CAPÍTULO DEZESSETE

592 99 12
                                    



Você recebeu esse sofrimento porque é forte o bastante para resistir.
Shadow, o Barão do Ossinho da Sorte

POV Anastasia

Eu tremia tanto que mal conseguia respirar. Ai, meu Deus, o que eu fiz? E por quê? Eu não conseguia clarear as ideias. Sentia-me tão cheia de sofrimento e pesar que era como se tudo isso estivesse porejando da minha alma.

Eu só queria fazer o jantar e uma sobremesa para o Christian. Pensei que poderia fazer o que Chloe fizera com tanta facilidade – era só preparar uma refeição. Nunca cozinhei de verdade – só preparava coisas que podiam ser feitas no micro-ondas –, mas pensei que "não devia ser tão difícil assim". Uma simples refeição e uma sobremesa idiota. E então tudo começou a descer ladeira abaixo. Comecei pela torta, mas a massa ficou aguada e o merengue não deu certo, mas pensei: "Bem, pelo menos teremos o jantar". Daí queimei o macarrão, e eu nem sabia que isso era possível, e o pesto que eu batia no liquidificador explodiu e me atingiu em cheio.

Eu gritei, e a derrota e a infelicidade formaram um nó horrível no meio da minha garganta. Não conseguia fazer nada certo, nunca faria nada certo. Eu era tão inútil, e Christian dissera que me amava, mas eu não merecia isso. Chloe preparara o jantar e aquilo pareceu tão simples, tão fácil de fazer, mas não para mim.

Tínhamos ido ao supermercado, e todos olharam para mim com tanto desdém. Lembrei-me das palavras do Elliot, de como Christian merecia ter a vida que lhe fora reservada. Ficou claro que as pessoas na cidade não acreditavam que meu lugar fosse junto dele, e eu descartara isso. Mas então a torta, o jantar e todas as escolhas horríveis que fiz na vida, o fato de nunca fazer nada certo, nem uma coisinha, veio com tudo para cima de mim e...

– Oi. – A palavra soou suave, e olhei para trás, assustada com meus pensamentos maníacos e dolorosos. Christian me lançou um sorriso triste ao fechar as portas francesas que davam para o pátio, para onde eu me refugiara.

Dei-lhe as costas, abaixando os braços ao longo do corpo, incerta quanto ao que fazer, ao que dizer, sabendo apenas que ele me diria que fosse embora, pois não me queria mais ali. Mas ele faria isso de uma maneira educada, porque Christian era assim. Ele me ofereceria uma carona, me diria que não me preocupasse com a cozinha suja. E isso doeria, ah, como doeria, mas...

Senti-o se aproximar de mim, o corpo grande assomando sobre o meu, o calor dele permeando o frio que percorria minhas veias. Estremeci. Ele pressionou o corpo contra o meu, e inspirei rápido, surpresa quando seus braços me envolveram e me levaram para junto dele, que inclinou a cabeça para a frente de modo que sua bochecha ficou colada à minha têmpora. Fiquei imóvel ante o contato. Ah, Christian. Ele parecia tão firme, tão certo, tão confiante; e, apesar de eu estar nauseada pelo terror da minha confissão, algo dentro de mim se rejubilou com essa vitória dele. Ele estava me abraçando. Estávamos tão próximos quanto duas pessoas poderiam ficar, e não senti nenhuma hesitação no seu abraço. Fechei os olhos ante a intensidade do momento, e lágrimas surgiram e escorreram pelo meu rosto.

– Estraguei o jantar – sussurrei.

Senti seu sorriso acima da minha orelha.

– Eu vi.

Assenti, num movimento rígido contra o peito dele.

– A torta também.

– Também percebi isso.

– Ah.

Ficamos calados por um momento enquanto meu corpo parava de tremer, no abrigo cálido dos seus braços. Ele continuou a me abraçar enquanto minha respiração se acalmava.

O melhor de você Onde as histórias ganham vida. Descobre agora