CAPÍTULO DOZE

629 100 26
                                    



Espere. Aguente firme.
O sol brilha para você também.
Shadow, o Barão do Ossinho da Sorte

POV Christian

Depois daquela manhã, aquilo se tornou um ritual. Ela se juntava a mim no pátio, mancando até a mesma cadeira, com seu café na mão enquanto o sol acolhia mais um novo dia. Eu a observava discretamente, enquanto seus olhos se concentravam no pequeno raio de luz dourada que crescia cada vez mais na linha do horizonte. Eu adorava a expressão no seu rosto – a reverência cautelosa –, como se não tivesse certeza se podia permitir a si mesma se apaixonar por alguma coisa bela, mesmo que fosse a aurora.

Às vezes doía observá-la, doía ver que era tão solitária, tão certa de que o mundo inteiro era um lugar perigoso para ela. Eu ansiava lhe mostrar que ele não precisava ser assim, mas, por enquanto, eu lhe ofereceria o nascer do sol e um lugar seguro para assisti-lo. Rezava para que algum dia, em breve, ela acreditasse ser merecedora dessa beleza.

Eu me assustava um pouco com o fato de apreciar tanto nossas manhãs juntos, porque sabia que estavam destinadas a acabar. Ela melhorava a cada dia, e logo iria embora.

Por uma semana ela esteve completamente dependente de mim. Tão doente que permitiu que a alimentasse e a mantivesse hidratada. Tão fraca que não podia protestar quando a amparei nas vezes em que a comida retornava. Tão suave que pensei que aquela mulher forte e resiliente, que não precisava de nada nem de ninguém, tivesse sido fruto da minha imaginação. E, por mais estranho que pudesse parecer, sentir-me necessário foi quase catártico.

Por doze anos, fui tratado como se eu pudesse me quebrar a qualquer momento. Ninguém precisava de mim. Mas Ana precisou, e isso me pareceu... certo. Bom. A despeito da sua fachada de aço, a alma dela era delicada, gentil. Embora eu deduzisse que ela provavelmente fosse odiar se soubesse o quão vulnerável estivera de verdade, caso se lembrasse do que me permitira ver enquanto delirava por conta dos medicamentos.

E, então, na manhã em que eu estava trocando as faixas das suas costelas, ela
estendeu a mão para tocar nas minhas, sobre os meus dedos. Tive uma sensação incoerente de angústia, mas, quanto mais ela me tocava, mais um anseio se elevava em minha alma, tão forte que roubou meu fôlego. Foi a primeira vez que gostei do toque de outra pessoa desde que era um menino. E, apesar de ainda ter sentido um pouco de medo, também senti um desejo inegável de mais. Quis sentir o toque dela de novo. Quis que ela ficasse. Quando ela fosse embora, desejava que ela quisesse voltar. Para mim. Nem que fosse para ver o nascer do sol...

Não minta para si, Christian. Está se apaixonando por ela. Talvez já esteja apaixonado.

Será? Apaixonar-se era isso? Uma espécie de alegria agonizante? Ou será que ela ia apenas tornar aquilo ainda mais difícil, e, apesar de eu estar ciente, simplesmente não me importava?

Anastasia.

Deus, senti que poderia desmaiar quando ela me disse seu nome. Qual seria a probabilidade de isso acontecer?

E o que era aquela atração estranha que me fazia sentir que pertencíamos um ao outro? Eu era um tolo? Se a resposta fosse sim, será que eu me importava o bastante para fazer algo a respeito? Não. De maneira alguma, ser um tolo com Ana parecia valer a pena. Mesmo essa dilaceração interna me lembrava de que eu estava vivo. Não só isso: eu estava vivendo. Estava me arriscando, seguindo o coração, disposto a arriscar ser ferido por uma garota despedaçada, temerosa demais para clamar qualquer coisa para si, ainda mais eu.

Ela vai magoar você, Christian. Sabe disso, não?

Sim. Sim, imagino que eu soubesse. E, mesmo assim, entrei de cabeça.

O melhor de você Onde as histórias ganham vida. Descobre agora