquanto carregava a caixa de brinquedos de Sarah que corria atrás dele.

"Em porra nenhuma. O cara disse que ia me processar e eu meti um: processa! A melhor advogada do mundo é da minha família." - Ele deu de ombros e em seguida me olhou: - "Honorário pra mim é mais barato né?!" - A minha única reação foi dar uma gargalhada. Eu estava feliz. Feliz. Era isso: alguém me tinha como da família. Eu finalmente tinha pessoas que me olhavam e se orgulhavam em me ter por perto e eram felizes por eu existir.

"Pra você é mais caro porque família dá trabalho." - Foi Gabriel quem respondeu, vindo pra perto de mim pra pegar Sarah que corria de um lado pro outro e eu já estava com medo dela cair na parte molhada pela chuva. - "Sarinha não pode. Não. Sarah! Não pode. Desce daí." - E o tombo veio. Antes dela começar a chorar, eu levantei indo pra perto. - "Eu falei pra você que não podia não foi? O que foi que eu disse, Sarah?!"

"Você não sabe que ela não escuta ninguém?! É sua filha." - Eu disse e ela estendeu os bracinhos na minha direção, gritando mamãe a toda altura e começando a ficar vermelha de chorar. - "Eu sei que tá doendo, filha. Mas vai passar, tá? Eu entendo que tá doendo, mas vai parar."

Subi pro quarto dela, e ele veio atrás. Ela já não chorava, mas aproveitei pra dar banho e Gabriel me veio com um pijama da parte de cima rosa neon e uma calça amarela de bolinhas. - "Quer que a menina seja inimiga da moda igual a você." - Eu disse rindo e ele fez uma gracinha, que fez Sarinha rir e eu rir junto. E mais uma vez estava lá o sentimento de pertencimento: era aqui. Eu tinha chegado onde eu sempre quis estar. Na família onde eu sempre quis morar.

"Quem é a princesinha cheirosinha do papai?" - Ele disse, beijando Sarinha. - "É você. É a sarinha saroca... Te amo, paixão do papai. Eu te amo tanto." - Definitivamente, era aqui. E eu me permiti fazer o que eu queria, o que eu tava sentindo no meu coração: me inclinei e abracei ele, que estava abaixado na direção da nossa filha.

"Obrigada, Gab." - Eu disse sentindo a minha voz até meio embargada. - "Obrigada mesmo." - Ele não respondeu. Só me deu um sorriso e beijou o topo da minha cabeça. Ficamos aqui, colocando a Sarinha pra dormir por um tempo. E o barulho da chuva, do som da nossa família lá embaixo, e a gente aqui em cima no nosso mundo particular, era simplesmente... O meu som favorito. Era esse. Era esse: o meu lugar. Isso aqui... Significava o mundo pra mim.

Gabriel: mais tarde.

A chuva só engrossou. E não parecia que ia parar tão cedo, o churrasco já tinha até acabado porque minha família não tava mais aguentando ficar lá embaixo pegando o vento frio. Desci só pra pegar meu celular e o da Yasmin, e já encontrei o Fabinho tentando jogar com a Dhiovanna, meus pais dançando sozinhos e a tia Nice toda feliz falando no telefone, quando passei por eles ela me deu uma piscada de olho que significava qualquer coisa que seja boa.

"Não me mata, mas não dá nem pra sair de casa com a chuva que tá. Você vai ser obrigada a dormir aqui..." - Eu disse a última parte sorrindo, botando um tom de brincadeira na voz e já esperando Yasmin reclamar, mas ela me surpreendeu e disse:

"Tudo certo." - E voltou a pentear os cabelos molhados. Tá, se tomou até banho significa que vai dormir aqui sem reclamar que eu não tenha levado elas pra casa. Fiquei olhando pra Yas, vestida numa blusa minha que tem uns desenhos de ursinho na frente. Eu já amava essa blusa antes...

"Tem que pagar pedágio pra usar minha blusa." - Eu brinquei passando por ela pra ir pro banho, mas não maneirei na olhada pro corpo.

"É? Quanto custa?" - Só ouvi sua voz, eu já estava dentro do box. Pela entonação, parecia estar sorrindo.

Quem não arrisca não petisca. - "Um beijo aqui, outro ali..." - A confirmação que ela tava rindo veio. Uma risada baixa e rouca.

"Hm, uma mão aqui e outra ali também?" - Eu quase caí. Quem era essa? Seja lá quem for, obrigada universo.

"Seria muito bem vinda." - Eu respondi e não tive resposta. Ou melhor, tive a melhor resposta de todas: Yasmin entrou no box. Sem a minha blusa. Sem nada.

>> O Vasco é sempre vice do meu mengão! ♥️🖤

Procuro Alguém - GabigolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora