CAPÍTULO DEZ

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Veja! As flores estão desabrochando. Elas estão lindas, não estão? Consegue vê-las? Olhe com o coração. Você as vê?
Lady Anastasia dos Campos de Narcisos

POV Anastasia

Depois de ter concordado em ficar com o Christian, dormi durante grande parte do dia. Estava tão cansada e com tanta dor que só me senti capaz de apagar.

Quando um detetive apareceu na manhã seguinte para me interrogar a respeito do ataque, eu lhe contei tudo de que me lembrava e descrevi aqueles homens o melhor que pude. Senti-me entorpecida enquanto relembrava o ataque, como se ele tivesse acontecido com alguma outra pessoa.

No entanto, a realidade se assentou; eu não tinha como negar a gravidade do meu estado: meu corpo estava surrado e indefeso; meu espírito, completamente esmagado. Como foi que minha vida chegou a este ponto? Como foi que acabei tão humilhada e perdida, indo para a casa de um homem quase desconhecido, um homem que não conseguia entender, um homem que tanto me tranquilizava com seus modos gentis quanto me aterrorizava com seus olhos sábios? Entretanto, enquanto permanecia ali deitada, também admiti que ele era um homem em quem eu, de algum modo, confiava totalmente, embora não confiasse em homem algum. Nunca. Tudo aquilo era demais. Eu não queria pensar. Só queria dormir.

O médico me examinou às duas da tarde e pouco depois assinou os papéis da minha alta. Eu não tinha seguro-saúde e sabia que estava enterrada debaixo de uma montanha de dívidas da qual jamais conseguiria me desenterrar. Se ao menos eu tivesse pensado nisso antes de enfrentar os três animais que fizeram isto comigo. Quem era aquela garota? Ela parecia ao mesmo tempo imensamente corajosa e ridiculamente burra, e eu não conseguia me conectar com ela. Não conseguia me lembrar de quem era ela. Como se ela fosse uma mera sombra de mim mesma.

Kate me visitara pela manhã e me trouxera uma bolsa com mudas de roupas e artigos de higiene do meu apartamento. Depois me enviou uma mensagem de texto, quando eu estava sendo levada de cadeira de rodas, me dizendo que teve de entrar mais cedo no trabalho, mas que Christian estaria ali para me pegar.

Christian.

Por que ele estava fazendo aquilo? Por que cuidaria de mim, quando fui tão horrível com ele? Lembrei-me de ter acordado e de ver seu rosto sobre o meu enquanto era levada de maca pelo corredor do hospital, pensando naquela hora que eu estava no paraíso e que ele era um anjo. Mas, à luz do dia, havia algo de tão... imperturbável nele, algo determinado e sólido, a despeito da sua autoproclamada fraqueza. Ele era desconcertante e cheio de contrastes. Lindo e firme Christian, com seu sorriso tímido e seu toque hesitante. O homem que, titubeante, me ofereceu um ramalhete de flores e corou quando as rejeitei, mas que, depois, me disse confiante que eu iria para a casa dele. Quem era ele? O que queria comigo? Talvez fosse melhor deixar essa pergunta sem resposta.

Talvez ele tivesse mudado de ideia. Talvez acabasse não aparecendo. E tudo bem também. Eu... O que eu faria?

Você poderia ligar para o seu pai.

Não!

Deus, não. Nunca.

De todo modo, pelo tanto que eu sabia, ele bem poderia já estar morto.

– Pronta? – a enfermeira perguntou, virando a cadeira de rodas e me empurrando na direção do elevador.

– Sim – murmurei.

– Quem vem buscar você? – ela me perguntou com gentileza.

– Meu... amigo. Acho.

– Bem, então vamos esperar perto dos elevadores. Quer ligar para ver se ele vai se atrasar?

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