CAPÍTULO QUATRO

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Você pode encontrar esperança no mais estranho dos lugares, nos cantos mais escuros. Segure-a com força, meu bem. Ela é sua e de mais ninguém.
Lemon Fair, a Rainha do Merengue

POV Christian

A Pérola Platinada estava lotada. Sentei-me na mesma mesa em que havia me sentado duas noites antes e pedi uma cerveja à garçonete.

– Sabe quando Crystal vai se apresentar? – perguntei.

A garçonete de cabelos negros que me trouxe a Miller Lite se inclinou mais do que o necessário para colocar a cerveja na mesa. Pareceu confusa quando sustentei o contato visual em vez de desviar meu olhar para os seios que empinara na direção do meu rosto, permanecendo naquela posição inclinada um pouco mais antes de voltar a se endireitar.

– Acho que é a próxima.

Meu coração bateu mais forte quando me virei para o palco, esperando que a música seguinte começasse. Ficara surpreso quando ela me ligou dizendo ter mudado de ideia. Surpreso e um tanto desnorteado. Fiquei pensando no que a fizera mudar de ideia. Imaginei o que a incitara a procurar pelo meu número e me ligar. Quase lhe disse que deixasse isso para lá, uma vez que eu mesmo já havia concluído que a ideia era terrível. Mas, assim que ouvi a voz dela ao telefone, não fui capaz de recusar. A verdade era que eu estava tanto assustado quanto animado, e isso era uma sensação divertida – uma que eu nunca sentira antes. Eu queria... mais. E pensei que, provavelmente, seria algo positivo para mim, o querer. Mas e quanto a ela? Eu voltava sempre a esse ponto.

As luzes piscaram e depois diminuíram, e a música começou, um ritmo grave de baixo que fez meu sangue fluir no compasso da música. Franzi a testa ao olhar ao redor. Havia uma festa de despedida de solteiro perto do palco, e eles praticamente caíam das cadeiras de tão bêbados que estavam.

Quando as luzes se acenderam de novo, Crystal estava sentada numa cadeira vestindo um minúsculo biquíni prateado com franjas na parte de cima e de baixo e um par de botas prateadas de cano alto. Eu estava tão concentrado nela que os uivos que surgiram a meu redor me sobressaltaram. Tomei um gole da cerveja e observei quando ela começou a dançar.

Os cabelos longos se moveram ao redor do belo corpo delgado enquanto ela dançava, e absorviam a luz, com uma cor que eu não me lembrava de ter visto antes – uma combinação de loiro, ruivo e castanho. Fez com que pensasse num feixe de luz através de um pote de mel. E havia tanto dele. Fiquei imaginando qual seria a sensação de percorrê-los com os meus dedos. O corpo se movia no ritmo da música, os olhos estavam fechados, aquela expressão distante e fria firme no lugar, parecendo tão imóvel quanto uma armadura.

Crystal. Não, não era cristal. Cristal é algo perfeitamente claro, transparente. Uma pessoa poderia enxergar através do cristal como se fosse vidro. Mas não através da garota ali em cima. Não era de cristal – nem perto disso.

Qual é o seu nome? O seu nome verdadeiro? Deus, como eu quero saber.

– Eu foderia essa boceta como uma britadeira! – um dos bêbados da despedida de solteiro exclamou, para delírio dos amigos, que gargalharam e ergueram os copos para brindar. Sua declaração lasciva me arrancou dos meus pensamentos. Ele se levantou e enterrou a virilha contra a cadeira numa imitação do ato sexual que acabara de descrever.

Aquela cena toda abriu um buraco dentro de mim que me deixou encolerizado e triste ao mesmo tempo. Levantei, largando uma gorjeta na mesa, e segui para os fundos para esperar. Virei no final do corredor onde esperara por Crystal da primeira vez e vi o leão de chácara, Anthony, sentado num banquinho.

– O que posso fazer por você? – ele perguntou no seu tom grave de barítono.

– Estou aqui para ver Crystal depois que ela terminar de dançar.

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