CAPÍTULO VINTE E UM

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Somos uma equipe.
Se você sofre, eu sofro.
Racer, o Cavaleiro dos Pardais

POV Anastasia

As semanas se passaram sem mais nenhum contato da polícia. Deduzi que apenas estivessem cumprindo seu dever ao questionar Christian, apesar do modo como o fizeram e a menção à Pérola Platinada ter ao mesmo tempo me chocado e envergonhado. Olharam para o Christian como se ele fosse um pervertido, e nada poderia estar mais longe da verdade. Até mesmo eu havia percebido que ele não pertencia àquela boate no segundo em que o vi lá.

Os detetives distorceram os fatos de uma maneira que tornara Christian irreconhecível, e me enchi de raiva e de uma necessidade ardente de defendê-lo. No entanto, não havia nada que pudesse fazer.

Ele era tudo para mim. Se eu pudesse me arrastar para dentro da pele do Christian e viver lá, teria feito isso com muita satisfação. Eu me sentia mais completa quando ele estava enterrado dentro de mim, com os olhos fechados e os lábios entreabertos de paixão. Nenhuma outra mulher jamais provocou aquela expressão nele. Ela era minha e apenas minha. O sol nascia e se punha nos olhos dele, e eu estava tão apaixonada que não queria outra coisa além de passar cada minuto nos seus braços. Era só neles que eu me sentia completamente em paz.

Christian tinha todas as coisas que lhe traziam paz e alegria. Tinha seu trabalho, o amanhecer, o vento e as gotas de chuva na janela. Mas eu não precisava de nada disso. Para mim, ele era todas essas coisas – eu precisava dele e de nada mais.

Christian me pedira que ficasse em sua casa, então foi o que fiz. Deduzi que um dia teria de voltar ao meu apartamento, mas o nosso relacionamento era tão novo e tão maravilhoso que eu não queria passar um segundo longe dele. Felizmente para mim, eu não tinha que fazer isso, já que também trabalhávamos juntos.

Eu levava o telefone comigo sempre que possível e atendia aos telefonemas no seu ateliê, onde o observava trabalhar. Se o barulho e a distração atrapalhavam seu foco, ele nunca reclamou. Ele vinha trabalhando em outro entalhe arquitetônico para uma biblioteca na Alemanha, uma faixa folheada, como a chamava, que ficaria na frente de uma estrutura. Era linda, cheia de trepadeiras, com flores e borboletas. Se eu estreitasse os olhos, podia jurar que aquelas borboletas começavam a bater as asas, ganhando vida. Elas eram muito reais.

De vez em quando eu ficava no escritório com o Elliot e, embora eu o evitasse ao máximo, seu comportamento continuou frio. Na maioria das vezes, ele me ignorava, mas às vezes eu me sentia indefesa, em carne viva. Parecia que meu amor por Christian de alguma forma revelara as minhas partes mais sensíveis, e eu me sentia exposta, despida de uma maneira que não previ. Ou talvez tivesse previsto. Talvez fosse esse o motivo de eu ter resistido com tanto fervor. Mas agora... agora eu era como as obras de arte que o Christian criava: todos os cantos afiados foram desbastados de modo que minhas entranhas, as partes que me deixavam vulnerável e sensível, estavam do lado de fora, não mais enclausuradas sob uma camada dura de pedra. Era uma ironia que eu tivesse tirado a roupa para me sustentar e nunca tivesse me sentido mais nua do que estando totalmente vestida. Eu sentia como se apenas um olhar enviesado pudesse me fazer sangrar.

No passado me protegi do escárnio, mas, de repente, o desprezo do Elliot de alguma forma trouxe à tona todo o sofrimento por que passei, e eu não tinha nenhuma armadura para me proteger dessas lembranças. Estava completamente exposta. Quando Elliot olhava para mim como se eu fosse lixo, os nomes pelos quais fui chamada quando era stripper se repetiam bem alto na minha cabeça: puta ordinária, vagabunda barata, bunda gostosa. E isso ia mais fundo ainda, para os lugares na minha mente que eu não visitava havia anos – lugares sombrios e dolorosos que eu não queria ver nunca mais.

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