Capítulo 2

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O dinheiro tinha acabado há alguns dias, e o meu tão valioso piano e a minha espada de fato, não serviram oara nada

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O dinheiro tinha acabado há alguns dias, e o meu tão valioso piano e a minha espada de fato, não serviram oara nada. Eu esperava que algum dia acabasse, vi isso acontecer no decorrer dos dias em que os Archeron gastavam mais do que deviam mesmo na pior das misérias.

Isso me enfurecia. Eles não tinham dado nada e eu dei tudo; tudo que para eles não passou de apenas nada. Afinal, na opinião bastante clara de Vittorio, eu não estava fazendo mais do que apenas minha obrigação.

E agora, a propriedade bastante confortável em que vivíamos foi finalmente retirada pelas dívidas que nos afogavam aos montes, a única moradia que conseguimos depois disso, foi um pequeno chalé afastado da aldeia. De longe eu podia ver que não era confortável o suficiente para minhas irmãs.

Um arrepio frio subiu por meu rosto quando outra mecha do meu cabelo escuro voou com o vento forte, juntei minhas pernas com mais força, apertando as mãos ao redor do casaco. Minha cabeça doía lentamente após ouvir Nestha berrar por todos os livros que perdeu, Elain chorando como uma garotinha e me estapeando quando não pude a devolver o que queria, e Feyre, novamente, Feyre não me atacou, mas seu olhar; seu olhar vazio desde cedo, me atacava mais do que todas juntas.

Deixei meu rosto cair apoiado na minha mão gelada, os dentes trincados de raiva; aqueles olhares, como se eu pudesse resolver tudo, mas, eu não podia, não tinha mais piano, nem espada, joias ou vestidos, em algum lugar da bagunça meu arco e flechas também se perderam.

Não tenho mais nada.

Meus dedos se alegraram com o mínimo calor oferecido no bolso do casaco que eu usava, mas eu logo tirei, quando meus dedos tocaram no papel antigo.

Era um desenho bem mal feito, um cabo de espada que mais parecia um palito coberto por gravetos, e a lâmina, tão torta que foi um milagre o ferreiro ter entendido o que eu queria. Ah, mas ele entendeu, e me entregou uma espada perfeita. Eu me lembro de como o cabo era seguro em minhas mãos, e definitivamente não parecia só um palito coberto por gravetos. Era metal e aço, coberto por finas linhas de ouro, com minúsculas pedras vermelhas, e a lâmina, tão afiada, perfeita...

Então o piano, meu arco, as flechas que me demorei para aprender a fazer, vestidos, joias... Tudo foi tirado. O que mais eu poderia oferecer?

Eu me levanto devagar, dobrando e guardando o papel novamente no meu bolso, voltando para dentro com as mãos apertadas para aplacar o frio. Mas, não pude deixar de olhar toda a floresta ao nosso redor, observar as árvores e os esquilos que corriam nos troncos, ver e ouvir o som da água lenta que quase congelava; não tinha perigo. Quando entrei, entrei pensando que meus conhecimentos poderiam finalmente servir mais do que para apenas diversão.

Driblei meu corpo entre o espaço apertado da sala, me esforçando para não esbarrar em Nestha que agora estava tranquila lendo um dos poucos livros que restou, com Elain adormecida com a cabeça em seu colo. Eu levantei a perna para passar por cima de Feyre que esfregava um resto de tinta nas mãos, ela olhou para mim e sorriu, eu sorri de volta; ainda tinhamos algo.

Mas, eu voltei ao que queria, e quando levantei a cabeça, lá estava ele.

Vittório.

O pai das três Archeron e consequentemente meu pai adotivo. Ele encarava um ponto fixo, sério e rígido, existia algo como mágoa e raiva em seus olhos; magoa e raiva de culpa.

Eu segui seu olhar, minha garganta secando quando os olhos castanhos de Vittório saíram das meninas e subiu pelo meu corpo.

Tudo travou, menos meus pensamentos; milhares, inúmeros. Apertei as mãos em punhos, sentindo os cortes frequentes que se rasgavam na palma da mão: eu deveria ter percebido, eu deveria... Eu deveria...

Eu deveria matar.

Foi silencioso e limpo, e logo, Vittório estava preso na parede, ele ofegou em baixo dos meus olhos abertos e cheios de sentimentos cruéis. Minha mão se abriu e o vermelho do meu sangue manchou seu pescoço arfante, a sujeira em baixo das minhas unhas fincou dentro da carne, ele me encarou e sua garganta tremeu.

Eu sabia o que ele devia estar vendo. Ódio puro e letal, escorrendo de mim com grunhidos, vibrando em meu corpo dentro dos meus olhos dourados. Eu o segurei tão forte que senti que Vittório poderia derrerer.

— O que está fazendo? — Perguntei pausadamente. Minha voz saiu baixa, quase arranhada.

Foram tantos dias no silêncio.

— Nada — Vittório responde segurando minhas mãos em cima de seu pescoço.

A pele pálida começa a ficar vermelha. Sem fôlego, quase sem vida, virando roxo, se transformando em medo.

Eu o solto, recolhendo minhas mãos trêmulas, sabendo que meus olhos deveriam estar arregalados de pavor; eu o mataria... Eu teria o matado. Eu tinha que fazer mais, eu podia fazer mais.

— Vou levá-las para longe.

— E onde ficarão? — Ele abaixou a cabeça. — Nem alimento temos nesse inverno longo, para onde irão se não antes morrerem no frio?

— São suas filhas... Como ousa? Você é desprezível.

Vittório tosse, arfando pela boca.

— Tenho minhas necessidades.

— Suas necessidades podem esperar — eu digo me virando de costas, minhas mãos que há pouco seguravam a garganta dele agora seguram a minha. Estou com medo. — São crianças, suas filhas, sangue do seu sangue.

Ele fica em silêncio, seu silêncio é ensurdecedor enquanto olho para as meninas na minúscula sala.

— Mas, você. Você não é minha filha.

Sim...

Eu me viro, tomando um fôlego que eu não tinha antes de falar:

— Você está certo. Eu não sou.

•••

O cheiro de mofo fazia meu nariz arder, a umidade deixava meu corpo desconfortável nesse chão, fazendo meu corpo estremecer não só de nojo, mas se todos os sentimentos ruins no mundo.

A porta velha do porão bateu, e assim eu soube que ele saiu desse lugar sujo.

Eu puxei a camisa, rasgando com os dentes um filete de pano, estremecendo ao ver o vermelho de sangue; resquícios de algo que me foi tiraro. Eu terminei logo, e me levantei, vestindo as roupas com rapidez, trajando meu corpo com uma armadura que esconderia minhas dores e me faria ter coragem.

Meus pés se moviam, eu sabia que estava andando, sabia quando senti o frio tocar minha pele exposta pelo rasgo da camisa; não importa. Desejei matar Vittório, a cada segundo eu desejei, mas, o que eu seria? O que minhas irmãs veriam em mim? Treinei para ser uma caçadora, mas não uma assassina, nunca.

Ainda podia sentir o olhar de Nestha que queimou minhas costas quando caminhei para fora. Aquele olhar, o olhar de nojo que desenhou seu rosto; não importa. Eu continuei andando.

Algo molhado escorreu por minhas mãos, lágrimas quentes desceram de meu rosto até o sangue do coelho morto que manchava minha pele. Meus joelhos cederam, eu caí, apertando oa dois coelhos em minhas mãos trêmulas, soluçando com a dor que assolava minha mente, quebrava e partia minha alma.

Eu sou uma muralha, que nunca caiu. Mas hoje, eu caí. Encostada naquela árvore, com aqueles dois corpos felpudos e mortos em minhas mãos, o sangue que para sempre mancharia meu ser.

Cada lágrima que lembrava de que eu estava viva, o sangue me lembrava de que eu ainda respirava. A cor me lembrava que eu ainda estava aqui: estou aqui... Eu estou aqui.

Hoje eu quebrei nessa floresta nevada, mas eu me levantei e sequei minhas lágrimas. Limpei minha dor com sangue.

Eu me reconstrui. Eu sempre iria me reconstruir.

A Quarta Archeron | ᵃᶻʳⁱᵉˡDär berättelser lever. Upptäck nu