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Gabriel: ainda no Maracanã em vinte e três de novembro de dois mil e vinte e três;

A torcida rubro negra já preenchia o Maracanã com os gritos de 'é campeão', faltavam sei lá, três minutos ou menos pro juiz apitar. Tudo que a gente tinha que fazer, era enrolar e não correr nada atrás da bola, era só segurar o placar e pronto.

E seguramos. O juiz apitou. O Flamengo é tri da libertadores, finalmente.

Corri pelo campo eufórico, tirei o meu manto e ergui, perdi a noção do tempo que fiquei ali, imerso no sentimento que era ganhar de novo depois de um tempo. Eu já tava correndo e abraçando todo mundo sem nem ver quem era quem, sem notar nada, só gritando e comemorando.

Na hora de receber as medalhas, eu estava parado com os olhos meio marejados quando vi as minhas garotas entrarem no gramado quando as famílias foram liberadas pra entrar aqui. Abri um sorriso ainda maior pra elas, e Yasmin me devolveu sorrindo mesmo, feliz.

"Ô Sarah, vem aqui. Sarinha saroca!" - Chamei, me abaixando o suficiente pra ver ela vindo correndo, meio desengonçada mas extremamente ágil. - "Olha que linda a medalha do papai." - As mãozinhas pequenas dela foram direto tentar puxar o cordão do meu pescoço. Eu não deixei ela fazer isso, segurei as duas mãos e trouxe elas pro meu rosto pra dar um beijo.

"Faz um carinho no papai, fala assim, parabéns papai!" - Yasmin disse se aproximando, e eu notei sua voz fanha, ela tinha chorado.

"Ei, psiu!" - Chamei ela, assobiando baixo. Yas se abaixou do nosso lado e me abraçou forte, dando uma fungada. - "Obrigado por estar aqui. Obrigado por apostar tudo em mim."

"Apostei bem. Você conseguiu!" - Ela respondeu, embolando a língua até a voz ficar num fio de novo.

"Não, a gente conseguiu. Lembra do nosso combinado?" - Eu afastei o rosto dela, olhando em seus olhos. Se pra ela era importante ouvir, eu ia dizer de novo, porque por mim diria o que sinto por Yasmin pelo resto da minha vida. - "Que na próxima libertadores a gente ia ganhar? Eu, você e a Sarah? Ganhamo."

Yasmin desabou a chorar de novo. - "A torcida tá eufórica gritando seu nome." - Mudou a atenção de mim para nossa filha. - "Decisivo em finais, esse é o seu pai, Sarinha."

"Sabe o que mais o papai é? Apaixonado por vocês. Muito." - Eu disse, puxando as duas pra cima de mim prum abraço em família. Senti flashes em cima de mim, e eu sabia que os narradores ainda falavam desse momento.

Se o narrador de hoje for tão esperto quanto deve ser, ousará dizer que o menino com nome de anjo testou 40 milhões de corações com seus poderes rubro negros. E que ganhou o tri da Libertadores da América em casa. Literalmente, em casa. No Maracanã, com as meninas que me importam.

"Ô Sarinha saroca, você tá correndo muito rápido!" - Eu corri atrás da minha filha, no gramado, fingindo que ela era mais rápida que eu. Ela olhou pra mim, por cima do ombro na camisa do Flamengo com o número 9 e um 'Papai' escritos atrás, morrendo de rir. - "Você tá uma garotinha muito sapeca! Muito sapequinha, sarinha."

Consegui agarrar minha filha no colo, abraçando ela apertado. Há dois anos, estava tudo perdido exceto por Yasmin e por ela. E hoje, com tudo ganho, nada mais justo que elas duas serem as primeiras a comemorar comigo. As minhas garotas.

Eu estava fodidamente emotivo e chorando de novo. Era muita emoção. A minha filha correndo pelo maracanã, eu e Yasmin bem como nunca, a Libertadores era nossa... Paz. O amor é paz.

"Eu tenio una cosa para dizer a nação." - Arrasca disse todo sério, passando a mão no cabelo platinado enquanto olhava pro reflexo dele na live do Instagram.

"Ô Fred, seu idiota, até a minha filha Sarah tem uma libertadores e seu time não tem. Idiota." - Eu disse, botando a cara na câmera e balançando a medalha que estava gigante no pescoço da minha filha. Arrasca riu e eu saí de perto, deixando ele e indo pra perto de Yasmin que estava enlouquecida cantando com o resto da torcida que se recusava a ir embora do Maracanã.

Vou festejar, vou festejar
O seu sofrer
O seu penar
Você pagou com traição...

"Amor!" - Comemorou, passando a mão no rosto e pulando em cima de mim. - "Eu quero sair de casa pra comemorar e voltar depois de amanhã!"

Me inclinei pra beijar ela depois de dar uma gargalhada sincera, como eu amo essa mulher. Assim, feliz, gritando e com um Gabi enorme nas costas. - "Quando a gente ganhar o Brasileirão, eu te tiro de casa uma semana."

"Ótima proposta." - Respondeu e veio me beijar. O som era a torcida, no meu colo estava a nossa filha, a metros de nós o nosso troféu, e essa era a melhor fase da minha vida, com certeza.

Yasmin: uma semana depois; no Maracanã dia vinte e nove de novembro de dois mil e vinte e três;

Em dezembro de 81
Botou os ingleses na roda
Três a zero no Liverpool
Ficou marcado na história
E no Rio não tem outro igual...

Eu estava cantando enlouquecida enquanto prendia meus cabelos andando pelo corredor do maraca, mas estava difícil enquanto eu tentava isso e manter meus olhos na minha mãe com a Sarah ao mesmo tempo.

"Você vai ver, o Gabriel vai adorar." - Minha mãe disse, olhando o manto de Sarah de novo, novo e personalizado. Está escrito "filha do príncipe" e eu achei tão lindo... - "O jogo tá como mesmo?"

"Se a gente ganhar tomamos a frente no Brasileirão, se o Galo ganhar toma o segundo lugar, e o Palmeiras que tá jogando no Allianz Parque ganhar vai se manter na liderança." - Eu respondi suspirando.

Na porta do camarote, tinha um cara de mais ou menos meia idade parado nos olhando. A minha mãe não notou, estava concentrada na Sarah, mas eu notei. E notei mais ainda porque quando eu me aproximei, ele começou a andar na nossa direção.

"Senhora Barbosa?" - Eu estreitei as sobrancelhas. - "Ou melhor dizendo, Yasmin Nogueira?" - Ele disse, e eu parei de vez. Como esse cara sabe meu nome?!

"Filha." - Minha mãe disse, paralisando também. A única coisa foi que ela realmente parou, branca feito papel.

"Oi." - Eu respondi baixo, cruzando meus braços.

"Oi." - Ele disse, sorrindo fraco e colocando as mãos nos bolsos das calças. - "Eu não queria aparecer dessa forma, eu sei que é um dia importante, um jogo importante, mas é muito difícil encontrar você e eu não tive outro jeito." - Se explicou.

Eu ri fraco de nervoso. Minha mãe negou com a cabeça várias vezes, trocando o peso de pé, e a Sarah não parava de se mexer no colo dela. - "Yasmin, me ouve. Vamos entrar." - Ela estava séria como eu não via há tempos na vida.

"O que tá acontecendo?" - Eu disse baixo, realmente sem entender mesmo o que estava acontecendo.

"Você conta ou eu?" - Ele disse, olhando pra minha mãe, e eu comecei a pensar em coisas que fizeram a minha cabeça explodir. Minha mãe negou com a cabeça e desviou dele, passando pra dentro do camarote com a Sarah no colo. - "Yasmin, eu sou seu pai." - Ele disse, olhando pra mim.

E o mundo começou a desabar nas minhas costas.

>> Oi vidas!! Quaaaaase não sai mas saiu! E aí, o que acharam do momento da Libertadores?

E essa reviravolta???? Tava planejada desde o início e eu tô muito anciosa 😍😍😍

Procuro Alguém - GabigolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora