∿ 𝟏𝟓º 𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 - 𝟐

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Amanhã já é véspera de natal 🌲✨🙌 e hoje eu estou cheia de clientes... To fazendo duas ao mesmo tempo pra não perder dinheiro kkkk enquanto prancho uma, deixo produto agir no cabelo de outra e assim vai que vai. Temos que dar um jeitinho, né? Vou cear na minha mãe, pena que Maria não vai 😟 primeiro natal que passamos sem ela. Tia Sônia tá com o Noah porque a Ritinha não podia ficar com ele hoje. Renan vai ficar comigo mas, depois de meia-noite ele vai pra casa dele e depois pro baile; ainda to decidindo se vou ou não pro baile mas, Nat com certeza vai me arrastar 😑 Consegui terminar meus cursos e só vou esperar o carnaval passar pra começar a divulgar meus serviços e procurar um salão que faça... ou até aqui mesmo, perguntar se a Bebiana - que é a dona daqui - quer começar a fazer depilação. São dez e vinte e ainda estou com cliente 😞 to com tanto sono, tanta dor nas pernas, pés inchados 😓 Meu celular começou a tocar e eu fui atender, era número desconhecido.

Joyce: Oi?
Xxx: Joyce? - Franzi o cenho - Joyce, sou eu, Foguete.
Joyce: Ah! Oi! Que foi?
Foguete: Maria tá no hospital, sofreu um acidente. - Arregalei os olhos e levei minha mão à boca na hora - Já levaram ela, ela sangrava e estava apagada. - Ele falava desesperado e eu já chorava-
Joyce: Aonde vocês estão? - Perguntei, falhada -
Foguete: Miguel Couto.
Joyce: Que caralho, Foguete.
Foguete: Não tive culpa, porra.
Joyce: O que aconteceu?
Foguete: Ela foi atropelada.
Joyce: Merda! Eu não posso ir praí.
Foguete: Eu te deixo informada.
Joyce: Por favor. Beijos
Foguete: Beijo


Coloquei o celular no balcão, as mãos no rosto e respirei fundo algumas vezes. Neguei com a cabeça e voltei a fazer o cabelo das meninas. Queira Deus que ela não fique com nenhuma sequela e que não perca o bebê.

• 𝑭𝒐𝒈𝒖𝒆𝒕𝒆 𝒏𝒂𝒓𝒓𝒂𝒏𝒅𝒐

Tava estacionando a moto quando ouvi um burburinho e uma freada; Desci da moto e fui até a esquina ver o caô; chegando próximo percebi que era a Maria caída no chão. Me desesperei e corri até ela, ajoelhando ao seu lado. Ela sangrava e já estava desacordada. Peguei ela no colo e coloquei dentro do carro que atropelou ela; o cara deu partida voado e em tempos já estávamos no hospital. Nem precisei fazer show nenhum que logo já vieram socorrer ela. Fiquei papo de meia hora andando de um lado pro outro esperando uma resposta e nada. O cara que atropelou ela já tinha metido o pé mas, antes tinha deixado o número caso Maria precisasse de alguma assistência. Lembrei da família da Maria e resolvi ligar pra Joyce, foda 😓 Já tinha bebido uns quinhentos copos de água, de café, umas latinhas de coca e nada. Toda hora ia falar com uma enfermeira pra saber do caso e ninguém sabia informar. Tava sentado, dando uma cochilada quando me cutucaram o ombro; levantei na hora e perguntei sobre a Maria. E as notícias a seguir fizeram meu coração dar uma parada, minha respiração falhar e minha visão desfocar. Nunca me imaginei nessa situação e nem sentindo o que eu estava sentindo. Eu tinha perdido o meu filho. Maria tinha perdido o nosso filho. Eu caí sentado no banco e meu rosto foi tomado pelas lágrimas numa rapidez absurda. O bebê não reagiu, a pancada tinha sido forte demais, ela já não tinha uma gravidez muito tranquila, nem saudável e esse acidente só ajudou a fazer com que o bebê, o meu bebê não aguentasse esse trauma. Ele já ia nascer, Deus. Por que? Por que? Ele já ia nascer. Meu garotão já ia nascer. Eu chorava de soluçar, meu coração doía; Minha cabeça parecia que ia explodir. Eu tava arrasado, papo reto. O médico lamentou, me falou algumas coisas necessárias, disse que Maria ficaria em observação, disse que ela não sabe pois ainda não tinha acordado, disse pra ter paciência e cautela ao falar com ela e que eu já podia ir vê-la. Respirei fundo e levantei. Apertei a mão dele e segui pelo enorme corredor, chegando no quarto em que Maria estava. Ela estava deitada, com uma máscara de ar, cabeça de lado, mãos e pés esticados; tinha a respiração lenta e estava com alguns machucados no rosto. Me aproximei dela, toquei sua mão e dei alguns beijos em seu rosto e mãos. Alisei seu rosto com cuidado e tentava abafar o barulho do choro. Eu parecia uma criança com medo, uma criança chorona com medo. Abaixei a cabeça na cama depois de sentar em uma poltrona ao lado da cama. Neguei com a cabeça e sussurrei confrontando Deus; qual a razão dele nos conceder o bebê e logo nos tirar? É alguma prova? Algum simulado? Teste? Eu falhei! Falhei, não sou forte, não aguentei e estou aqui derrotado. Desde o momento em que a Maria me contou que estava grávida eu festejei. Eu queria essa criança, eu queria. Compactuei com o aborto porque ela estava desesperada, arrasada, assustada e ela tem o direito de escolha mas, eu sempre o quis e agora, agora não o tenho mais; não pude pegá-lo no colo e nem dar um abraço, checar com quem parecia... Isso é castigo, não é? Castigo por eu ter aceitado abortar ele. Eu mereço. Tá certo, eu errei. Mereço essa punição. Levantei e fui ao banheiro, joguei uma água no rosto e voltei ao quarto. Passei a noite aqui e eu não avisei a ninguém nada. Nem respondi ninguém. Eu queria ficar na minha, não quero dar satisfação e nem encarar cara de pena pra cima de mim, nem agradecer os lamentos. Ninguém entende! Não preciso de lamento nenhum... Só queria o meu mlq comigo. Mas... Deus sabe, não é? Ele tem que saber o que faz. Eu fiquei acordado a noite inteira, esperando por uma reação da parte da Maria mas, nada. Quando foi de manhãzinha uma enfermeira entrou no quarto pra fazer alguma coisa e eu fui à cantina como ela tinha me pedido. Comprei um sanduíche e um suco; Fiquei mofando ali naquele lugar, encarando o nada com a visão desfocada e as lágrimas rolando pelo meu rosto. Eu não to aguentando isso. Meu celular começou a tocar me tirando de meu momento de vegetação e atendi sem emoção nenhuma, sem checar quem era.

𝑮𝒓𝒂́𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒂𝒐𝒔 𝟏𝟔حيث تعيش القصص. اكتشف الآن