∿ 𝟏𝟗º 𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 - 𝟖

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Ela passou as mãos no rosto. Eu estava sentindo a aflição que ela sentia por mim, eu sentia a pena que eles sentiam. O que eu poderia fazer? A culpa era toda minha disso tudo estar acontecendo. Ninguém tem o porquê de se meter, eu sou a única que tem que dar um basta. Quase não dá pra suportar, mas dá. Eu nem choro porque é daquelas tristezas que o choro sai em berros e eu ainda estou na frente deles, não posso berrar assim, do nada. E nem resolveria. Nada resolve. Triste. Só isso. Ninguém vai morrer e nem eu. Às vezes o dom de alguém é cuidar do outro... o do Formiga é machucar aquele que lhe cuida. E bom, eu quem não quis enxergar antes, né? Sempre foi assim... Sempre foi esse ciclo de me render às suas investidas depois dele me deixar em pedaços; com palavras ou com socos e tapas. Dor é beliscão da vida pra gente saber que fez coisa errada. Lembrete. É incômodo. As vezes é na cabeças, as vezes é na barriga, as vezes é na alma mesmo. Pode ser física ou emocional. Remédios as vezes mandam embora mas dormir sempre resolve. Não é vilã, é só uma mensageira mal encarada. Maria e Foguete conversavam lá fora e eu colocava o Noah pra dormir. Eu estava cansada mais não conseguia dormir. Assim que o Noah dormiu, chamei eles pra entrar e nos sentamos à mesa. Conversamos algumas coisas e eu os implorei pra não contar nada pra ninguém. Não enquanto eu estivesse aqui ainda. Eu arrumaria um jeito de ir embora o mais rápido possível, se bem conheço o Formiga, não demoraria muito pra ele aparecer por aqui e eu espero, de verdade, conseguir sumir antes disso.
Foguete sugeriu ir embora e eu quase ajoelhei pedindo que ele ficasse. É claro que ele não entraria na frente de mim caso o Formiga voltasse a apontar a arma pra mim mas, talvez, ele não tentasse com eles aqui... talvez. Pedi o celular da Maria emprestado e mandei uma mensagem pro Renan avisando que estava sem celular, não contei o que realmente aconteceu, apenas que ele quebrou. Não quero preocupar ele. Antes de eu sair do facebook, vi uma postagem da Fiorela. Será que... Não custa tentar. Cliquei em enviar uma mensagem pra ela e pensei mais um pouco. Será que envolvo ela nisso? Será que ela correrá algum risco? Não. Não acontecerá nada, ela nem é daqui. Cocei a cabeça e comecei a digitar, respirei fundo e por fim, enviei triturando as peles da boca rs

"Boa noite, Fiorela. Sem querer te incomodar mas já incomodando rs Eu estou com alguns problemas com o pai do meu filho e preciso muito, muito sair daqui. Preciso de um lugar pra ficar por um tempo, até eu conseguir me estabilizar e então, alugar um lugar pra mim e pro meu neném. Nós não lhe daremos trabalho. Eu vou chegar e correr atrás de um emprego. Ajudo nas despesas e com o que precisar. Não se sinta na obrigação ou coisa parecida pra aceitar. Fique à vontade para se recusar. Um beijo. Fico no aguardo."

Eu batia os pés nervosa e ansiosa. Quanto tempo levaria pra ela ler essa mensagem? Me arrependi de ter enviado uns minutos depois mas logo me convenci de que nada demais tinha acontecido em pedir ajuda a uma amiga que tanto frequentou minha casa, que já foi parte da família. Enfim, o que eu sei é que não posso continuar aqui, a mercê disso. Nem eu e nem meu filho merecemos isso. Entrei no navegador e comecei a pesquisar pensões que aceitassem crianças, quartos para mulheres com filhos, qualquer coisa me serviria. Que fosse barato, claro. Acabei achando um quartinho que fica em São Conrado. Não era barato mas era um dos mais em conta e disponível. Anotei o endereço e fui fazer as minhas malas e do Noah. Lembrando de levar apenas o básico e necessário. Não daria pra sair daqui com tudo, mesmo não sendo muito, sem ter certeza pra onde ir. Maria e Foguete já tinham apagado e aos poucos eu fui vendo o dia clarear. Preparei um café e uma vitamina pro meu neném. Tomei um banho, me vesti, penteei o cabelo, tomei o café, anotei um recado pra Maria, dei um beijo no Noah e saí de casa colocando um óculos escuro. Eu ainda não tinha me olhado no espelho mas sabia que bem eu não estava. Caminhei sem levantar a cabeça, mesmo que não seja muito movimentado de manhã, eu não queria encontrar com olhares de penas pra cima de mim. Cheguei no salão rápido e esperei pela Bebiana que chegou uns minutos depois. Ela me encarou com os olhos arregalados e eu respirei fundo, desviando a mirada. Ela abriu o salão logo e então, nós entramos. Ela deixou a bolsa no balcão, me fez sentar e sentou à minha frente.

𝑮𝒓𝒂́𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒂𝒐𝒔 𝟏𝟔Where stories live. Discover now