CAPÍTULO NOVE

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Psiu, querida. Sei que está doendo, mas o seu corpo sabe como se curar. O seu coração também.
Lemon Fair, a Rainha do Merengue

POV Christian

A sala de espera do hospital era suavemente iluminada e estava tranquila, exceto por mim. Eu estava sentado numa cadeira desconfortável revestida de vinil, apoiado na parede, com o olhar direcionado para o teto. A TV afixada na parede transmitia um desenho animado, mas o volume estava tão baixo que quase não servia nem para som ambiente.

Ouvi uma porta se abrir em algum lugar no fim do corredor e aprumei a cabeça, olhando para a entrada da sala de espera. Ouvi o estalido de saltos batendo no piso e, alguns segundos mais tarde, uma mulher que reconhecia da Pérola Platinada, cujo nome eu sabia ser Kate, invadiu a sala. Seus olhos estavam grudados em mim.

– Desculpe ter demorado tanto pra chegar. Alguma novidade?

Balancei a cabeça.

– Não, ainda não. Acho que ainda estão verificando os ferimentos dela. – Meu
coração se contraiu de novo, e esfreguei o peito como se isso fosse ajudar. Não conseguia tirar da cabeça a imagem do rosto dela surrado enquanto a levavam de maca para a sala de raios-X, o sorriso que curvou os lábios inchados e ensanguentados quando ela me viu. Ela tocara no meu rosto e eu mal notei, de tão abalado que estava ao ver o que lhe haviam feito. Ela me chamara de anjo. O horror em vê-la daquele jeito ainda atravessava meu sangue – deixando-me enjoado e tomado de fúria. Quando Kate me ligou, disse que os homens que atacaram Crystal fugiram quando Anthony saiu da boate, e ele tentara persegui- los, mas voltara para, em vez disso, ajudar Crystal. Deve ter sido uma escolha impossível para ele. Mas eu estava feliz por ele ter feito o que fez. E se deixá-la lá para ir atrás deles fosse a diferença entre a vida e a morte? Soltei o ar que prendia.

– Muito obrigado por me chamar, Kate.

Ela assentiu, mordendo o lábio e manchando os dentes de batom vermelho.

– Eu não tinha certeza se era a coisa certa a fazer, mas fiquei sentada com ela
enquanto a gente esperava a ambulância e, mesmo inconsciente, Crystal ainda segurava o seu número na mão. – Ela meneou a cabeça com tristeza. – Durante tudo o que aqueles caras fizeram com ela, ela não soltou. Ficou segurando o papel. Deve significar alguma coisa, não? E eu pensei... Bem, Crystal não tem muitos amigos. Mas, se ela não o quiser aqui, vai lhe dizer. Crystal sabe ser bem direta.

Consegui sorrir.

– É. Já notei isso.

Kate afundou numa cadeira. Eu havia dirigido direto para o hospital depois de receber a chamada dela e cheguei meia hora depois de eles terem trazido Crystal. Não sabia muitos detalhes sobre o ataque – só o que Kate me contara pelo telefone. Ela balançou a cabeça, e lágrimas se empoçaram nos seus olhos.

– Isso é horrível, simplesmente horrível – ela disse num som estrangulado. – Pobre Crystal. Ah, coitada da Crystal.

Olhei-a brevemente, imaginando se ela, essa mulher que parecia ser amiga da Crystal, sabia o verdadeiro nome dela. Não perguntei.

– Alguém da boate conhece os homens que fizeram isso?

Ela sacudiu a cabeça.

– Não os nomes, mas algumas das meninas conseguiram dar informações suficientes para a polícia dar continuidade à investigação. E Anthony fez uma descrição da caminhonete, apesar de não ter conseguido ver a placa.

Assenti. Ainda bem que o Anthony saiu naquela hora.

O médico que estivera junto da maca da Crystal quando cheguei entrou na sala, e eu me levantei rápido, com o coração aos pulos. Kate também, quando o médico veio na nossa direção.

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