Capítulo 13

2.6K 426 72
                                    

Antes de acordar, eu já sentia a brisa fria da manhã, e ao abrir os olhos, encarei a floresta nevada que me cercava, a nuvem funda e cortante que ficava debaixo do meu corpo, pisquei algumas vezes, afastando a ardência e movi os braços, logo percebi que ainda tinha duas crianças sobre mim, se agarrando ao meu corpo como uma barreira.

Levantei a cabeça e encontrei Deimos já de pé, o garanhão preto farejava a bolsa de couro, provavelmente a procura de mais alguma coisa para comer, com um pouco de esforço, me levantei com o apoio da árvore, sentindo apenas uma leve fisgada na perna e no quadril.

Toda a extensão da minha perna estava formigando, uma noite inteira sem move-lá deixava toda situação mais irritante, mas eu tinha que andar e continuar como se não existisse. Depois de oferecer uma maçã à Deimos, o puxei para onde tinha grama se sobressaindo da neve. O sol ainda não podia tocar minha pele, muito menos me aquecer, mas eu podia assistir as nuvens através dos longos e retorcidos galhos, olhando para baixo, visualizei meu pé por cima de uma pegada monstruosa, meu corpo sentiu um súbito arrepio de desgosto, meu olhar seguiu o caminho que ficou marcado na noite passada, resquícios de fuligem e dor, imaginei o futuro monstruoso que aguardava a garota.

Claire Bladdor. Uma verdadeira dor recaiu sobre meus ombros, antes que toda a miséria caísse sobre nós, quando eu ainda era uma jovem da alta sociedade, agraciada por beleza e riqueza, na época, eu ainda era considerada uma pretendente à altura de muitos, nunca me esquecerei de como me desejavam talvez como uma esposa e as vezes, como uma amante. Isso me abriu caminhos, era incomum uma dama com minha aparência, a postura altiva e atrevida, o olhar fugaz de mel e ouro, a escuridão que marcava meus cabelos e a palidez atraente que tocava minha pele. Isso e as riquezas abriram o caminho, para colegas ricas e na mesma proporção que eu, mesmo que fossem só colegas, mesmo que eu sempre soubesse que nunca tive amigas... Claire Bladdor era diferente, ingênua e inocente.

Profundamente, eu desejava que todas as criaturas morressem e que o culpado por Claire ser levada, pague a dívida. Eu cobraria... Mancharia a dívida com sangue.

— Não tenho muitas opções para vocês. — Me virei assim que ouvi os bocejos, tendo em vista duas crianças que me encaravam com expectativas imensas.

— Você quer que a gente vá embora? — Gregory perguntou piscando suavemente.

Apertei os olhos na direção dele. Sim, eu queria que fossem embora e foi por isso que os mandei voltar no dia anterior, esse pequeno demônio sabia disso.

— A floresta é perigosa — avisei.

— Todo lugar parece perigoso agora — Greta murmurou com os ombros caídos.

Abri a boca para responder, repreender aquele olhar de derrota. Eu tinha um fraco por crianças? Não, talvez eu só estivesse acostumada a ceder para olhares angelicais. Mas, se eu os aceitasse, ambos colocariam uma confiança em mim que eu não saberia dizer quanto tempo levaria para vir uma decepção.

— Meu destino é para além da muralha, temo não conseguir proteger vocês.

— Prometemos que a obdeceremos — Gregory disse juntando as mãos. — Não é, Greta?

— Sim — respondeu, se juntando ao  irmão. — Só não queremos ficar sozinhos de novo.

Prendi a respiração ao assentir silenciosamente. Eu esperava não me arrepender disso.

××××

Puxei as redeas presas a Deimos, o fazenso andar com as crianças  encolhidas e quietas em seu lombo. Com o tempo e a aproximação da grande muralha, o silêncio logo se tornou ensurdecedor, assustador e mortal, ainda seguiamos as pegadas profundas na neve e parte de mim agradecia por isso guiar meu caminho desconhecido.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 17, 2023 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

A Quarta Archeron | ᵃᶻʳⁱᵉˡOnde as histórias ganham vida. Descobre agora