CAPÍTULO VINTE E TRÊS

583 105 26
                                    




Tudo bem chorar.
É como o coração expressa sua dor.
Gambit, o Duque dos Ladrões

POV Christian

Ana parecia tão vulnerável – ainda mais do que antes – e eu parecia incapaz de fazer ou dizer qualquer coisa para confortá-la.

Chloe veio em casa para aplicar o teste de que precisava e odiei apressá-la, considerando o fato de ela ter se deslocado até Morlea, mas o modo como Ana olhava para nós dois juntos me preocupava. Ela nos observava com uma espécie de entendimento triste, quase de determinação pesarosa, que eu não compreendia muito bem o que poderia significar, mas achava que não era algo bom. Será que ela pensava que eu sentia alguma coisa pela Chloe? Eu sussurrava que a amava uma centena de vezes ao dia. "Só você." Ela não via isso nos meus olhos? Não sentia isso a cada batida do meu coração?

– Olá? – Taylor me chamou ao entrar no estúdio, carregando uma caixa.

– Oi, Taylor. – Virei e me aprumei, girando os ombros.

– Trouxe o pedaço de pedra que você queria. – Ele apontou para a caixa que deixou na mesa, próximo à porta.

– Obrigado.

Taylor se aproximou e observou o entalhe que eu estava quase terminando.

Passou a mão pela lateral.

– Está lindo. As borboletas parecem de verdade.

Sorri e dei de ombros.

– Espero que gostem.

– Elas vão amar. – Fez uma pausa, apoiando-se na mesa atrás dele. – Como
está Ana?

Franzi a testa de leve.

– Quer dizer, depois do festival?

– Isso, e também de forma geral.

Apertei os lábios e depois suspirei.

– Não sei, Taylor, ela parece tão... frágil. – Fiz uma careta. – Não sei muito bem como descrever.

– Você a transformou, Christian. Ela está tendo dificuldades para entender quem é agora. – Ele pareceu preocupado enquanto me avaliava. – Receio que talvez ela ache que não é ninguém sem você. Você se tornou o mundo inteiro dela.

Respirei fundo, pois suas palavras fizeram sentido. Elas feriram, mas eram verdadeiras. Uma parte minha queria ser o mundo inteiro dela, mas outra, mais racional, sabia que isso não seria bom para Ana.

– O que posso fazer?

– Eu a encorajei a aprender a se defender.
Pensei que isso a fortaleceria um pouco. Mas ela não voltou, apesar de eu a ter convidado. Acho que ela andou ocupada.

Ocupada. Comigo. Sorri, mas foi um movimento triste. Lembrei-me de Taylor me ensinando a dar socos depois que voltei para casa. Eu estava com quinze anos e passava horas na garagem dele, movendo-me ao redor do saco de pancadas, despejando minha raiva nele em vez de fazer isso com o mundo, em vez de fazer isso comigo. E isso ajudou. Mas foi apenas uma pequena parcela da minha recuperação.

– O que mais?

Ele balançou a cabeça.

– Ah, Christian, eu lhe diria, se soubesse.
Apenas... tente se lembrar de como se
sentiu naqueles anos depois que chegou em casa. – Ele se endireitou, sorrindo com suavidade antes de se virar e seguir para a porta.

– Obrigado, Taylor – agradeci. Fiquei ali sentado, refletindo sobre aquela época, pensando em como basicamente fiquei isolado, precisando aprender a confiar em mim mesmo de novo, como tive de redescobrir o meu lugar no mundo e como duvidei que ele existisse. Foi difícil e solitário, mas, puxa, foi necessário. E tive de me esforçar para conseguir. Ninguém poderia ter feito aquilo por mim, mesmo que tivessem tentado.

O melhor de você Onde as histórias ganham vida. Descobre agora