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Yasmin: ainda nesse momento;

Meu pai. Na minha frente, em carne e osso. E eu estava em choque, paralisada, sem nem saber o que fazer. Eu continuei estática por longos segundos, apenas olhando pro cara na minha frente.

Ele coçou a nuca. - "É, como eu disse, eu realmente não queria te procurar no meio do Maracanã, mas foi difícil de te encontrar e essa era a última alternativa." - Eu apenas assenti, ele tava esperando que eu dissesse o quê? Que tava tudo bem, tudo certo?!

Eu respirei fundo pelo nariz e expirei pela boca, tentando administrar meus sentimentos. - "Olha, essa não é a melhor ocasião pra gente conversar, tá? Meu marido tá num jogo importante e toda a minha atenção aqui é pra ele." - Eu disse mexendo a cabeça, e pensando em como desviar pra entrar no camarote.

"Marido? Então vocês casaram?" - Ele perguntou, e foi aí que eu notei o que tinha dito. Não dava pra desdizer, mas eu ignorei e aproveitei pra me mexer em direção a porta.  - "Desculpa, eu não quis invadir seu espaço. Eu só... Realmente preciso falar com você. Toma, esse é o meu cartão." - Me entregou um cartão que tirou do bolso, com uma enorme grafia vermelha Ricardo Medeiros e uns contatos embaixo.

"Eu te procuro depois." - Foi tudo que eu disse antes de ir pra minha cadeira. Quando cheguei lá, minha mãe estava com os olhos fechados e a ponta do nariz vermelha, enquanto a Sarah estava correndo pelo camarote sob a atenção do Fabinho que tá aqui desde cedo. - "Mãe." - Chamei num fio de voz me sentando do lado dela, já puxando seu braço pra um abraço.

Gabriel: horas mais tarde; depois do jogo já em casa.

Quando saí do banheiro, Yasmin estava com uma cara esquisita mexendo no celular. Respirei fundo e disse: - "Tá lendo tweet de hater de novo?" - Ela negou com a cabeça, mas continuou com a cara fechada. - "Tá sim, Yasmin, sua cara entrega. O que foi? Tão falando que tamo com mais um vice pra conta?" - Pendurei a toalha e fui meio me arrastando até deitar do lado dela na cama, mas Yasmin bloqueou a tela do celular antes que eu visse do se tratava. - "Ih mano, desenrola. Que que tá pegando?"

"Eu vi o meu pai." - Ela disse baixo, sem me olhar, e passando o dedo de cima pra baixo na capinha do iPhone. Eu fiquei sem saber o que dizer.

A curiosidade estava falando alto, mas eu sabia que tinha que ser cauteloso e usar as palavras certas pra perguntar. - "Que dia?"

"Hoje. No Maracanã." - Ela respondeu e mordeu o lábio inferior com força. Descruzei meus braços e passei um pelos ombros dela, a puxando pra perto, tentando deixá-la confortável o suficiente pra me contar. - "Foi a primeira vez na minha vida. Eu nem sabia como era o rosto dele, nada, nunca. Tanto que eu nem reconheci, minha mãe que começou a ficar toda estranha e aí ele disse que era meu pai."

"E depois?" - Perguntei, roendo a unha do dedão.

"Eu disse que depois ia procurar ele, que tinha que entrar pro camarote. Ele entrou também, assistiu o jogo todo com um menino adolescente lá." - Contou e eu fiquei em silêncio. Yasmin se remexeu no meu colo e sentou na cama, virando de lado pra me olhar. - "Eu mandei uma mensagem no Instagram dele, e ele me convidou pra almoçar amanhã. Disse que quer me conhecer."

Eu tive que fazer muita força pra não estreitar as sobrancelhas e fechar a cara. Conhecer? Depois de quase 30 anos? Ah, meu pau.

"Você vai?" - Perguntei baixo, cruzando os braços de novo.

"Vou. Eu passei a vida querendo conhecer ele também, talvez agora seja a chance. Né?" - Perguntou, a voz estava trêmula e ela não tinha nenhuma certeza no rosto. Eu quis dizer tanta coisa mas não disse nada, eu sabia que não era o certo afastar Yasmin do que ela sempre quis.

Procuro Alguém - GabigolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora